Muito mais do que Associação, ACB é local de resistência, cultura e símbolo de ancestralidade
Durante setembro, mês em que a Associação Cultural Beneficente (ACB) Floresta Montenegrina completa 105 anos, uma programação especial foi montada pela organização. A data oficial de aniversário é dia 28. Além de eventos para arrecadação de recursos destinados à reforma da sede, a programação conta com lançamento de novo projeto voltado às mulheres empreendedoras da Cidade das Artes. A ACB foi fundada em 1916 com a intenção de criar um ambiente social para a comunidade negra, que na época, era impedida de frequentar socialmente os demais clubes da região.
Mas, no auge de seus 105 anos, se tornou muito além do que se poderia imaginar. A Associação, hoje em dia, é um ambiente de resistência, cultura, tradição e muito conhecimento na Cidade das Artes. “É um local de integração das famílias negras e incorporou ainda, ao longo dos anos, outro papel: lugar de memória e resistência negra que visa a preservação da história, cultura e ancestralidade do negro no Vale do Caí”, destaca Letícia Santos, atual presidente da ACB.
Ela explica que a Associação atua como um espaço de apoio à cena artística, à comunidade religiosa de matriz africana, às ações de saúde da população negra, de empreendedorismo social e promoção da igualdade racial. “A entidade ao longo de seus 105 anos de história, foi sede de diversos eventos, abrigou Escolas de Samba, desfiles de beleza, palestras e seminários geralmente voltados à preservação da História e cultura negra da região do Vale do Caí.” Em novembro de 2019, a ACB iniciou a campanha da reforma, com o lema “Reforma, Amigos e Floresta”. “Com isso, temos como objetivo adequar o espaço de forma digna para continuarmos nossas atividades”, reforça Letícia.
Thais Santos, atual primeira secretária da ACB, conta que sempre fez parte do grupo, mas que está na diretoria desde 2019, a última eleição. Para ela, a associação representa resiliência. “É importante por não deixar de lutar e promover a cultura afrobrasileira em Montenegro e em toda a região do Vale do Caí. Somos o único Clube Social Negro de toda a região e com 105 anos de história, de material rico e de pessoal engajadas na luta”, ressalta. Para ela, o grupo é muito mais do que uma entidade. “Não apenas aderi ao movimento negro, sou negra e minha trajetória de vida passa pela ACB. A sociedade me aproximou da minha história, dos meus antecedentes e da comunidade em que estou inserida. Não tinha como agora eu não estar presente”, afirma.
Programação de aniversário
No próximo domingo, dia 12, a Associação promove, das 9h às 16h, o Brechó da Reforma e lançamento do coletivo Empreendedoras Negras de Montenegro, na realização de sua 1ª Feira. O evento, que ocorre diretamente na sede (rua Flores da Cunha, 291) arrecadará fundos para a reforma do local. Haverá venda de roupas, acessórios, artesanatos e alimentos a partir de R$ 2,00.
Já no dia 26 de setembro, a ACB promove um Kit Chá pegue e leve das 9h às 12h. A retirada ocorrerá diretamente na sede. Para adquirir o cartão, os locais de venda são a Focus English Tutoring (Centro Comercial Timbaúva), sala 112, térreo e Salão Neza, localizado na Travessa Teobaldo Pacine, 30. Reservas também podem ser feitas com a própria Letícia, através do número (51) 9 8241-9974. No valor de R$ 15,00, você garante uma fatia de bolo, salgados e doces diversos e um cachorro quente. No dia 28 de setembro, a ACB realizará uma confraternização de encerramento apenas para convidados devido à pandemia e também apresentará aos presentes suas representantes para concursos de beleza do Rio Grande do Sul.
Coletivo Empreendedoras Negras
“A mulher negra ao longo dos anos tem um legado de resiliência, tenacidade e insistência na luta pela igualdade de gênero”. Este é o posicionamento da presidente da ACB. Ela explica que além do sexismo, o racismo e o preconceito racial são barreiras iminentes do movimento. “Através dos tempos lutamos por reconhecimento em diversas áreas e vemos no empreendedorismo uma das fontes de renda, encorajamento e sucesso pessoal”, destaca.
Pensando nisso, ela afirma que o novo coletivo tem como objetivo dar visibilidade ao trabalho das mulheres negras do município. “Este projeto está sendo desenvolvido como um braço da ACB, das políticas de promoção da igualdade racial. Atualmente contamos com 18 empreendedoras locais, no ramo de artesanato, estética feminina, moda e vestuário, alimentação, serviços de saúde, serviços de educação e assessoria para pequenos negócios”, explica. Ela conta, ainda, que as participantes do coletivo participarão de feiras, assim como receberão assessoramento e treinamentos para viabilizar seus negócios e reitera que o grupo está aberto para novas adesões. As interessadas devem entrar em contato diretamente com a Letícia.