PREVISÃO do MP é enviar processo ao Judiciário na próxima semana
“Toda aquela história de superação não passa de uma mentira. Por experiência própria eu digo: não vai passar. A única coisa que vai acontecer é que vamos aprender a conviver com a saudade e com a dor.” A frase da jovem Gabriela de Oliveira, 22 anos, se refere ao sentimento da família de Thaiane de Oliveira, agente de saúde de Capela de Santana, assassinada aos 29 anos de idade pelo companheiro, o policial militar Perci Brietzke. No sábado, 24 de julho o crime completou dois anos, e até agora a família aguarda que seja feita justiça. O Ministério Público explica o motivo da demora e revela que o processo dever ser encaminhado ao Judiciário a partir da semana que vem.
A investigação do caso começou ainda na madrugada do crime (24/07/2019). O local passou por perícia técnica, celulares da vítima e do autor do disparo de arma de fogo que a matou foram recolhidos para análise. Ainda naquele ano foi também feita a reconstituição da cena do crime. No final do primeiro semestre de 2020 a Polícia Civil concluiu o inquérito e o encaminhou para distribuição no Ministério Público de Portão. Parecia que a situação se encaminhava para um desfecho, só que isso não ocorreu.
O primeiro promotor a tomar conhecimento do conteúdo do inquérito foi Pietro Chidichimo, que permaneceu com o caso até novembro de 2020. Segundo Lucas Schacht, advogado da família de Thaiane, quando o inquérito foi encaminhado ao fórum, faltavam documentos importantes, como o laudo da perícia dos celulares – que aguardava conclusão do Instituto Geral de Perícias (IGP). Esse teria sido o principal motivo pelo qual o MP não concluiu a análise. “A partir do momento que foram aportados os laudos, em março deste ano, foi feita redistribuição, esses autos foram remetidos para o Ministério Público de novo. Ele (MP) recebeu o material no dia 21 de julho”, explica o advogado.
Atualmente, o processo encontra-se sob análise da promotora Cristine Zottmann, da Promotoria de Justiça de São Sebastião do Caí. Conforme a promotora, a valiação já tem sido feita há alguns dias. Porém, considerando a gravidade do fato e as peculiaridades do caso, há demora maior para verificar toda a situação apresentada.
A promotora garante o compromisso de avaliar de forma minuciosa as provas apresentadas, para com isso, de forma segura, tomar sua decisão. “A condição profissional do investigado, e a forma como os fatos aconteceram, trazem um olhar especial da comunidade ao caso. Porém, cabe ao Ministério Público manter a isenção e se manter adstrito às provas existentes, de modo a situação pessoal dos envolvidos não venha a influenciar, positiva ou negativamente, na tomada da solução”, acrescenta Cristine. “Em uma situação tão delicada como esta, com conflito entre versões, e que pode implicar na imputação de um crime extremamente grave a um indivíduo, todas as cautelas precisam ser tomadas”, completa.
Sobre a demora para o andamento do processo, a promotora diz ainda que não é ignorada a necessidade de que haja o apontamento de uma solução para o caso, até porque cada uma das partes envolvidas tem o desejo de ver a questão solucionada. “A ação do MP trará uma resposta para a família da vítima, mas também para o próprio investigado, que precisa ter sua situação definida. A intenção é que até semana que vem o processo seja devolvido ao Judiciário com a manifestação que se entender pertinente”, conclui a promotora.
Relembre o caso
Thaiane de Oliveira foi atingida no peito por disparo de arma de fogo efetuado por seu marido, o PM Perci Brietzke, durante a madrugada de 24 de julho de 2019. O crime ocorreu no bairro Arrozeira em Capela de Santana. Perci alega ter confundiu a mulher com um invasor.
Naquela noite, a energia elétrica do imóvel estaria desligada para evitar riscos com raios, já que havia instabilidade climática. Ao ver um vulto, o homem teria falado algo, mas como a pessoa não disse nada, ele acabou atirando, e acertou o peito de Thaiane de forma fatal.
Thaiane faleceu logo em seguida. Perci foi encaminhado para atendimento médico, por ter entrado em surto.