Índice mede a geração de riqueza no Brasil e apresentou involução no último trimestre
Você já deve ter visto no noticiário nacional que o PIB brasileiro caiu 0,2% no primeiro trimestre deste ano. Foi a primeira “involução” do indicador desde o final de 2016, quando ele teve uma queda de 0,6%. De lá para cá vinha subindo de pouquinho em pouquinho. O recente levantamento, divulgado pelo IBGE, deixou o mercado financeiro e o governo bastante alarmados. Mas, afinal de contas, o que o PIB e essa queda têm a ver com nós, cidadãos comuns? Tudo!
O PIB é a sigla para Produto Interno Bruto. Para chegar nele, é considerada muita coisa e cada uma tem um “peso” no índice final. Dentre outros, entra a soma dos bens vendidos ao consumidor final, desde itens como carros até ao pão da padaria. Entram os serviços prestados e remunerados, seja por agências bancárias e até pelas empregadas domésticas. Somam os investimentos feitos pelas empresas para aumentar a produção futura. E até entram os gastos do governo voltados a atender a população, como o salário dos professores e a compra de armas para o Exército, por exemplo.
“O PIB é, sem sombra de dúvidas, o nosso termômetro da geração de riqueza”, explica o professor Cleverson Pereira, que leciona na disciplina de Cenários Econômicos no Centro Universitário Internacional Uninter. “Ele é que demonstra o caminho que nós estamos tracejando”. E como evidencia o indicador divulgado, o tal caminho não está dos melhores.
Um PIB alto significa renda, economia crescendo, dinheiro disponível, empresas abrindo, empregos gerados, mais oferta de produtos e, com isso, menos inflação. Com o PIB caindo, a gangorra, obviamente, passa a pender para o outro lado. Isso reflete na realidade de todos.
O que houve com o PIB do trimestre?
O professor Cleverson Pereira indica que foi a incerteza política o principal fator para a recente involução do PIB. Ele coloca que o empresariado, interno e externo, iniciou 2019 muito confiante na economia brasileira pela entrada de um novo governo liberal. Mas as coisas não andaram como o planejado, o que afugentou investidores e não trouxe crescimento.
“É muita incerteza. Nosso país não apresenta um destino certo”, avalia o especialista. “Ficam nesse aprova/não aprova com a Reforma Trabalhista. Tem também a Reforma Tributária, que está lá e não se tem nem previsão de votação. Com essa não articulação, o País não teve um rumo correto nestes cinco meses. Para ir para uma situação de certeza, é preciso reformas aprovadas”, afirma.
Saindo do campo político, ele coloca outros fatores que contribuíram para o panorama do PIB no primeiro trimestre. Neste caso, influenciou o desemprego, que limitou o consumo; e também a tragédia de Brumadinho, que, dentre outras consequências, acarretou em queda na produção da Vale e derrubou um setor de peso na construção do indicador, que é a indústria extrativa.
Para Cleverson, não há muito o que se fazer em 2019 além de tentar segurar as coisas como estão e, no campo político, alinhar as contas públicas com as reformas. “Já não dá tempo de esperar muito para este ano”, salienta. “Eu só vejo uma perspectiva de fazer um PIB regular em 2019 para, em 2020, ter um PIB que realmente mude esse cenário. Que seja de oportunidade e de aceleração”.
Incerteza para investimentos é primeira consequência
O índice divulgado pelo IBGE para o trimestre mostra a economia que esperava-se que fosse evoluir neste ano, ao contrário, decaindo. A primeira consequência dessa divulgação, de acordo com Cleverson, é a incerteza trazida aos investidores.
“Gera preocupação, pois o empresário está com seus projetos na gaveta, seja para ampliar sua indústria ou contratar mais pessoas, mas aí ele fica pensando: e agora? Será que o País vai andar? Será que os investidores externos vão acreditar na gente?”, coloca. “Está muito sem rumo e incerto”.
Os setores que mais pesam no PIB são a agricultura, a indústria, o comércio e a prestação de serviços. Estes, de acordo com o especialista, são os que mais sentem esse impacto da “involução”. E se os empresários (e possíveis empresários) resolvem pisar no freio, eles diminuem a produção. Com isso, as fábricas ficam ociosas; os estabelecimentos fecham unidades e, ao invés de criarem empregos, eles passam a demitir.
Nessa incerteza toda, aquela pessoa que está esperando para construir a casa própria, comprar um carro ou até, que seja, adquirir um eletrodoméstico, também é obrigada a repensar suas compras para não trocar o certo pelo duvidoso. “E o fato desse consumidor ficar com medo de consumir também interfere na geração de riqueza, de maneira geral”, salienta o professor.
Quando esse cidadão deixa de comprar bens e contratar serviços, os produtos passam a sobrar nas prateleiras, o dinheiro deixa de girar, as empresas ficam ainda mais ociosas e o problema do desemprego aumenta. Isso impacta no PIB. Esse, como colocado acima, gera ainda mais incerteza; e por aí vai. É uma verdadeira bola de neve que, no caso, está se direcionando barranco abaixo.
Como foi cada segmento:
– Serviços: cresceu 0,2%
– Indústria: diminuiu 0,7%
– Indústria extrativa: diminuiu 6,3%
– Agropecuária: diminuiu 0,5%
– Consumo das famílias: cresceu 0,3%
– Consumo do governo: cresceu 0,4%
– Investimentos: diminuiu 1,7%
– Construção civil: diminuiu 2%
– Exportação: diminuiu 1,9%
– Importação: cresceu 0,5%