RISCO. Jovens têm acesso à droga cada vez mais cedo
O isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus alterou, de modo geral, a vida da população mundial, incluindo o happy hour – aquele momento no final do dia, depois do trabalho, no qual as pessoas se encontram para desabafar e tomar “um chopinho”. Mas, os bares fechados não diminuíram o uso de álcool. Uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) feita entre 22 de maio e 30 de junho do ano passado, com mais de 12 mil pessoas de 33 países da América Latina e Caribe (30,8% brasileiros), confirma a intensificação no consumo de álcool. A situação é preocupante e levanta um alerta sobre os danos provocados pela bebida na saúde e na vida social dos cidadãos, principalmente dos mais jovens.
Antes da pandemia, Ana Silva, de 38 anos, bebia esporadicamente aos finais de semana, em encontros familiares ou com amigos. Nas primeiras semanas da quarentena, quando passou a ficar em casa com os filhos, não notou mudança quanto ao consumo de bebidas. Contudo, o período de isolamento se estendeu, além do imaginado por ela, e vez ou outra, durante os dias de semana, Ana passou a tomar uma cerveja para ajudar a relaxar. Com o passar dos dias, a cerveja foi trocada por uma caipirinha – que passou a ter sabores variados. O menos importante era o gosto da fruta, para ela, o prazer estava no consumo do álcool.
Assim como Ana, na pandemia, muitos brasileiros se viram diante da possibilidade de beber na hora que quisessem, independente do dia ou local. A facilidade associada ao momento de estresse causado pelo isolamento social, contribuiu na elevação dos números relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas, é o que aponta a pesquisa da Opas.
Segundo a publicação, 35% dos entrevistados com idades entre 30 e 39 anos relataram aumento na frequência de um comportamento chamado de beber pesado episódico (BPE). É aquele porre com cinco ou mais doses de bebida alcoólica. Isso significa tomar mais do que 1,7 litro de cerveja, 750 mililitros (ml) de vinho ou 225 ml de destilado em uma única ocasião. O relatório também aponta as bebidas preferidas dos confinados: cerveja (48,7%) e vinho (29,3%).
Logo no início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu que os governos controlassem a venda de bebidas durante o período de isolamento social. Calcula-se que 3 milhões de mortes por ano no mundo sejam relacionadas diretamente ao abuso de bebidas. O tema preocupa, e não é de hoje.
Álcool chega cada vez mais cedo aos jovens
A ingestão precoce de álcool é a principal causa de morte de jovens, de 15 a 24 anos, no mundo. O dado está no Guia Prático de Orientação sobre o impacto das bebidas alcoólicas para a saúde da criança e do adolescente, organizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
De acordo com o estudo, 40% dos adolescentes brasileiros experimentaram álcool entre 12 e 13 anos, em casa. Entre adolescentes de 12 a 18 anos estudantes da rede pública e privada de ensino, 60,5% declararam já ter consumido álcool. Durante entrevista à Rádio Ibiá Web, o membro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), tenente-coronel da Reserva da Brigada Militar e bacharel em Direito, José de Jesus Cirne da Silva falou sobre a necessidade da atenção ao consumo precoce de bebidas alcoólicas.
“O início do uso do álcool no Brasil, infelizmente, está cada vez mais precoce. Nós temos pesquisas indicando a iniciação de crianças de 12 anos e meio no consumo de bebidas. O jovem tem baixa percepção de risco, logo, ele não tem noção exata das consequências”, avalia. Mas como esses jovens têm acesso à bebida? “Muitas vezes por negligência dos pais, que guardam esse tipo de material ao lado do leite na geladeira. Na família, um dos maiores ensinamentos é o exemplo do pai e da mãe em relação a substância. As atitudes valem mais que palavras. Fora de casa, nas relações com os amigos, o maior de idade compra e repassa para os demais”, diz Cirne.
Os pais devem estar atentos, pois quanto mais cedo o filho começar a beber, maiores serão as chances de incidirem no alcoolismo e terem efeitos nocivos ao desenvolvimento cerebral. “Não existe nível seguro para o álcool. Toda a quantidade de álcool gera um efeito no organismo. Essa substância altera o funcionamento do sistema nervoso central, impacta na saúde dos indivíduos, e, com maior gravidade ainda nos jovens. Impacta às famílias, a sociedade, na acidentalidade de trânsito, na violência….”, acrescenta o entrevistado. A entrevista completa, em vídeo, você encontra na página do Facebook do Jornal Ibiá.
Motivos que levam ao uso de álcool
– Influência dos pares – identificação com o grupo (pertencimento);
– Fácil acesso da substância;
– Influência da publicidade;
– Obtenção de prazer ou associado à diversão, entre outros;
– Alteração dos estados de consciência, cognição, afetividade e humor;
– Curiosidade e busca de prazer;
– Fuga de problemas familiares e outros;
– Ter coragem para determinada conduta;
– Dificuldade de aguentar situações difíceis;
– Falta de um projeto de vida para o futuro;
– Contexto familiar.