Sem transporte escolar, estudantes correm riscos

Quem não consegue transporte particular arrisca sua segurança no trânsito e em pontos conhecidos pela violência

os alunos da Escola Adão Martini não estão recebendo o transporte porque moram antes do limite de dois quilômetros. foto: Arquivo/Jornal Ibiá

Recentemente, o Jornal Ibiá noticiou a situação de alguns alunos da Escola Estadual Adão Martini, na localidade de Vendinha, que, não atendidos pelo serviço de transporte escolar, precisam voltar para casa a pé junto do intenso movimento da BR-386. Em outra localidade, surge uma situação parecida. Alunos da Escola Estadual Junto ao Núcleo Habitacional Promorar, no bairro Germano Henke, também não têm transporte até suas casas.
Além do risco pelo tráfego da ERS 124, ao qual muitos acabam tendo que se sujeitar, o problema aumenta à noite. A instituição atende a turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que soltam às 22h30. Voltar para casa neste horário, sem transporte escolar, é desafiador. Muitos dos que lá estudam moram no bairro Estação, a cerca de dois quilômetros e meio de distância. Mesmo quando conseguem pegar um ônibus de linha, são largados na faixa para irem para casa a pé.

“É muito perigoso. Esses dias, a minha filha veio pra casa e não enxergava um palmo na frente dela de tão escuro”, conta a dona de casa Raquel de Oliveira. Toda noite, a moradora do Estação fica com o coração na mão, esperando a filha de 15 anos chegar da escola. Não só o trânsito, mas também o risco de a filha sofrer alguma violência no trajeto a preocupa. Muitos dos que fazem o EJA são alunos ainda menores de idade, que estudam à noite para poderem trabalhar durante o dia.

Raquel relata que, no começo do ano letivo, o serviço do transporte escolar chegou a ser oferecido para os alunos da escola. Logo, ele deixou de ser. Com a interrupção da oferta, ela foi atrás de orientações. Soube que a interrupção se deu por corte do Estado, que alterou o sistema. Ciente da situação, o conselho escolar da Escola Promorar se reuniu com os pais e elaborou um documento que foi levado à Promotoria. Receberam o posicionamento de que a demanda seria levada em conta, mas que, pelo menos nos próximos dois meses, o corte seria mantido.

Morando no Estação, Raquel de Oliveira foi atrás de alternativas para a filha. Mesmo com o orçamento apertado, começou a entrar em contato com transportadoras particulares, para que largassem a estudante perto de casa após as aulas. Alegando que o bairro é fora de rota, ninguém aceitou fazer o atendimento. A menina precisa, então, depender dos amigos e colegas para que sigam, acompanhando uns aos outros no trajeto para casa, protegendo-se como podem.

Software não considera situações pontuais
A secretaria estadual de Educação (Seduc) investiu R$ 152 milhões para implantar um sistema de gestão para o transporte escolar no Estado. A iniciativa visou melhorar o controle sobre o serviço, diminuindo o custo em até 30%. Ela faz parte do Programa Estadual de Apoio ao Transporte Escolar (Peate/RS), que transfere, de acordo com esse sistema, recursos aos municípios para o transporte dos alunos da rede estadual. Ele só vale, no entanto, para quem reside no meio rural, em distância maior do que dois quilômetros da escola.

Até o ano passado, os critérios deste Programa não eram observados com o rigor que foi assumido pelo Estado com a implantação do novo sistema. Sendo um software, ele acaba não levando em conta particularidades como as da Escola Adão Martini, onde os alunos, mesmo morando a menos de dois quilômetros da instituição, precisam se arriscar caminhando pela rodovia. O mesmo vale para a Escola Promorar, que tem a maioria dos alunos residente em zona urbana, mas que necessitam do transporte pela área e pelas condições em que vivem.

Na semana passada, a secretária municipal de Educação e Cultura (Smec), Rita Carneiro Fleck, reuniu-se com dirigentes da secretaria estadual de Educação (Seduc) para discutir a necessidade dos montenegrinos. Ela conta que os representantes do Estado afirmaram que é necessário, sim, que se leve em conta o difícil acesso e a periculosidade dessas áreas. Como isso ainda não ocorre na prática, a reportagem tentou contato com a Seduc para verificar alternativas para esta situação, levando em conta a realidade dos alunos. Não houve retorno até o fechamento da edição.

Escola Promorar teme o fim do EJA

A Escola Promorar constatou diminuição no número de alunos do EJA

Em Montenegro, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é oferecida somente na rede estadual, na Delfina Dias Ferraz, no Centro, e na Escola Junto ao Núcleo Habitacional Promorar, no Germano Henke. É uma alternativa muito buscada por aquele aluno que precisa trabalhar durante o dia, mas não quer deixar sua educação básica de lado. Sem o transporte escolar, a Escola Promorar teme o fim do curso.

A diretora, Josiane Flores de Lima, conta que, desde o corte do serviço, muitos dos estudantes deixaram de ir à aula. “Alguns, os pais trazem, mas muitos não têm condições. Diminuiu, e muito, o número de alunos”, coloca.

A educadora conta que encerra seu turno todos os dias e, na volta pra casa, passa por estudantes caminhando a pé, no acostamento da RS. A situação a preocupa. “Não é só um software. No computador, tu pode colocar qualquer coisa. A realidade de cada um tem que ser vista”, opina. “A gente se preocupa com o futuro do EJA.”

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