Crime organizado. Telefones foram achados com presos em janeiro e fevereiro
Agentes penitenciários apreenderam, apenas nos dois primeiros meses deste ano, 32 celulares na Penitenciária Modulada de Montenegro. Muitos dos aparelhos localizados nas celas servem como ferramenta para líderes de facções comandarem diversos crimes de trás das grades. Também foram encontrados 21 chips de telefones. A média mensal foi 16, ou seja, superior à de 2017, que ficou em 11.
Em todo ano passado, foram 133 celulares, 50 apenas em março, e 95 chips. No período, chama a atenção o fato de apenas um aparelho ter sido flagrado com uma visitante. Isso evidencia como os procedimentos utilizados para barrar a entrada desses materiais na casa prisional têm sido frequentemente burlados.
O diretor da Modulada, Loivo Machado, diz que para impedir ocorrências assim é preciso implantar aparelho de raios-x corporal, como os já utilizados no Presídio Central, Porto Alegre, na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas e no Presídio Estadual de Santa Rosa. A medida leva em conta o fato de os agentes, por lei, serem impedidos de realizarem revistas íntimas.
Devido à falta desse equipamento, as visitas passam por um detector de metal e, muitas vezes, o sistema não consegue perceber a presença dos celulares. Também há um scanner para revistas de bolsas, mas é difícil estarem nelas, pois quem costuma ir à modulada tem conhecimento desse aparelho no local. “Temos tentado de tudo que é jeito impedir a entrada de celulares na Modulada, mas é bem difícil. A visita sempre dá um jeito de burlar a segurança”, lamenta Loivo.
Ele lembra, ainda, a existência de ações judiciais de moradores contra as companhias de telefonia devido ao problema. Além de serem levados por parentes e conhecidos dos presos, muitos telefones são arremessados por cima das muralhas da cadeia.
Outro ponto enfatizado por Machado é a falta de uma punição mais severa para quem tenta ingressar nos presídios com celulares. Essas pessoas apenas assinam termos circunstanciados, ou seja, quando é feito o registro de infrações penais consideradas de menor potencial ofensivo. “Se endurecesse a legislação, inibiria muito essas ocorrências”, comenta.
Senado aprova instalação de bloqueadores nos presídios
No começo do mês, os senadores aprovaram o Projeto de Lei do Senado (PLS) 32/2018, que obriga a instalação, em 180 dias, de bloqueadores de sinal de telefones celulares em penitenciárias e presídios. De autoria de Eunício Oliveira (PMDB-CE), a proposta obteve o voto favorável de 60 senadores e foi encaminhada à Câmara dos Deputados.
O diretor da Penitenciária Modulada de Montenegro, Loivo Machado, ressalta como positiva a iniciativa. Contudo, não acredita na sua aplicação a curto ou médio prazo. O posicionamento tem relação direta com a falta de uma tecnologia avançada para impedir o sinal dentro das casas prisionais, sem prejudicar quem moram nos arredores desses locais. “Se funcionasse, seria ótimo, mas ainda não conseguiram uma forma de bloquear só as áreas de dentro dos muros. Isso só pode ser implantado se não prejudicar terceiros”, lembra.
O delegado regional, Marcelo Farias Pereira, também tem uma posição cética quanto à aplicação da medida. “Desde que estou na Polícia, ouço falar a respeito disso, faz 14 anos. Não só em Porto Alegre, mas também aqui em Montenegro, vários crimes são praticados pelo telefone de dentro dos presídios”, destaca.
Comando de trás das grades
No dia 22 de janeiro, a Polícia Civil deflagrou a Operação Montenegro, focada no combate ao tráfico de drogas. Foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão na cidade de Camaquã e em Montenegro. Foram encontrados sete celulares em uma cela da Penitenciária Modulada. O líder de uma facção está preso na cadeia da localidade de Pesqueiro e orquestrava diversas as ações pelo telefone.
A ofensiva resultou em seis pessoas presas em flagrante e um adolescente apreendido, também em flagrante, por ato infracional análogo ao tráfico de drogas. Mais de quatro quilos de drogas, arma e munições foram apreendidos.