Procura por oportunidades é grande, mas vagas exigem capacitação
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontava que, no início de agosto, no Brasil, 12.599 trabalhadores estavam desempregados. A pandemia do novo coronavírus contribuiu para tantos desempregos e em Montenegro a situação não é diferente do restante do País. Agora, com a abertura do comércio na região após flexibilizações do sistema de Distanciamento Controlado, a busca por empregos se acentua ainda mais. E se, por um lado o número de desempregados é grande, por outro, a Agência FGTAS Sine divulga mais de 20 vagas por dia, em média. Algumas passam semanas sem serem preenchidas. Nelson Timm, agente administrativo da agência do Sine no município, explica que esse cenário também se deve à falta de qualificação de pessoas de todas as idades. Ele esclarece que muitas das vagas permanecem por mais tempo com procura por não terem pessoas qualificadas para preenchê-las.
Timm afirma que hoje em dia a maioria das empresas da cidade não tem como prioridade mão de obra barata, como era mais comum antigamente, mas sim profissionais qualificados. “A falta de qualificação é o principal problema. O empresário, além de estar com dificuldade total de manter seu estabelecimento aberto nesse momento, precisa de gente qualificada. Uma pessoa que quando ele contratar, já saia trabalhando. Ele não tem tempo mais para ensinar. Uma das coisas que está acontecendo é que as pessoas não têm qualificação”, pontua. Quando Nelson cita as qualificações, sugere não necessariamente experiência, mas sim cursos profissionalizantes.
Estudo é essencial em qualquer idade
Nelson confirma o esperado: a busca por empregos aumentou bastante desde o início da pandemia e ainda atenta que pessoas de todas as idades têm procurado a agência para auxílio. Por isso, o agente destaca a grande importância da busca por cursos profissionalizantes nas mais diversas áreas, e também o estudo desde cedo. “Infelizmente é difícil o jovem que quer se qualificar. Ele tem que ter esse pensamento de estudar. Hoje, o mínimo para muitas vagas é ter o segundo grau completo”. Arnaldo Klein Pegoraro, coordenador da agência, reitera a fala de Nelson, ainda ressaltando que para algumas vagas, apenas o ensino fundamental completo é exigido, o que torna a busca por emprego mais fácil. Mas não apenas os jovens devem buscar qualificação desde cedo. As pessoas de mais idade também precisam ter um “a mais” na hora de entregar o currículo.
Um exemplo claro dado por Timm é o pouco interesse da população mais jovem com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, o Pronatec, disponibilizado pelo governo. “Quando tinha vaga, os jovens vinham, se interessavam sim, mas na hora de desenvolver o curso eles não iam, tirando a vaga de outra pessoa. Várias vezes nós devolvemos cursos ao Estado porque não tinha candidato”, destaca.
Ainda segundo Nelson, o seguro desemprego está em grande escala em Montenegro, em todas as áreas, como comércio, indústria e administração. “Isso porque, no momento, se o empresário tem cinco pessoas na empresa, eles têm diminuído no mínimo 30 a 40%. Isso para tentar sobreviver”, afirma. Arnaldo afirma que a abertura de novos empreendimentos, que tem ocorrido na cidade desde os últimos meses, é boa. “A expectativa é de que isso volte a mexer com a economia do município”, comenta.
Em resumo, Timm relembra que o desemprego pode ser combatido, pelo menos em parte. “Todas as profissões são dignas, mas não se pode ser mais um. As empresas buscam um bom profissional”, opina. Especialmente nesta época em que vagas de empregos são tão concorridas, Nelson destaca a importância de fazer a diferença. “Tu tem que ser o melhor no que faz, sempre, não apenas mais um. Sendo assim, tu não vai estar desempregado”, finaliza.
Batalha antiga atrás de emprego
Everton da Silva Nogueira, 39, está em busca de emprego e não é de hoje. Há um ano e quatro meses o montenegrino procura qualquer ocupação para conseguir colocar o pão na mesa. “Olha a idade que eu tenho, né? Eu tenho que honrar, tenho que trabalhar”, pontua. Nogueira mora sozinho e tem feito o que pode para se sustentar, principalmente em meio à pandemia. “Eu capino, eu limpo pátio. Tudo para ganhar um dinheirinho. Eu tenho que me virar de algum jeito principalmente agora que tudo piorou”, ressalta.
Nogueira conta que foi estoquista há quase dez anos no município, mas que o desgaste por diversos motivos foi muito grande, o que o levou a seguir outro caminho. “Não me sentia valorizado. Às vezes a gente trabalha um monte, mas não compensa”, desabafa. Além disso, trabalhou em algumas fruteiras da cidade.
Na última semana, ele esteve finalmente em uma seleção de emprego para um mercado. O sentimento é de esperança. “Eu tô quase apavorado, tem pouca oferta de emprego. Qualquer coisa que vier, vai. O que chegar primeiro”, afirma. Antes de ir embora da seleção, Everton reitera: “E agora eu vou entregar mais uns currículos, não dá para parar”, finaliza.
Já José Orlando de Lima, 61, está a mais de dois anos na batalha por uma oportunidade. O montenegrino vive com esposa e o filho de 22 anos e após sair de sua ocupação na rouparia do Hospital Montenegro, não consegue voltar ao trabalho por poucas oportunidades ofertadas. “Essa pandemia também estragou muita gente, tudo piorou. É difícil e ainda parece que as autoridades maiores não querem ajudar os pobres”, lamenta.
Assim como Everton, seu José é objetivo em afirmar: O que vier nesse momento é lucro. Também na luta, entrega currículos constantemente em diversas empresas da cidade e espera por uma boa notícia o mais breve possível.