Pesquisa aponta para violência psicológica, sexual e física. Comportamento dos adolescentes deve ser observado
Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que a violência é um fator presente em quase todos os relacionamentos afetivo-sexuais dos jovens. Promovido em 10 capitais brasileiras, o estudo trouxe que em Porto Alegre 84% das relações analisadas reconheciam ter características de violência física, psicológica, verbal ou sexual. A idade mínima dos entrevistados é de 15,9 anos.
A psicóloga montenegrina Milena Bitencourt não recebe os dados com surpresa. Localmente, segundo ela, o mesmo comportamento é identificado. “Parte dos atendimentos que costumo ter no consultório têm como demanda a questão da violência”, ressalta. A profissional trabalha com adolescentes e está se especializando em terapia cognitiva comportamental.
A Fiocruz constatou que 86,1% dos entrevistados já sofreu algum tipo de violência nas relações. Número ainda maior, 86,5%, afirmou ter praticado ato violento. Para Milena, este reconhecimento do agressor é potencializado pelas campanhas que dão foco à violência. Apesar de essa auto-responsabilização aumentar as chances de mudança de comportamento, ela não basta.
“É necessário uma confluência de fatores, onde as informações recebidas (nas campanhas), trabalhadas com a tríade social família-escola-comunidade, dão o suporte necessário para que ocorra uma mudança de fato”, explica. Para a psicóloga, este é o grande desafio, pois é na adolescência que o jovem se distancia da família para “estruturar seu eu”. Ao desenvolver um comportamento violento – ou se envolver com uma pessoa violenta – sem nenhuma consequência ou chamada de atenção, o comportamento pode virar padrão.
De acordo com a pesquisa, a violência psicologia é a que mais se apresenta nos relacionamentos dos jovens, em 87% dos casos. Ela ocorre, muitas vezes, de forma sutil, através de olhares recriminatórios ou chantagens, para fragilizar ou diminuir a vítima. Em 53,3% dos casos, está presente a violência sexual e, em 34,4%, a violência física.
22,8% já pensaram em suicídio, aponta o levantamento
O levantamento da Fiocruz foi divulgado na semana passada, durante a I Mostra Regional de Saúde de Adolescente, no campus da Univates, em Lajeado. No evento, a doutora em enfermagem pela UFRGS, Joannie Fachinelli, apontou que os resultados servem para desmistificar a ideia de que namoro não é um lugar de violência, indicando que, hoje, este é um problema quase invisível à sociedade.
Joannie afirmou que os jovens são o grupo que menos costuma pedir ajuda quando se veem em alguma situação do tipo e que, por isso, representam risco. Um total de 22,8% dos jovens consultados para a pesquisa revelaram já ter tido ideação suicida motivada por algum tipo de relacionamento.
“Precisamos discutir quais são as possibilidades de intervenção pelo setor da saúde. Existe alta prevalência, mas baixíssima procura por ajuda. O profissional precisa intervir mais, pois o jovem não vai buscar o auxílio. Mesmo demonstrando total entendimento da importância do apoio da família e dos profissionais, ele recorre primeiramente aos amigos”, colocou.
Para a psicóloga Milena Bitencourt, cabe aos pais, e atéàa escola, ficarem atentos ao comportamento de seus filhos. “Por uma questão cultural e de desenvolvimento, percebo que os jovens esperam que a família ou escola os levem a buscar ajuda. Devemos estar atentos às mudanças de comportamento, pois este costuma ser o maior indicativo de que algo não vai bem”, coloca. Ela também estimula o diálogo dentro de casa.