Planejamento do orçamento é essencial para evitar dívidas
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores Gaúchos (PEIC-RS), da CNC, encerrou o ano com o maior percentual de famílias endividadas desde o início da série histórica, em janeiro de 2010. Divulgada pela Fecomércio-RS em 12 de janeiro, a pesquisa revelou que além do percentual de famílias endividadas ter aumentado, o percentual de famílias que se considera muito endividada também cresceu muito.
Conforme os dados, em dezembro de 2021 o Estado registrou um recorde de famílias endividadas: 88,7%. Em comparação com o mês anterior, em novembro de 2021, esse percentual era de 86,1% e, em dezembro de 2020, correspondia a 71,6%. Os dados mostram um aumento maior nas famílias de menor renda (até 10 salários mínimos), em que 90,9% registraram a condição de endividadas. Contudo, a alta também se verificou nas famílias de maior renda, passando de 75,5% em novembro de 2021 para 79,6% em dezembro de 2021.
Apesar dos dados representarem um endividamento recorde, para a economista chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, os números mostram apenas que essa parcela da população tem algum tipo dívida, o que não significa que elas estão muito endividadas e nem na inadimplência. “Nem sempre ter dívidas é algo negativo, por exemplo, a maior parte das pessoas só consegue comprar uma casa ou um carro parcelando. Outra questão é o cartão de crédito, que quase todo mundo faz o uso continuado, isso é uma dívida. Então ser um endividado não significa ser um inadimplente, é ter uma parcela da sua renda comprometida com o pagamento de dívida futura”, destaca Patrícia.
Outro ponto relevante a se destacar na pesquisa diz respeito ao tempo de comprometimento com as dívidas. Atualmente, as famílias têm um comprometimento médio de 6,8 meses com o pagamento de dívidas, esse prazo teve aumento tanto em relação ao mês anterior, que era 6,5, meses, quanto em relação ao mesmo período de 2020. Para Patrícia, o alongamento do prazo pode estar sendo usado como estratégia por parte das famílias para evitar uma alta maior na inadimplência ou a persistência da mesma. “As famílias estão alongando o prazo das suas dívidas. Essa é uma forma de tentar evitar que a dívida pressione o orçamento. Mas mesmo nesse cenário a gente também tem visto uma aumento do percentual de famílias com conta em atraso”, diz a economista.
A PEIC-RS mostrou também que o indicador de dívidas em atraso registrou leve aumento, de 25,3% em novembro de 2021 para 26,8% em dezembro de 2021. Em relação a dezembro de 2020, o indicador ficou praticamente estável, em 26,4%. Por outro lado, o percentual das famílias que declaram que não terão condições de quitar suas dívidas dentro dos próximos 30 dias registrou nova mínima histórica: 2,4%. Em novembro de 2021, o percentual havia sido de 2,7% e em dezembro de 9,6%. Para Patrícia, esse dado é uma boa notícia, pois revela que as famílias seguem se esforçando para manter em dia a quitação de suas dívidas. “Essa é a notícia positiva dentro desse cenário. O indicador da perspectiva de pagamento de dívida nos próximos 30 dias está na mínima histórica. Então isso significa que as pessoas ainda estão evitando ficar nesse estado de inadimplência”, aponta a economista.
Planejamento do orçamento é fundamental para evitar inadimplência
O aumento do endividamento das famílias gaúchas acende um sinal de alerta também para uma maior inadimplência nos próximos meses, afirma a economista chefe da Fecomercio-RS, Patrícia Palermo. Ela explica que esse cenário vem sendo motivado principalmente pelo aumento da inflação e a alta dos juros. “A inflação está crescendo e tomando conta do orçamento das famílias, então elas precisam acessar crédito para continuar consumindo. Mas os juros também estão subindo, o que acaba pressionado ainda mais o orçamento”, destaca.
Com esse cenário, Patrícia aponta que a população deve estar cada vez mais atenta para evitar a inadimplência. “A primeira coisa é ter uma consciência muito clara da sua renda e da sua capacidade de consumo com essa renda. Então enquanto você tiver dívidas a serem pagas, tem que evitar fazer novas dívidas”, afirma.
A economista também alerta para a tomada de crédito, medida que muitas famílias têm recorrido para evitar a inadimplência. Segundo ela, o crédito é um adiantamento de renda, mas deve ser planejado para caber dentro do orçamento. “Antes de tomar dinheiro emprestado, temos que pensar como vamos pagar por esse dinheiro. Outro ponto é pensar se vale a pena tomar esse dinheiro emprestado”, avalia.
Em todos os cenários, Patrícia diz que a melhor saída é o planejamento do orçamento, principalmente quando já se está no limite da renda. “Quando a gente tem menos dinheiro temos que cuidar muito mais pra evitar que certos gastos, ainda que pequenos, possam nos levar para uma situação complicada em termos de endividamento e até de inadimplência”, finaliza.