Secretário estadual aponta que prospecção de novas empresas será intensificada
Lançado em 2019, o projeto de formar, no Distrito Industrial de Montenegro, um polo das indústrias químicas gaúchas, tem avançado de forma lenta. Das quatro empresas confirmadas para se instalarem no complexo, só uma efetivamente está em fase de conclusão das instalações físicas. Outras duas ainda aguardam licenças; e a quarta não deu continuidade ao processo de instalação. Além delas, mais sete organizações, logo após o lançamento, tinham assinado protocolo de intenções para a abertura de unidades no Município. Também não avançaram com as tratativas.
“O nosso principal gargalo com o Polo da Química ainda tem sido o pós-pandemia”, avalia o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Joel Maraschin. “Nós temos conseguido trabalhar com empresas e interessados no Rio Grande do Sul em outros setores, como o polo metal-mecânico e as vitivinícolas, mas o setor químico é um setor que passou por um momento muito difícil na pandemia. A própria Braskem teve um momento difícil. E, depois, tem esse assunto do Reiq, o medo do fim desse subsídio que pode prejudicar muito todo o Polo, tanto o Petroquímico quanto o da Química. Então, eu acho que essa insegurança do mercado, aliado à inflação alta e a nossa economia, que ainda não se estabilizou por completo, tem atrapalhado muito.”
O Reiq – Regime Especial da Indústria Química – é um incentivo fiscal federal de redução de impostos concedido às empresas químicas, cuja extinção está em discussão. Depois de conseguir uma prorrogação até 2024 no Congresso Nacional, o setor foi surpreendido por uma medida provisória que oficializou o seu corte imediato. O caso foi parar na Justiça, que garantiu a vigência, pelo menos, até o próximo mês de junho. As empresas, químicas e petroquímicas, apontam que o aumento de impostos geraria alta de custos e a extinção de 9,1 mil empregos só no Rio Grande do Sul.
Das três confirmadas, duas ainda aguardam licenças
O projeto do Polo da Química é do Governo do Estado, concebido em parceria com o Sindicato das Indústrias Químicas do Rio Grande do Sul, a Braskem e as prefeituras de Montenegro e Triunfo. A proposta é de aproveitar a proximidade com o Polo Petroquímico, logo ao lado, onde se concentra a indústria da primeira e da segunda geração do segmento químico – na Braskem. Assim, atraindo empresas da terceira geração, que processam essa matéria-prima na industrialização de plástico, solventes, tintas, cosméticos, fertilizantes e vários outros itens. São potenciais, também, as facilidades logísticas com transporte pela BR-386 e pelo Tecon Santa Clara.
A primeira empresa efetivamente confirmada para a instalação no complexo, no Distrito Industrial de Montenegro, foi a Hipermix, no início de 2020; ainda pré-pandemia. A indústria é voltada à industrialização de cimento, tem sede em São Paulo, e faz o investimento em parceria com a Compañia Industrializadora de Minerales (Cimsa), do Uruguai. O investimento, quando do anúncio, era avaliado em R$ 102 milhões; com geração de 30 empregos diretos no início das operações e mais 120 com uma ampliação já prevista. Somando empregos indiretos, a expectativa era de envolver 420 trabalhadores. A terraplanagem do lote iniciou em novembro de 2020 e, segundo a secretaria estadual de Desenvolvimento Economico (Sedec), a fábrica está em avançado estágio de construção. Não há data oficial para início das atividades.
A segunda empresa confirmada é a Sulboro, cujo investimento de R$ 8 milhões foi anunciado em junho de 2020. A organização tem sede em Canoas e trabalha com a produção de boro, um micronutriente usado em diferentes produções agrícolas. A expectativa é de geração de quinze empregos diretos na unidade. Mas, de acordo com a Sedec, a organização ainda aguarda a liberação de licenciamento junto à Fepam.
Confirmada no fim de 2020, a terceira empresa do Polo da Química é a Traçado, parceira da CCR, concessionária responsável pela BR-386, que prepara a instalação de uma indústria de produtos asfálticos no Distrito Industrial. Ela tem matriz em Erechim, no Norte do Estado, e projeta a geração de 70 empregos diretos na unidade. O valor de investimento previsto não foi divulgado. Conforme informações da Sedec, a Traçado aguarda licenciamento municipal para a continuidade do processo de instalação.
Já a empresa que acabou não dando continuidade é a Stahl Engenharia. Segundo a Sedec, a área reservada a ela foi liberada recentemente após a organização não ter respondido às notificações sobre a continuidade do processo e se ainda tinha interesse em se instalar na área. Já, inclusive, com incentivos fiscais municipais para a instalação – como também receberam as outras – a empresa previa investimento na casa de R$ 3 milhões na unidade que deveria gerar 25 empregos diretos. A organização tem sede em Esteio e filiais em Pernambuco, São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e, no Rio Grande do Sul, também em Rio Grande. É especializada na fabricação, montagem, comissionamento e manutenção industrial; e tendia a servir de apoio às empresas do complexo, que já tem indústrias fortes como a John Deere, a Hexion e a própria Braskem. Procurada pelo Jornal Ibiá, a Stahl não se manifestou sobre a desistência.
Empresas que assinaram protocolo de intenções não deram sequência ao processo
Logo após o lançamento do projeto do Polo da Química, em 2019, sete empresas assinaram protocolo de intenções de instalação em Montenegro; criando grande expectativa de desenvolvimento do complexo. O cronograma previa a elaboração e execução de projetos ao longo de 2020 para início de operações já em 2021. Mas, já em meio à pandemia, o Jornal Ibiá entrevistou o presidente do Sindicato das Indústrias Químicas, Newton Battastini, que informou que, com os impactos da redução de movimento e do consumo, todas decidiram adiar os processos em, pelo menos, um ano. Até hoje, porém, segundo informações da Sedec, nenhuma deu prosseguimento à implantação de planta industrial em Montenegro.
Dessas sete, estão a Tecpon, a Crivella e a Quimicamar, de Cachoeirinha; a Botanik, de Campo Bom; e a Kresil, a Rochadel e a Memphis, de Porto Alegre. Battastini, que é proprietário da Tecpon, informou que deve voltar a estudar o assunto no ano que vem. No momento, não há nenhuma outra empresa com projeto protocolado para entrada no Polo da Química.
Com fim das restrições, secretário avalia que divulgação será intensificada
Secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Joel Maraschin garante que o Estado não está parado na divulgação do Polo da Química para a atração de novas empresas. Ele aponta que as restrições geradas pela pandemia, que acabaram impactando negativamente as finanças de algumas das empresas interessadas no projeto, também dificultaram esse trabalho de divulgação e prospecção de interessados; que ficou limitado apenas a eventos e reuniões virtuais. “Se formos analisar, foi só no meio do segundo semestre do ano passado que a gente começou a controlar mais a situação da pandemia e começou a poder circular mais”, comenta.
Foi assim que, no início de abril, ele liderou uma missão de cinco dias na Europa onde um dos principais focos foi apresentar o projeto e o ambiente de negócios do Estado a potenciais investidores. O grupo participou de reunião com cerca de 50 empresários ligados à Câmara de Comércio Brasil-França e da Feira In-cosmetics Global, em Paris. “Nós temos duas empresas que temos mantido contato e que estão por vir ao Rio Grande do Sul agora, no segundo semestre, para visitar a secretaria e, de repente, fazer uma visita até o local do Polo da Química”, adianta Maraschin. “Por isso, eu acho que é um processo que agora vai se encaminhar, de conseguirmos retomar esse foco, que é o de divulgar.”