Em Montenegro, presidente da Fecomércio faz análise do ambiente empresarial

Luiz Carlos Bohn destaca as principais pautas da entidade atualmente

Ligada ao Sistema S, a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) representa as empresas do comércio de bens, serviços e turismo gaúchas. Com 102 sindicatos empresarias em sua base – o Sindilojas Montenegro sendo um deles – e gerenciando o Sesc-RS e o Senac-RS, a entidade opera na defesa e representatividade de mais de 546 mil estabelecimentos pelo Estado.

Dentre as pautas principais da Fecomércio-RS, hoje, está a Reforma Tributária, em discussão tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados; a adaptação à Nota Fiscal de Consumidor Eletrônica pelas pequenas empresas; e formas de incentivar os empresários no panorama atual da economia, que ainda avança devagar e clama por um tão necessário desenvolvimento. O presidente da Federação, Luiz Carlos Bohn, esteve em Montenegro recentemente para acompanhar a inauguração das novas instalações do Sesc no centro da cidade.

Bohn é de perto. Natural de São Sebastião do Caí, é bacharel em Ciências Contábeis e já recebeu diversos reconhecimentos por sua atuação no meio empresarial. Dentre eles, destacam-se a Medalha Mérito Farroupilha da Assembleia Legislativa e o prêmio de Personalidade Dirigente Empresarial concedido pela FCDL-RS. O Ibiá aproveitou a visita do presidente para uma conversa sobre os principais assuntos que envolvem as empresas gaúchas atualmente. Confira a entrevista:

