O depoimento de uma aluna do Colégio Estadual Dr. Paulo Ribeiro Campos trouxe a tona a angústia dos alunos da rede estadual de ensino, que estão com seus professores em greve desde o dia 6 de setembro. De acordo com o sindicato da classe, o Cpers, 60% das instituições gaúchas estão paradas. Em Montenegro, o Colégio, popularmente conhecido como Polivalente, foi o único com 100% de adesão ao movimento.
“Os professores foram totalmente apoiados pelos alunos! Participamos de manifestações no desfile de 7 de setembro junto a outras escolas. O que não faltou foi o nosso apoio a eles! Mas ninguém imaginou que a greve se estenderia tanto assim!”, diz o texto da aluna do terceiro ano Nathalia de Almeida, postado em uma rede social. Os boatos de que o ano letivo de 2017 poderia ser perdido motivaram a manifestação da aluna, que já não tem certeza se poderá se formar este ano.
Ela não é a única. Amanda Souza também demonstra indignação com a atual situação. Com 19 anos, ela espera para prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no mês que vem, e se preocupa por não ter recebido todos os conhecimentos. “Daí tu vai atrás dos professores e das secretarias e eles dizem que não sabem de nada, sobre quando volta a aula. Falam que vão fazer reunião em um dia, daí chega o dia e eles dizem que a reunião foi cancelada”, reclama. Ela conta que vários colegas partilham deste sentimento e que tem pais pensando, inclusive, em entrar com processo judicial na busca por um posicionamento.
A diretora da instituição, Simone Castro, lamenta esse sentimento dos estudantes. “Não são só os alunos que estão angustiados. A gente está muito preocupado, principalmente com os de terceiro ano”, comenta. Ela conta que o colégio nunca deixou de recuperar as aulas em outras ocasiões de greve, mas diz entender os alunos. “É uma pena que esse lamento não tenha vindo direto para nós.”
Sobre os posicionamentos dados aos alunos, Simone salienta que a escola está sempre aberta para conversar. Diz que, inclusive pelo seu WhatsApp pessoal, alguns alunos lhe contatam e são atendidos. A secretaria da escola segue aberta durante os dias da semana, mas passa, no momento, por um problema nas linhas telefônicas, que estão mudas. Já foi aberto chamado para a normalização da situação.
Frequentemente, a equipe do Polivalente se reúne para conversar sobre a paralisação, seguindo também as diretrizes do Cpers. A diretora aponta que não há ainda nada oficial sobre uma possível perda do ano letivo, mesmo porque a parada se deu faltando um único trimestre de aula. “A coordenadoria (do estado) ainda não tem orientação para as instituições que não voltaram a ter aulas”, afirmou. Sem uma solução entre a classe e o Estado, alunos como Nathalia seguem sem seu direito à educação. “A gente quer se formar, a gente tem um futuro planejado!”, desabafou em seu post.
Governo reafirma calendário de recuperação
Mesmo sem o fim da greve, o Governo Estadual já divulgou seu calendário de recuperação das aulas, gerando indignação do sindicato dos professores. Em uma reunião na terça-feira, ambas as partes voltaram a discutir a questão. O Estado não afirmou que serão regularizados os pagamentos dos profissionais em dia e a classe seguirá com a greve. Questionados sobre a questão do calendário, os representantes da Administração reiteraram que não voltarão atrás na medida que prevê, já a partir desta semana, aulas em sábado para recuperação. Com isso, o ano letivo se encerraria em 14 de janeiro de 2018.