Escola Estadual Aurélio Porto é um dos seis educandários de Montenegro destelhados no vendaval de 1º de outubro
Por sorte, era domingo e não havia nenhuma criança e funcionários na Escola Estadual de Ensino Fundamental Aurélio Porto, em Montenegro, no final da tarde de 1º de outubro, data em que parte do telhado do prédio foi arrancada pelo vento. Já passaram três meses, mas a situação no local ainda não voltou ao normal. Voluntários se revezam na tentativa de evitar que os estragos sejam ainda maiores, mas a rotina tem cansado os envolvidos.
A aposentada Vera Lucia Martins chega à escola carregada de sacolas. Dentro delas, estão garrafas plásticas e latas para serem entregues ao Conselho de Pais e Mestres (CPM). Ela é vó de um aluno do 4º ano do Ensino Fundamental e, assim como o restante da família, se mobiliza para arrecadar materiais que serão vendidos para promover melhorias no espaço de ensino, que atende a cerca de 110 crianças. Os valores obtidos com a reciclagem são usados na manutenção do prédio, como por exemplo, na aquisição do sistema de alarme, substituição de caixas de descarga dos sanitários e outras necessidades básicas que não são cobertas pelas verbas recebidas do Governo do Estado.
O problema é que, no caso do telhado, o CPM não tem como ajudar e a saída está sendo aguardar pelo “socorro”, ou seja, pelas telhas. Contudo, educadores e comunidade não estão de braços cruzados. Desde o dia da intempérie, o voluntário Arthur da Silva, 64 anos, professores, equipe diretiva e funcionários estão mobilizados para que o prédio não sofra outras perdas. A direção conseguiu uma lona junto à Defesa Civil do município, mas isso não foi suficiente. Vendo a situação, Arthur foi ao local com suas ferramentas e reforçou o trabalho feito. Porém, a cada chuva, não há como evitar que a água invada as cinco salas danificadas no temporal. Quando isso ocorre, o aposentado e os colaboradores se revezam para impedir que as lonas se desloquem e a água tome conta das instalações.
Alguns transtornos, como umidade, inchaço de assoalho e abalos na rede elétrica, já são notados. Agora o receio é de que os móveis e equipamentos eletrônicos sofram danos devido às chuvas. Indignado com a situação, Arthur diz que a culpa da situação é do Governo do Estado e cobra providências. “Eles sobem no palanque eleitoral e prometem saúde, segurança e educação, mas, na verdade, a única preocupação é com o próprio salário. Quero ver o governador levantar de madrugada para ver se está chovendo dentro de uma escola, como a gente tem feito”, desabafa.
Vera concorda que a obrigação de promover melhorias na escola é do Estado, mas também busca fazer a parte que lhe cabe para que seu neto não saia prejudicado pela falta de estrutura. “A obrigação é do Governo, mas a gente faz isso pra ajudar”, comenta. A direção da escola não se manifestou sobre o assunto.
A assessoria de comunicação da secretaria estadual de Educação (Seduc) informa que o processo está em andamento e não há data definida para a solução. A força-tarefa montada pelas secretarias de Educação e de Obras, Saneamento e Habitação trabalha para que tudo seja resolvido até o início do ano letivo. Segundo a assessoria, a documentação encontra-se em análise na Coordenadoria de Obras do Departamento Administrativo, que centraliza ainda os processos referentes às demais escolas de todo o Estado que sofreram com o mesmo problema. A Aurélio Porto é uma das quatro da 2ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) atingidas pelo temporal de outubro.