Novo pedágio está previsto para o KM 30 da ERS-240, em Paquete
Uma praça de pedágio perto de casa ou da empresa em que trabalham. Quais os prejuízos para os moradores e empresários de localidades como Paquete e Pareci Velho, em Capela de Santana, perto da divisa com Montenegro, com a instalação prevista de uma praça na altura do quilômetro 30 da ERS-240? E o impacto também do pedágio no comércio e serviços de Montenegro. Foi o que a reportagem buscou saber conversando com moradores.
O alto custo das tarifas, que serão cobradas nos dois sentidos e sem previsão de isenção para os moradores locais, deixa-os preocupados e revoltados. Apesar das promessas de melhorias na rodovia e oferta de serviços, todos protestam.
A preocupação dos moradores cresceu com o aumento de 83% nas tarifas do pedágio de Portão, em fevereiro, quando a empresa Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), que venceu o leilão da concessão, assumiu as rodovias estaduais do bloco 3. Em questão de um ano está prevista a desativação da praça de Portão e a instalação dos novos pedágios em Capela de Santana e São Sebastião do Caí (KM 4 da RS 122 no bairro Areião). Ainda não se sabe ao certo quanto custarão as tarifas, mas o que aconteceu na praça de Rincão do Cascalho (Portão) dá uma previsão. Com o aumento, a tarifa para automóveis no pedágio de Portão passou de R$ 6,50 para R$ 11,90. Motos passaram a pagar R$ 6,00. Caminhões, dependendo do número de eixos, fica entre R$ 23,80 (dois eixos) e R$ 71,40 (seis eixos).
Para o comércio de Montenegro, o pedágio também poderá se tornar uma barreira. Muitos moradores de localidades de Capela de Santana, pela proximidade e por ter mais opções, costumam fazer suas compras e buscar os serviços em Montenegro. Mas se tiverem que gastar cerca de R$ 20,00 de tarifa, podem optar por se dirigir ao Centro de Capela ou Portão. A mesma preocupação tem quem mora em Montenegro e precisa se dirigir diariamente para Capela, Portão e o Vale do Sinos.
A revolta dos moradores
“Ninguém é a favor desse pedágio aqui. Minha esposa trabalha em Montenegro e vai todo dia. Nós costumamos ir a Montenegro, que tem mais opções no comércio e serviços. Quanto isso vai custar?”, questionou Paulo Sérgio dos Santos, morador do Pareci Velho há quinze anos.
O empresário Jeferson Fagundes, que tem uma floricultura ao lado, também protesta. “Com certeza o pedágio vai trazer muitos prejuízos. Vou 5 a 6 vezes por semana para Montenegro. Só hoje fui três vezes. Todo mundo é contra o pedágio aqui”, diz, indignado, enquanto carrega um caminhão com flores.
Adão Roveda de Oliveira, morador do Centro de Capela de Santana, é outro que projeta grandes prejuízos. “O pedágio vai ser péssimo. Vai prejudicar o crescimento de Capela de Santana e principalmente o nosso bolso”, calcula, sentado ao lado da irmã Eva Severo, enquanto cuidam de uma tenda de frutas na margem da rodovia. “Vai prejudicar o nosso comércio. As pessoas vão fazer de tudo para não passar por aqui”, completa ela.
Do outro lado da faixa, caminhando pelo acostamento até um mini-mercado, Sandra Schreimer também mostra grande preocupação. “Tudo que a gente precisa vamos a Montenegro, que tem mais opções no comércio. Mas com o pedágio vai sair bem mais caro, ainda mais cobrando na ida e na volta, sem ter desvio”, reclama.
Fazendo compras no mercado, Zaira Wasun também protesta. “Vai ser muito ruim para nós. Tenho três pessoas na família que vão todo dia para Montenegro. Minha filha já está falando em ir morar em Montenegro para não pagar pedágio todo dia”, queixa-se.
No caixa do mercado, o comerciante Matheus Lehn projeta que os comerciantes também sairão prejudicados. “Vamos ter que pagar pedágio todo dia, para ir e vir”, diz.
Reduzir tarifas
Prefeitos e lideranças da região, desde o anúncio da concessão e instalação dos novos pedágios, manifestaram contrariedade. Inicialmente uma nova praça chegou a ser anunciada para a RSC-287, no Muda Boi, um dos trechos que mais necessita de melhorias. Mas logo depois mudou para a ERS-240 em Capela de Santana. O prefeito de Capela, José Alfredo Machado, juntamente com vereadores, ingressou com ações na Justiça, Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado, mas não obteve sucesso. Também organizaram manifestações, abaixo-assinado e reuniões, mas até o momento não foi possível barrar a instalação do novo pedágio.
O prefeito de São Sebastião do Caí, Júlio Campani, vem lutando para que os caienses tenham direito a isenção no futuro pedágio da ERS-122, como ocorria antes em Portão quando da gestão da EGR. Entretanto, até o momento não teve essa garantia. Os prefeitos também estão acompanhando a situação de Portão, onde o município ingressou na Justiça para tentar manter a isenção aos moradores locais. Caso a isenção para veículos emplacados em Portão fosse mantida, poderia beneficiar depois também os moradores de Capela e Caí. Mas, em primeira instância, a Justiça não concedeu a isenção.
O prefeito de Portão, Kiko Hoff, anunciou que vai asfaltar todo o desvio entre a ERS-240 e a ERS-122, mas a obra só deve ser concluída pela metade do ano. O prefeito do Caí, Júlio Campani, também diz que poderá melhorar as condições de desvios. Já no caso do trecho entre Capela e Montenegro, devido a proximidade com o rio Caí, não haverá por onde desviar do pedágio.
A Associação dos Municípios do Vale do Rio Caí (Amvarc), presidida pelo prefeito de Montenegro, Gustavo Zanatta, destaca que o contrato de concessão foi assinado pelo Governo do Estado e dificilmente terá uma reversão. “A luta agora é pela redução das tarifas, que são muito onerosas. Essa será a ação da Amvarc: trabalhar pela redução das tarifas”, diz Zanatta.
O Governo alega que somente com a concessão poderão ser realizados os investimentos necessários na melhoria das rodovias, já que o Estado não dispõe de recursos para executar as obras. Além de melhorias na pavimentação, também devem ser construídas passarelas, viadutos, duplicações de pista, terceiras faixas, ciclovias, acessos, sinalização e iluminação, mais a oferta de serviços como de guincho e ambulância. Isso deve ocorrer de forma gradativa, iniciando com pequenos reparos neste ano, começo da recuperação das pavimentações em 2024 e obras maiores a partir de 2025. O contrato de concessão é de 30 anos, com previsão de investimentos de R$ 2,2 bilhões nos sete primeiros anos e devendo totalizar R$ 3,4 bilhões até o final, em 271,5 quilômetros de rodovias estaduais concedidas.