Em Triunfo. Empreendimento integra o pacote de potencialidades do Polo da Química de Montenegro
O Tecon Santa Clara completou quatro anos da sua reinauguração, em outubro de 2016. Também conhecido por Contesc, ele fica junto ao Polo Petroquímico de Triunfo e faz a movimentação de contêineres através da hidrovia gaúcha. De lá, saem mercadorias de diversas partes do Estado que, a partir do Rio Jacuí, chegam ao Porto de Rio Grande. E os números da aniversariante mostram o potencial que tem o transporte fluvial pelo interior do RS.
O empreendimento pertence ao Grupo Wilson Sons. Opera levando produtos de importação e exportação que têm como origem ou destino cidades como Farroupilha, Carlos Barbosa, Garibaldi, Caxias do Sul e Lajeado. Com local próprio, a possibilidade de armazenagem no Contesc gera uma economia de até 20% no transporte para as empresas que utilizam o terminal, um plus para os interessados na modalidade.
Desde o início das operações, há quatro anos, já foram mais de 126 mil TEU’s (unidade correspondente a um contêiner de 20 pés) movimentados por ali. E mesmo num ano de pandemia, que acabou impactando a comercialização de muitos produtos, o complexo apresentou crescimento de movimentação. De janeiro a setembro, 20.165 TEU’s foram movimentados, 11% a mais do que no mesmo período de 2019.
Resinas, madeira, produtos químicos, frango congelado, borrachas e utensílios domésticos estão entre os itens mais transportados. “Com o transporte fluvial, conseguimos desenvolver projetos logísticos mais competitivos do ponto de vista financeiro, que oferecem menos risco de acidentes e avarias para as cargas, além de contribuir com a diminuição de emissão de gases do efeito estufa”, destaca Paulo Bertinetti, diretor-presidente do Tecon Rio Grande – que atua integrado ao Santa Clara.
MENOS IMPACTO
Recente estudo promovido pela Wilson Sons mostrou que a emissão de gases do efeito estufa pelas barcaças da navegação interior é 74% menor do que a dos caminhões usados pelo transporte rodoviário. A pesquisa mediu o combustível consumido por cada meio de transporte para movimentar a mesma quantidade de carga, no período de 12 meses, num percurso de aproximadamente 350 quilômetros.
Empreendimento relevante para Montenegro
Integrado ao Polo Petroquímico, o Santa Clara está próximo à desembocadura do Rio Caí no Rio Jacuí. Consiste num canal artificialmente construído, com 7,5 quilômetros e largura de 90 metros na lâmina d’água. Junto do complexo do Polo de Triunfo, ele é um dos atrativos também para a vinda de empreendimentos para Montenegro. Isso porque está no pacote de potencialidades do Polo da Química e é “vendido” como uma das vantagens logísticas do projeto do Município.
Ao lado do Terminal, a iniciativa montenegrina também lista o acesso à BR-386, a infraestrutura pronta e a proximidade com a Braskem, do lado de Triunfo, como atrativos para a vinda de novos empreendimentos. A ideia é, com esse pacote, atrair empresas da 3ª geração do segmento químico, aproveitando o local já integrado e preparado. Sete empresas do tipo já assinaram protocolo de intenções de instalação recentemente; e três já, efetivamente, confirmaram instalação no complexo.
As atividades do Santa Clara iniciadas em 2016 são resultado de uma importante parceria entre a Wilson Sons e Braskem para reativar as operações num acordo que marcou a retomada do transporte de contêineres pelo Rio Jacuí entre Triunfo e Rio Grande. O terminal tem capacidade de 100 mil TEU’s; e vem apresentando um crescimento médio de movimentações de 56% ao ano.
Utilização da malha hidroviária pode crescer
A utilização da malha hidroviária poderia ser muito maior. Para o responsável pelo porto de Rio Grande, Paulo Bertinetti, os números do Terminal Santa Clara evidenciam a importância que essa alternativa logística tem para o mercado.
Os dados gerais dos transporte no Estado, no entanto, mostram que o uso dos rios para movimentação de cargas ainda é baixo: só 3% do total, como consta no Plano Estadual de Logística e Transportes do Rio Grande do Sul (PELT-RS), num levantamento de 2017. Rodovias eram 88%, ferrovias, 6%, e aerovias e dutovias, também 3%.
Cresceu de lá pra cá, mas a utilização ainda é menor do que poderia ser. Isso visto que são cerca de 70 municípios gaúchos banhados por rios e lagos navegáveis; e que, conforme o PELT-RS, são 776 quilômetros de malha hidroviária no RS com operação comercial, em trechos formados por Lagoa dos Patos, Lago Guaíba e rios Jacuí, Taquari, Caí, dos Sinos e Gravataí, além do Canal São Gonçalo.
Até houve tratativas para que esse panorama mudasse no passado. A reportagem teve acesso ao Plano Nacional de Integração Hidroviária (PNIH), de 2013, que destacou nove cidades gaúchas com potencial para receberem a instalação de terminais hidroviários. Montenegro e São Sebastião do Caí, inclusive, estão entre elas, mas as sugestões não foram realizadas.
Esse documento, montado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários, até lista os investimentos que seriam necessários para a criação dos empreendimentos. Em Montenegro, seriam R$ 28 milhões investidos que, depois, alcançariam uma receita de R$ 9 milhões por ano com a utilização do Rio Caí. Sugeria-se que 2015 seria o ano para que o projeto saísse do papel, mas, até hoje, ele não foi para frente.
MELHORES CONDIÇÕES
O que hoje é consenso entre especialistas da área é que a principal necessidade para desenvolver o transporte pelas hidrovias é melhorar as condições de infraestrutura. Colocando uma boa sinalização para a navegação noturna e cuidando das áreas navegáveis, com as dragagens de manutenção, por exemplo.
Tem-se, por enquanto, que o governo do Estado está modelando uma Parceria Público-Privada para viabilizar o custeio dessa manutenção; e que estuda a aplicação de uma tarifa de uso. Talvez, assim, viabilizando a maior utilização dos rios e dos lagos para este fim. Potencial, tem!