Software permite medir nível de atenção e traduz dados que ajudam a sanar o problema
Animo-E é o nome do software criado pelos montenegrinos Leonardo Alex da Silva e Lucas Gabriel Lopes para auxiliar no tratamento de crianças com dificuldade de aprendizagem e, mais especialmente, déficit de atenção. Em parceria com uma empresa norte-americana, eles importaram um aparelho – praticamente uma tiara – que é colocado na cabeça do usuário para ler suas ondas cerebrais. O produto deles estimula essas leituras através de jogos ou atividades livres; e às traduz em gráficos e relatórios que mostram o quanto de atenção é aplicada para cada tipo de atividade.
“Hoje, no Brasil, muitas crianças são diagnosticadas com déficit de atenção, mas não têm déficit de atenção porque é um processo ainda muito observatório”, pontua Lucas. “O nosso sistema ajuda justamente nesse ponto.”
O Animo-E foi construído com o apoio do neurocientista Guilherme Nogueira. Chegou a ser lançado no fim de 2019, com o objetivo de ser ofertado às escolas e profissionais da Educação para o atendimento de estudantes. Foi apresentado na Ed Tech Conference, em São Paulo, um dos maiores congressos de educação e tecnologia do País, em fevereiro do ano passado, e chamou a atenção de várias instituições. Mas logo teve início a pandemia, as escolas fecharam e a inserção da solução no mercado nacional acabou reduzida. Com a retomada das aulas presenciais, agora, Leonardo e Lucas querem continuar apresentando o produto. O sonho é, no futuro, ter ele disponível na rede pública.
“A nossa esperança é que a gente consiga se movimentar mais para ajudar as crianças e os pais dessas crianças. Com esses relatórios, eles vão ter uma percepção maior do filho e vão poder acompanhar a evolução dele, sem ficar a deriva, na dependência da avaliação de um profissional”, diz Lucas.
Testes aprovados
A tiara que lê as ondas cerebrais das crianças é dos Estados Unidos, um produto da empresa NeuroSky, que tem parceria com a Technow, a organização dos montenegrinos. A dupla é representante da norte-americana na América Latina e reconhecida como parceira global dela. O item tem o certificado KOKOA de qualidade na educação, recebido na Finlândia. “Nós somos os únicos da América do Sul a trabalhar com esse produto e a terceira empresa no mundo a trabalhar com ele especificamente com esse tipo de método, que é o neurofeedback aplicado na área da Educação”, destaca Lucas. “Esse produto existe há mais de dez anos fora daqui. Nós conhecemos ele e desenvolvemos o sistema para trabalhar junto.”
E apesar de pouco inserção no mercado, o sistema desenvolvido em Montenegro já passou por vários testes, inclusive com adultos. Os montenegrinos contam que uma parceira já o usa em alunos de curso pré-vestibular; monitorando o nível de atenção dos estudantes em determinadas lições e entregando a eles a informação dos pontos em que lhes falhou a atenção. “O aprendizado é baseado na atenção, então quanto maior for a atenção, teoricamente, maior é o nível de aprendizado”, explica Leonardo.
A psicopedagoga Sandra Henz Vargas, que trabalha com crianças com dificuldade de aprendizado nas redes municipais de Montenegro, São Pedro da Serra e São José do Sul, também já conheceu a solução. Durante a flexibilização da bandeira vermelha, chegou até a aplicá-la em alguns alunos. “Às vezes, a criança tem uma dificuldade de aprendizagem, mas por uma lacuna lá de trás, de repente da Educação Infantil ou até uma lacuna emocional; e ela não aprende. A tiara mostra se a criança consegue se concentrar naquele período e, se não consegue, é sinal de alerta de que os pais podem procurar um clínico para fazer exames mais aprofundados”, avalia.
Oferecer diferentes estímulos, explica a psicopedagoga, e ir medindo com o uso do software, é apoio importante no processo de aprendizado. “A gente precisa saber por que a criança não está aprendendo. E se ela consegue se concentrar para um jogo, ela consegue se concentrar para outras coisas. Então, a gente vai achando a melhor forma dela aprender”, pontua. Verificar os níveis de atenção durante a leitura em silêncio, a leitura falada e a leitura escutada, por exemplo, ajudam a compreender como aquele jovem tem mais facilidade de aprendizado. “Eu estou bem encantada”, elogia a educadora.