Uma investigação conduzida pela Mercy For Animals em uma granja da Naturovos, de Salvador do Sul, aponta uso irregular de um produto que contém a substância tóxica Clorpirifós. Segundo a Mercy, o produto é aplicado diretamente sobre galinhas e ovos. A investigação diz ainda que animais vivem em gaiolas de metal sem espaço adequado, e que seriam manejados de forma truculenta durante o transporte.
Conforme a Mercy For Animals, listado para reavaliação pela Anvisa, podendo até mesmo vir a ser proibido, o Clorpirifós é considerado altamente tóxico. Na bula do ectoparasiticida Colosso Avicultura, o fabricante adverte para “não pulverizar os aviários com aves alojadas.” Em seguida, acrescenta: “A utilização do produto em condições diferentes das indicadas neste rótulo-bula pode causar a presença de resíduos acima dos limites aprovados, tornando o alimento de origem animal impróprio para o consumo.”
Em relação as gaiolas utilizadas, a Mercy For Animals entende que as condições de vida dos animais documentadas na investigação são inaceitáveis, e pede para que a Naturovos anuncie um compromisso de eliminar as gaiolas em todas as suas operações e que implemente medidas significativas para reduzir o sofrimento das galinhas.
O conteúdo da investigação foi entregue junto a denúncias ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, no dia 10 de novembro. A acusação também foi apresentada ao Ministério Público Federal e Estadual, no dia 11 de novembro. Segundo a assessoria do MP do Estado, o caso já está com o Ministério Público de Montenegro e recentemente foi instaurado expediente para investigação da denúncia.
Em nota, a Naturovos informa que há mais de três anos trabalha para mudar processo produtivo e eliminar o sistema de confinamento das aves. A empresa diz que no Brasil, este sistema responde por 95% da produção de ovos, mas informa que quer contribuir para modificá-lo, e que essa é uma prioridade para os próximos anos. A meta é de que em nove anos 100% da produção de ovos sejam proveniente de galinhas livres, eliminando o sistema de gaiolas.
Sobre o uso de pesticidas, a Naturovos diz que mesmo com laudos das auditorias internas e externas e das fiscalizações que são regularmente feitas, ao longo dessa quinta-feira, 26, foram realizadas novas análises. A empresa recebeu órgãos fiscalizadores, foram coletadas amostras e intensificado o monitoramento em todas as unidades produtivas.
Nota da Naturovos
“Desde quarta-feira, 25/11, estamos acompanhando a denúncia sobre irregularidades praticadas em unidade produtiva da nossa empresa. Os dois pontos levantados: uso inadequado de pesticida e maus tratos no manejo dos animais nos mobilizaram para apurar os fatos, uma vez que são aspectos que cuidamos muito em nosso dia a dia.
A Naturovos é uma marca séria e comprometida com a qualidade dos alimentos. São mais de duas mil pessoas envolvidas direta e indiretamente na produção. Por respeito a cada uma delas, toda nossa equipe técnica e nossas lideranças estão mobilizadas para revisar os processos e esclarecer as denúncias.
“Há mais de três anos trabalhamos intensamente para mudar nosso processo produtivo e eliminar o sistema de confinamento das aves. Sabemos que no Brasil, este sistema responde por 95% da produção de ovos, mas queremos contribuir para modificá-lo”, afirma o Diretor Comercial, Anderson Herbert. Essa é a prioridade da empresa para os próximos anos: ter 100% da produção de ovos proveniente de galinhas livres.
Já sobre o uso de pesticidas, mesmo com laudos das auditorias internas e externas e das fiscalizações que são regularmente feitas, ao longo da quinta-feira, 26/11/20, a equipe técnica da empresa realizou novas análises. “Recebemos órgãos fiscalizadores, coletamos amostras e intensificamos o monitoramento em todas as unidades produtivas”, afirma Herbert. A Naturovos informa que todos os produtos utilizados são autorizados e adequados para promover o conforto e a qualidade do ambiente dos aviários.”
Proibido em diversos países
O Clorpirifós é proibido em todos os 27 países membros da União Europeia desde 31 de janeiro de 2020. Nos Estados Unidos, o Clorpirifós já foi proibido no Havaí (1 de janeiro de 2019) e em breve o será também na Califórnia (31 de dezembro de 2020). No Canadá, a discussão sobre a proibição está em andamento. Na Tailândia, o Clorpirifós foi proibido em 1 de junho de 2020. No Reino Unido, a substância é proibida desde 2016.
Segundo relatórios da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e da Autoridade Europeia para Segurança dos Alimentos (EFSA), não há níveis seguros de exposição ao Clorpirifós, que afeta o sistema nervoso e pode provocar problemas de desenvolvimento cerebral em humanos. Nas palavras da Academia Americana de Pediatria: “Há uma série de estudos que demonstram os efeitos prejudiciais da exposição ao Clorpirifós em fetos em desenvolvimento, bebês, crianças e mulheres grávidas.”A substância ainda é associada ao desenvolvimento de condições de saúde como o autismo e a síndrome de Parkinson, segundo informe técnico da ONG europeia Health and Environment Alliance (HEAL).