Retomado após 4 anos, Prêmio Jovem Cientista tem inscrições abertas

MONTENEGRINO Gelson Wecshenfelder foi vencedor na 29ª edição

Estudantes e pesquisadores podem se inscrever até a próxima sexta-feira, 4 de outubro na 30ª edição do Prêmio Jovem Cientista, que neste ano traz como tema “Conectividade e Inclusão Digital”. Retomado no ano passado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, após ter sido descontinuado em 2019, o prêmio é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fundação Roberto Marinho.

Apesar de a conectividade ser uma realidade presente no dia a dia da sociedade, muitos ainda não possuem acesso à internet. Assim, a ideia é incentivar os jovens pesquisadores a olharem para os desafios e oportunidades do mundo conectado. A premiação busca projetos que passem, por exemplo, desde a construção de modelos utilizando inteligência artificial para endereçar questões de saúde pública, educação e sustentabilidade, até a necessidade de uma discussão mais filosófica sobre a ética em tempos de realidade virtual.

As inscrições podem ser feitas através da página jovemcientista.cnpq.br. Entre as premiações previstas estão laptops, bolsas do CNPq e valores em dinheiro que vão de R$ 12 mil a R$ 40 mil. Em 37 anos, o Prêmio Jovem Cientista já premiou mais de 194 pesquisadores e estudantes, além de 21 instituições de ensino superior e médio.

O Prêmio Jovem Cientista foi criado em 1981 pelo CNPq, em parceria com a FRM e empresas da iniciativa privada, com o objetivo de revelar talentos, impulsionar a pesquisa no país e investir em estudantes e jovens pesquisadores que procuram soluções inovadoras para os desafios da sociedade. Considerado um dos mais importantes reconhecimentos aos jovens cientistas brasileiros, o prêmio apresenta, a cada edição, um tema importante para o desenvolvimento científico e tecnológico, que atenda às políticas públicas da área e seja de relevância para a sociedade brasileira.

Para o presidente do CNPq, Ricardo Galvão, o Prêmio Jovem Cientista dá uma contribuição muito importante para a ciência brasileira ao levar o pensar científico para meninas e meninos ainda no período escolar e incentivar jovens no início da carreira. Galvão ressalta, ainda, que o prêmio tem contribuído, ao longo de mais de 40 anos, para a descoberta e a divulgação de pesquisas inovadoras para as grandes questões da sociedade brasileira.

Projeto possibilitou uma mudança significativa na percepção do uso dos quadrinhos no ambiente acadêmico e escolar. CRÉDITO: ARQUIVO PESSOAL

Montenegrino foi premiado em 2018
Na última edição do Prêmio Jovem Cientista, realizada em 2018, o professor Gelson Weschenfelder recebeu o terceiro lugar na categoria Mestre e Doutor, disputada por mais de 500 participantes de todo o Brasil. Gelson foi destacado por sua tese de doutorado, intitulada “Os super-heróis das histórias em quadrinhos como recursos para a promoção de resiliência para crianças e adolescentes em situação de risco,” defendida na Universidade La Salle, em Canoas.

Weschenfelder conta que usou sua paixão pelos quadrinhos para desenvolver um projeto de pesquisa inovador. Em sua tese, ele investigou como os personagens de super-heróis podem servir como modelos de resiliência para crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade. “Eu sou leitor de quadrinhos e me espelhava muito nos personagens de Super Aventura para enfrentar meus dilemas do meu dia-a-dia, principalmente alguns preconceitos, bullying,” revelou o professor.

Sua pesquisa foi dividida em quatro etapas principais. O primeiro passo envolveu entrevistas com cerca de 1.200 leitores de quadrinhos que cresceram na mesma época que ele, nas décadas de 70, 80 e 90. “Foi notório que a grande maioria, mais de 90%, afirmou que esses personagens de alguma forma foram modelos, foram referências para eles, e que muitos falam que ainda inspiram,” afirmou Weschenfelder.

A segunda etapa foi a análise de intervenções existentes que utilizavam personagens de quadrinhos. A pesquisa revelou que a maioria das intervenções não utilizava a fase de vulnerabilidade dos super-heróis, o que, segundo Weschenfelder, apresentava um potencial inexplorado.

Seguindo essa descoberta, a terceira fase envolveu entrevistas com implementadores de intervenções ao redor do mundo e a criação de um projeto piloto com uma turma do EJA em Novo Hamburgo. “Eles conseguiram responder muito bem à proposta, mostrando que o primeiro passo é apresentar que os heróis também passam por vulnerabilidade,” explicou. O projeto se mostrou eficaz, com a maioria dos participantes conseguindo superar suas situações de vulnerabilidade ao se envolver com a criação de histórias de quadrinhos.

O reconhecimento nacional não foi o único impacto da pesquisa. Weschenfelder observou uma mudança significativa na percepção dos quadrinhos no ambiente acadêmico e escolar. Ele destacou que sua pesquisa ajudou a reavaliar os quadrinhos como uma forma legítima de intervenção psicopedagógica e cultural, rompendo preconceitos tanto no meio acadêmico quanto na educação básica.

Além disso, o prêmio trouxe oportunidades para apresentar sua pesquisa em várias instituições internacionais, incluindo a Universidade de Oxford e universidades em Portugal. “O prêmio me trouxe oportunidades de conhecer o mundo,” afirmou o professor. Hoje sua pesquisa está sendo utilizada em diversos estados brasileiros e países como Inglaterra, Portugal, Peru e Argentina, demonstrando a eficácia dos super-heróis como ferramentas de resiliência e intervenção psicopedagógica. “Eu fico muito feliz em ver que algo que eu criei está ganhando asas, e outras pessoas possam estar utilizando como referência ou como base,” concluiu Weschenfelder.

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