Fecomércio-RS realizou sondagem do segmento no Estado. Apontamentos também são verificados em Montenegro
A carga tributária e a pirataria estão entre os principais desafios enfrentados pelas óticas do Rio Grande do Sul. Essa é a constatação da sondagem de segmento realizada pela Fecomércio-RS, que analisou a realidade de 385 empresas gaúchas optantes pelo Simples Nacional. 46,8% e 40,3% dos entrevistados, respectivamente, citaram os dois fatores como entraves ao seu desenvolvimento econômico. A realidade também é percebida em Montenegro.
No ramo há quase duas décadas, Julio César Spessatto conta que a questão tributária pesa, principalmente, no que se refere à importação das armações de óculos, que precisam vir de fora do Estado. Mesmo com a empresa inscrita no Simples Nacional, quando ele compra itens de São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, precisa pagar o polêmico Diferencial de Alíquotas – imposto recentemente discutido pela Fecomércio no Supremo Tribunal Federal.
Com a obrigação de abater a diferença da alíquota do ICMS interestadual com o interno, por vezes, Spessatto precisa destinar 14% do valor da compra aos cofres do Estado com o tributo. Na hora de ver o retorno deste valor em serviços e melhorias para a população, ele lamenta a pouca efetividade. “O imposto está alto para caramba”, exclama.
O empresário montenegrino também reconhece a existência da pirataria, que devora uma boa fatia do mercado. Ele ressalta, no entanto, que este comércio ilegal de óculos não chega a ser um problema. Conforme Spessatto, após um tempo usando o acessório comprado em camelôs ou lojas irregulares, o usuário acaba com a visão prejudicada. Diante disso, precisa recorrer a um oftalmologista e, por consequência, acaba cliente de uma ótica regular.
Segundo a Fecomércio, o segmento está com a confiança em alta neste novo ano. 60% dos questionados classificou a expectativa de vendas como “muito melhores” para os próximos seis meses. De perfil mais familiar, 74,8% das empresas questionadas apontou que possui contabilidade independente; e 26,2% admitiram ter apenas um controle superficial de suas finanças – o que foi classificado pela entidade como preocupante.
Maior procura é por óculos de grau, aponta empresário
Dono de ótica em Montenegro, Julio César Spessatto viu a procura pelos óculos de grau aumentar consideravelmente nos últimos anos. “Se diz que antigamente as pessoas não usavam tanto óculos, mas é que elas não ocupavam tanto a visão. Hoje, se estuda muito, se fica muito em smartphone e em computador. A visão acaba precisando de um descanso”, aponta.
O empresário avalia que o cliente local está cada vez mais exigente por um produto de maior qualidade e design diferenciado – o que, para alguns, tem sido prioridade até acima do preço. “O público tem prazer em ter uma coisa boa. Por isso que as lojas precisam ter marca boa e também preço bom”, avalia.
Spessatto indica que, ligadas nisso, as grandes marcas de óculos estão cada vez mais engajadas em lançar linhas diferenciadas de armações, principalmente voltadas ao público feminino. “A moda está incrível. Muda muito rápido e está sempre com grandes lançamentos”, salienta.
Essa realidade, claro, estimula a concorrência no varejo e a abertura de novas lojas do segmento. Com espaço para todos – e clientes que querem ficar com o mesmo óculos por dez anos; e outros que já querer ter uns três ou quatro para variar no dia-a-dia – o empresário destaca que o principal diferencial a ser buscado está na qualificação técnica dos profissionais que lidam com a saúde dos olhos.
Empresário espera atenção à carga tributária
O empresário José Francisco Selbach Massena (Zé), proprietário da Ótica Rönnau, tem boas expectativas para as vendas. Para ele, 2019 será melhor que os dois últimos anos. “2017 e 2018 apresentaram resultados de vendas semelhantes. O ano passado não foi melhor devido à greve dos caminhoneiros, à Copa do Mundo e às eleições. Esses três eventos desviaram a atenção do povo e provocaram uma retração nas vendas”, avalia.
Zé também está otimista no que diz respeito à redução de impostos. Para ele, esta é uma importante pauta que deve ser tratada pelo novo Governo. “A redução tributária permite a flexibilização dos preços. Com isso, toda a cadeia produtiva sai ganhando”, acredita.
Em relação à concorrência com produtos piratas, o empresário afirma que sua ótica não enfrenta problemas desta natureza. “A pirataria não concorre com nossos produtos. Temos mercadorias de primeira linha, com garantia, que jamais irão trazer problemas de saúde visual para o consumidor”, compara. “Às vezes, as pessoas acabam comprando um produto pirata por impulso, mas a maioria é bem esclarecida sobre os riscos que isso representa”, conclui.
“O marcape é cada vez mais reduzido”
Para manter-se no mercado há três décadas, o empresário Jorge Ávila Flores investe em uma equipe de profissionais qualificados e mantém a ótica sempre atualizada. Ele observa que, para atender bem o cliente, é preciso fazer uma série de investimentos. O problema é que as despesas aumentam e o retorno está cada vez menor. “O custo operacional aumentou muito, são inúmeras taxas, despesas com funcionários, internet… A despesa só aumenta e o marcape (percentual aplicado em uma nota fiscal, da diferença entre o custo do produto + os impostos, despesas e margem) é cada vez mais reduzido”, observa.
Jorge também acredita que o novo Governo será capaz de reduzir a carga tributária, porém, não crê que isso ocorra em curto prazo. “A gente espera que as novas administrações desburocratizem um pouco as coisas e olhem para a concorrência desleal causada por ambulantes. Nós temos que ter responsável técnico, enquanto os outros ficam à margem dessas exigências. O comércio formal tem sido judiado bastante”, pontua.