  • Jornal Ibiá – Viemos de uma crise iniciada lá em meados de 2014 e que parece ter afetado a todos. Mas dá pra se destacar algum segmento que, ao contrário da maioria, conseguiu prosperar nesse período?
    Luiz Carlos Bohn – De forma geral, todos os setores foram afetados. A crise deixou muito evidente as fragilidades das empresas, e no Brasil temos muitas empresas financeiramente frágeis. Muitos negócios que dependem em demasiado da conjuntura econômica viram-se numa situação extremamente crítica nos últimos anos.
    Entretanto, quando a economia não cresce, ou até mesmo quando decresce, há empresas que expandem suas atividades, contratam pessoas, melhoram resultados. Isso advém da capacidade de visualizar espaços que ficaram vazios no mercado em virtude do fechamento de concorrentes ou mesmo da expansão do share decorrente de uma postura mais agressiva em relação aos outros players.
    Quem conseguiu se adaptar nesse tempo, tornou-se mais competitivo, mais rentável, melhor. E disso fica uma lição muito importante: empresas financeiramente saudáveis e estrategicamente bem direcionadas enfrentam com menos dificuldade conjunturas ruins e aproveitam mais cenários favoráveis.
  • JI – Temos indicadores da Fecomércio-RS mostrando as famílias com mais cautela ante a um possível investimento. Elas estão mais conservadoras em tempos de incerteza econômica. Como os empresários precisam agir, neste sentido, para fazerem suas vendas? Qual seria a alternativa para atrair essas pessoas?
    LCB – Sem dúvida nenhuma, vivemos tempos novos. Depois de um período intenso de crescimento econômico em que presenciamos uma significativa expansão do consumo das famílias, a economia brasileira passou por um processo recessivo que destruiu postos de trabalho, reduziu o nível de crédito e impactou profundamente o comportamento do consumidor. Nesse cenário, as empresas foram convocadas a rever, e em muitos casos, reestruturar suas estratégias.
    Um consumidor cauteloso precisa ser tratado de forma diferente. Ele precisa ser convencido a realizar a compra, e isso perpassa por um tripé: produto, atendimento e preço. Se uma parte é falha, as outras precisam compensar. O problema, é que muitas empresas não conseguem dosar os níveis de compensação. Além disso, muitas vezes, as empresas ficam focadas naquilo que vendem e esquecem-se que o que deve guiá-las é a necessidade de seus consumidores. Atentar-se a tendências, assimilar tecnologia, repensar processos internos e treinar a equipe para oferecer uma boa experiência de consumo aos seus clientes são elementos que certamente contribuem para que as empresas passem por uma conjuntura desfavorável de uma forma mais tranquila.
  • JI – Existe uma ameaça, por assim dizer, de cortes nos repasses ao Sistema S. Nós temos entidades do sistema que são muito representativas aqui em Montenegro e isso, realmente, acendeu um alerta. Como está sendo vista e enfrentada essa questão pela Fecomércio-RS? Há um risco de diminuição nos serviços oferecidos?
    LCB – Estamos acompanhando essa questão muito de perto. Existem alguns projetos de lei já tramitando no Congresso Nacional e uma ideia inicial do Governo Federal, que felizmente ainda não teve sequência, que retiram recursos dos serviços sociais autônomos e, com isso, imputam riscos a sua atuação. Nosso trabalho tem sido de levar ao conhecimento dos parlamentares e do Governo a quantidade e a qualidade dos serviços prestados por essas entidades, que se destacam e resultam dessa parceria do governo com entidades privadas, como SESC e SENAC, que executam serviços sociais com muito mais eficiência do que o setor público. Por enquanto, temos tido sucesso, felizmente, em barrar todas as ameaças.
  • JI – Nós tivemos, recentemente, o anúncio do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, com a isenção de taxas de importação e exportação. Agora, já há gente com o pé atrás sobre o acerto diante das recentes polêmicas envolvendo reações às queimadas na Amazônia. Mas como o senhor avalia esse acordo? O que ele pode trazer de impacto ao Estado?
    LCB – O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, sem sombra de dúvidas, é uma excelente oportunidade. Juntos, os dois blocos comportam cerca de 800 milhões de pessoas, com potencial de consumo bastante significativo. Em setores que somos bastante competitivos, como produção de aves e calçados, a queda das barreiras tarifárias representará uma possibilidade de aumentar a penetração dos produtos brasileiros (e gaúchos) em um mercado que já temos destaque.
    Entretanto, muitos desafios também se colocam à nossa frente. O aumento da concorrência no mercado interno com produtos que têm qualidade superior e que agora, com a diminuição das alíquotas tributárias, terão seus diferenciais competitivos ainda mais evidenciados, colocam os produtores locais numa corrida contra o relógio para o avanço da produtividade, tanto dentro das empresas como na economia como um todo. No país, a agenda da produtividade passa por uma reforma tributária, especialmente no que diz respeito à tributação indireta buscando a redução dos custos de conformidade, bem como um avanço na agenda de concessões e privatizações. Dentro das empresas, passa pela modernização de processos e assimilação de tecnologia.
  • JI – Em entrevista recente ao Ibiá, o presidente do Sindilojas Montenegro falou da dificuldade do sistema tributário brasileiro e da necessidade dessa Reforma Tributária. Na sua percepção, qual é o principal problema deste sistema atual de cobrança de impostos?
    LCB – É necessário avaliarmos o tamanho da nossa carga tributária, a quantidade de tributos que pagamos e a destinação e utilização desses tributos. Em 2018, os valores chegaram a 33,58% do Produto Interno Bruto. Não recebemos do Estado serviços condizentes com os impostos que pagamos, possuímos uma das legislações tributárias mais complexas do mundo, com um número excessivo de normas, de tributos a pagar e de obrigações acessórias para cumprir. O modelo brasileiro em que todos os entes (União, Estados, DF e municípios) podem legislar, gera complexidades como a do ICMS, resultando em guerra fiscal, privilégios, insegurança jurídica, e consequentemente, um excessivo número de ações judiciais por parte das empresas.
    A Fecomércio-RS defende que uma reforma tributária deva unificar tributos, de modo a reduzir o número de tributos incidentes sobre uma mesma base; além disso, a unificação da legislação com relação ao ICMS é fundamental, pois consequentemente teríamos simplificação, e redução de problemas como o diferencial de alíquotas e a substituição tributária. Precisamos reduzir também o número de obrigações acessórias, ou seja, uma reforma que simplifique, desburocratize e facilite a vida dos contribuintes.
  • JI – Uma das pautas da Fecomércio é sobre a Nota Fiscal Eletrônica, em especial a de Consumidor. Aqui na cidade, mesmo, nós temos empresas pequenas cujos donos não têm e nem sabem mexer em computador, e que, em um futuro próximo, devem estar obrigados a usar o documento. Como isso vem sendo enfrentado?
    LCB – A adaptação das empresas à adoção da Nota Fiscal Eletrônica vem ocorrendo em etapas já faz alguns anos. A Fecomércio sempre pleiteou por medidas que facilitassem essa transição, especialmente para os pequenos, face aos custos necessários para a implementação, bem como as dificuldades com o sinal de internet encontrado em alguns municípios. No ano passado, atuamos junto à Secretaria estadual da Fazenda, o que culminou com a prorrogação do prazo para Microempresas, com faturamento de até 120 mil por ano, de 01/01/2019 para 01/01/2020. Assim, os pequenos empresários ganharam um fôlego para realizar as adaptações necessárias à implantação da Nota fiscal de Consumidor Eletrônica.

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