Ações ocorrem na escola Esperança e buscam refletir sobre a representatividade na construção da autoestima
Com apenas 12 anos, a ideia de que o cabelo cacheado e volumoso era ruim, deixava Sabrina Gabrieli Vilas Nova insegura. Há algumas semanas, seus cabelos eram presos na forma de tranças. Agora, a aluna do 4º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Esperança, que sonha em ser fotógrafa, aos poucos, tem deixado os cachos rebeldes e poderosos soltos. A menina negra, de olhos castanhos e sorriso contagiante tem descoberto que o caminho é difícil e que a sociedade impõe padrões de beleza, mas que a coragem e determinação são maiores.
Sabrina é uma das alunas que participa do projeto de “Empoderamento da criança negra através da representatividade”, idealizado pela professora Monaliza Furtado. Uma das atividades realizadas dentro desta proposta foi a procura de bonecas que justamente representassem os alunos, seja com cabelos escuros ou cachos, cor de pele e cor dos olhos, iniciativa que resultou no vídeo: Procuram-se bonecas pretas, inspirado na letra da música de Larissa Luz.
Assim como Sabrina, a colega e amiga Calita Marques de Ávila, de 11 anos, também participa do projeto e descobriu que existem muito mais preconceitos que poderia imaginar. “Não tinha muitas bonecas parecidas porque elas tinham olhos diferentes, o que mais tinha era verde e azul”, comenta a menina de cabelos longos, escuros, lisos e olhos castanhos.
Das dezenas de lojas visitadas em Montenegro, em apenas uma as crianças encontraram bonecas que não representavam o estereótipo de beleza definido. Para reverter essa imagem da falta de representatividade, Monaliza e os alunos criaram suas próprias bonecas, que fossem semelhantes a elas. “Se a gente não encontra, então vamos fazer”, reforça a professora.
Projeto conquista reconhecimento estadual

A iniciativa de Monaliza tem sido tão importante para a construção de cidadania das crianças que foi um dos selecionados ao 5º Prêmio RBS de Educação, concorrendo como finalista na categoria Destaque Raça.
A ideia deste projeto, segundo Monaliza, faz parte da proposta de construção de autoestima na prevenção das drogas, desenvolvido dentro do ambiente escolar. “A gente notou, principalmente, que a criança negra tem essa questão da autoestima prejudicada, por vários fatores, entre eles por não estarem representadas. Isso é muito relevante na construção da autoestima das crianças. Em se tratando das crianças negras é ainda maior”, avalia.
Outra iniciativa super importante foi refletir sobre a leitura de biografias de mulheres negras e outros autores negros que pouco aparecem nos lugares de destaque, além de auxiliar no processo de empoderamento das crianças negras. Com a ajuda do livro “Histórias de ninar para garotas rebeldes – 100 fábulas sobre mulheres extraordinárias”, os alunos descobriram palavras como representatividade, preconceito, empoderamento e justiça. “Os alunos sempre queriam mais histórias e já identificavam situações de injustiça e também de poder daquelas mulheres”, explica Monaliza.
Agora, o olhar das crianças já é diferente, mais crítico sobre situações do cotidiano e fatos históricos. “Para além da leitura e escrita sem significado, a aquisição desses conhecimentos é que vai trazer para eles uma aprendizagem significativa e que muda a vida”, argumenta ela.
Para o futuro, a educadora vê que as crianças terão oportunidades, que sabem que podem e são capazes de ser, o que quiserem apesar da falta de representatividade.
A premiação será no dia 10 de novembro e a escolha será definida por um júri técnico.
Confira o vídeo produzido pelos alunos com a coordenação de Monaliza: