Na rua Castro Alves, evento reuniu pessoas em um momento voltado a arte da escrita e reflexões sobre diversidade
Mesmo com a chuva que caiu no final de semana, o tradicional evento literário Rua da Poesia reuniu a comunidade montenegrina para um momento especial de arte e reflexões. Em sua sétima edição, a atividade promoveu uma série de debates sobre discriminação, racismo, liberdade, igualdade e, claro, muita poesia.
Com duração de 24 horas, a Rua da Poesia teve início às 23h59min da última sexta-feira, 8, e seguiu até às 23h59min do sábado, 9. Como de costume, a atividade foi realizada na rua Castro Alves no bairro Ferroviário, em homenagem ao poeta brasileiro que teve grandes contribuições para o País.
“Apesar de tão pouco tempo de vida, ele conseguiu legar tamanha obra, sobretudo no que diz respeito à atualidade quando falamos nos conceitos de liberdade, de república, de igualdade, de dignidade, de participação, combatividade e o papel que da poesia enquanto arte”, disse a organizadora, Maria Izabel Vargas da Silva, sobre o motivo de o evento ser realizado na rua específica.
Aberta à comunidade, a programação cultural foi vasta e contou com sessões de Yoga, apresentações artísticas e venda de alimentos, bebidas e artesanatos, além de livros de poesia autografados e comercializados pelos próprios autores.
Para contribuir com o debate, moradores do Kilombo Morada da Paz participaram da roda de conversa no final da tarde do sábado, e contaram suas experiências na comunidade e os desafios que que a população negra enfrenta. “Acho muito importante trazer pessoas com diferentes culturas e opiniões onde podermos mostrar nosso ponto de vista e fazer essa discussão”, disse o quilombola Ayan.
Entre uma fala e outra, a riqueza cultural dos quilombolas impressionou e emocionou quem estava presente. Para além dos turbantes floridos, dos batuques rítmicos dos tambores e as orações cantadas em vozes suaves, Ayan contou como a arte está presente em sua comunidade.
“Nós moramos no meio da natureza, mas todas as nossas casas são muito coloridas, seja por grafite ou com desenhos de nossas próprias mãos. A música também está muito presente no nosso dia a dia, assim como a dança, o teatro e a poesia. Dessa forma, a gente junta tudo isso e tenta fazer um debate sobre empoderamento negro, racismo, homofobia e tentamos empoderar outras pessoas a fazer o mesmo, porque todo mundo tem um talento”, completou.
Por intolerância, o evento foi interrompido por alguns minutos
Levar cultura para a comunidade é o principal pilar do evento literário Rua da Poesia. Ao final das apresentações artísticas dos moradores da comunidade Kilombo Morada da Paz, os presentes no evento foram surpreendidos com uma cena lamentável de intolerância e a falta de respeito, o que reforça a necessidade de mais debates como esse na sociedade.
Enquanto o grupo de quilombolas encerrava a apresentação, em uma das casas próximas à tenda onde as atividades estavam sendo realizadas, um morador abriu o porta-malas do carro e deixou o som em volume alto. A reportagem do Jornal Ibiá estava presente no momento do ocorrido e, segundo a organizadora do evento, essa é a primeira vez que isso acontece em sete anos. “A discriminação segmenta, separa a sociedade e nos enfraquece, então o intuito da nossa atividade é chamar a comunidade para disseminar essa compreensão e fazer o uso da rua, que é de pertencimento a todas as pessoas, e é claro que isso implica em embates mil, como podemos ver nessa situação”, diz Izabel.