Pedintes já são parte do cotidiano do comércio de Montenegro

Em situação de rua e sem comida, muitas pessoas acabam recorrendo à solidariedade dos estabelecimentos para se manterem, principalmente no frio

A realidade de pessoas que não têm onde morar ou o que comer é dura e especialmente difícil nos dias frios do inverno. Apesar de existir uma política pública municipal que busca dar apoio a esses indivíduos, na prática ela parece pouco efetiva e, em alguns pontos de Montenegro, o número de cidadãos em situação de rua demonstra crescimento. No comércio local isso é sentido e é uma realidade a se conviver.

Na lancheria onde Lisiane Oliveira trabalha, os pedintes são comuns. O estabelecimento é de seu pai e fica próximo da Estação Rodoviária. “O pai sempre dá alguma coisa. Ele sente pena e não queria que fosse um de nós (filhos) que tivesse passando por aquilo”, conta. Com sete anos no ramo, o estabelecimento já lidou com situações delicadas, recebendo pedidos diários e foi preciso impor certos limites.

Lisiane relata, ainda, que muitos nem comem no local, mas pedem o alimento para sua família. “A maioria diz que precisa levar. Que a família precisa e que não tem. A gente dá um pão ou faz uns sanduíches”, coloca. Alguns dos pedintes que passam pela lancheria são apontados como “fixos”, com três que praticamente tem dia e hora certos para aparecer.

Próximo da Praça Rui Barbosa, o restaurante onde trabalha o garçom Guilherme Gadonski tem realidade similar. “Tinha um, o Fabinho, que é papeleiro. Ele vinha todo o meio dia para almoçar aqui e a gente dava. Agora ele tem vindo menos, porque achou outro lugar, mas, de vez em quando, ele aparece”, narra Guilherme, observando que o estabelecimento acabou criando uma relação de proximidade com o pedinte.

Na localidade onde atua, no entanto, ele tem visto o número de pessoas em situação de necessidade e que precisam pedir comida crescer. “Aumentou em uns 50% e nunca parecem ser os mesmos. Seguido tem algum sentado aqui na frente esperando alguma coisa para ganhar”, lamenta. Guilherme diz que, em alguns casos, é preciso paciência. Ele e os colegas tentam lidar com os indivíduos sem serem rudes, para evitar transtornos ou atrapalhar a clientela.

E é exatamente pelo comportamento que a empresária Jociane Sirtoli, dona de uma cafeteria na Ramiro Barcelos – próxima da Rua Santos Dumont – reconhece se o pedinte realmente está em situação de necessidade. “O mendigo mesmo, ele não pede dinheiro. Só o alimento. Eles são bem humildes e não te exigem. Não são aqueles que pedem e ainda saem brabos se tu não dá”, aponta. Jociane constata que, hoje, não existem muitas pessoas em situação de rua nas proximidades do seu estabelecimento e que, por isso, o volume dos pedidos não é grande. Mas sempre que aparece alguém, ela costuma ajudar.

Prefeitura tem 15 vagas no Recreo

Dona de UMA lancheria, Ivanete Delazere avalia que são necessárias maiores políticas públicas que atendam as pessoas em situação de rua

Para Ivanete Delazere, sócia de uma lancheria próxima ao cinema, a situação é a mesma que a dos estabelecimentos colegas. “Eles vem aqui na frente, mas não chegam a entrar. Às vezes damos lanche, às vezes arrumamos uma marmitinha”, conta. “No meio, às vezes tem uns que se aproveitam. Tem uns que chegam bêbados. Mas dinheiro a gente nunca dá, só comida.” Questionada sobre políticas públicas que auxiliem indivíduos nessa situação, Ivanete é categórica: “ninguém ajuda em nada.”

Montenegro, no entanto, tem como política para estes casos a cessão de vagas no Recreo. Por convênio, a Prefeitura possui 15 por mês para esse fim, que são viabilizadas por intermédio do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS). No Recreo, as pessoas em situação de rua recebem alimentação, pouso, banho e roupas limpas. De acordo com a diretora de Assistência Social do município, Leila Ternes, no entanto, nem todos aceitam ficar no local e receber os atendimentos. Sem se adaptarem, acabam voltando para as ruas.

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