Economia. Ao contrário dos números positivos verificados na indústria, no varejo local é observada retração na vendas
O setor industrial de eletroeletrônicos cresceu 14,6% no primeiro semestre deste ano. O dado, anunciado com comemoração pela Associação Nacional de Fabricantes do segmento sinalizou o aquecimento da economia, que estava retraída nos últimos dois anos. Nas indústrias de eletro, os televisores foram campeões de fabricação. Comparada com 2017, o crescimento na fabricação do produto foi de 29,98% – índice impulsionado pela Copa do Mundo e o fim do sinal analógico.
No varejo montenegrino, no entanto, a constatação é outra. Já são mais de dez comércios do gênero somente no Centro da cidade e o crescimento do varejo – apesar de ser bom para as indústrias, que tem várias lojas para vender seus produtos – acarreta na segmentação do consumidor, que compra um pouco em cada lugar. Diante disso, os estabelecimentos acabam tendo que buscar novas alternativas para se diferenciarem.
Com quase duas décadas na cidade, a loja onde trabalha o vendedor Oltino Groderes tem constatado um ano pior, em vendas, do que 2017. “Mesmo tendo a Copa, as vendas de eletro tiveram até decréscimo”, lamenta. “A tendência seria melhorar, mas não melhorou. A concorrência vem nos afetando. Entraram duas lojas novas na cidade e as compras pelos sites também vem prejudicando as vendas diretas.”
Oltino destaca, ainda, que por ser um ano de eleição, a incerteza política acaba, historicamente, afastando o consumidor. “A venda estagnou. Tanto que nossas metas tem se mantido parelhas desde o início do ano”, acrescenta. Nesta realidade, o vendedor aponta que está no atendimento o diferencial da loja para fidelizar o cliente. “O consumidor vem procurando o bom preço, mas é o atendimento que conta. Ainda mais aqui (Montenegro) sendo uma cidade relativamente pequena”, afirma. A busca por condições de pagamento diferenciadas também se destaca.
Em outra loja, também tradicional da cidade, o gerente Roberto Silva da Costa aponta que é preciso buscar o consumidor. “Em 2014, 2015, não se falava em crise. Tu estava aqui atendendo e já tinha 2 ou 3 clientes te esperando. Hoje as vendas oscilam bastante. O pessoal parece estar mais detalhista e só compra itens de extrema necessidade”, coloca. O estabelecimento, com isso, tem colocado seus vendedores no contato direto com os clientes antigos, por mensagens, telefone e até com venda externa.
“Eles estão o dia todo tentando buscar o cliente para a loja. Achamos um no sistema que comprou, em 2015 ou 2016, por exemplo, e já vamos entrar em contato para ver o que está acontecendo ou se ele precisa de alguma coisa”, explica. “A gente percebe um comportamento de que, enquanto o consumidor não acabou de pagar um crediário, ele não começa outro.” Além da grande quantidade de varejistas, Roberto avalia que os bons números das indústrias brasileiras de eletro tenham relação com as exportações.
Smartphones têm maior demanda
Acima dos televisores, são os smartphones que receberam o maior destaque nas vendas do varejo montenegrino. Na loja do vendedor Oltino Groderes, ao passo em que as TV’s, os rádios e os notebooks têm baixa procura, dentro da atual realidade, são os smart’s os mais buscados – visto que os equipamentos acumulam as mesmas funções dos demais itens do segmento de eletroeletrônicos.
No estabelecimento gerenciado por Roberto Silva da Costa, a constatação é a mesma. “É uma demanda muito grande a do acesso à internet e isso todo mundo está procurando”, conta. O gerente observa que, diante do desligamento do sinal analógico, esperava um na venda de televisores. Ele, no entanto, acabou percebendo que o consumidor preferiu buscar o conversor do sinal – por ser mais barato – ao invés de uma TV nova.
Na cidade, o fator novidade ainda conta
Gerente de uma loja do ramo inaugurada na cidade há poucos meses, Gabriel Frota de Oliveira afirma que, ao contrário dos concorrentes, os números de venda estão dentro da expectativa prevista. “O fator novidade conta bastante. Tínhamos também outros clientes da marca que já compravam nas unidades de São Leopoldo, Canoas ou pelo site e nossa vinda em dezembro facilitou”, aponta.
Gabriel relata que a marca já vinha “mirando” Montenegro há bastante tempo, mas aguardava um bom ponto de venda para a instalação. Sem ter como comparar números com o comércio local, ele acredita que a multicanalidade – com o cliente podendo comprar pelo site e retirar na loja física -, as condições de pagamento e o relacionamento com o cliente, juntam-se ao “fator novidade” na explicação do alcance à expectativa de vendas.
Lá, TV’s e smartphones figuram entre os itens mais buscados no segmento. “Me parece que o consumidor mudou de perfil. Ele está buscando um produto com maior valor agregado, ao invés dos mais baratos, e fazendo uso das condições de pagamento com mais parcelas”, aponta.