Mulheres que Brilham: Cleusa Spinato: “Nós mulheres matamos dois leões por dia”

COMBATER a violência doméstica e a misoginia faz parte do trabalho dela

A delegada Cleusa Spinato foi eleita por votação popular como destaque na categoria Segurança do Prêmio Mulheres que Brilham 2023. Ela é reconhecida no Vale do Caí pelo trabalho de enfrentamento à violência contra mulheres e por se impor diante de um universo de cultura machista. “Se os homens matam um leão por dia, nós, mulheres, matamos dois. Um deles é o preconceito”, diz a delegada.

Cleusa é natural de Porto Alegre, mas tem ligação com Montenegro, pois sua mãe e avós moravam na Cidade das Artes. Ela veio para o Vale do Caí quando ingressou na Polícia Civil, em 1999.
A policial foi a primeira delegada mulher a atuar na região. Ela começou suas atividades na Delegacia de Polícia (DP) de Feliz, passou pela DP de Bom Princípio, e, em 2004, assumiu a delegacia de São Sebastião do Caí, onde atua até hoje. Já em dezembro de 2014, tomou frente da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) do Vale do Caí, na qual vem travando batalhas contra a violência doméstica. Atividade essa que é reforçada em sua atuação como presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim) de Montenegro.

A delegada destaca que a criação da DEAM no Vale do Caí foi resultado de uma luta da comunidade de Montenegro, consciente do problema da violência contra a mulher. Atualmente, o Rio Grande do Sul conta com apenas 23 DEAMs, sendo a do Vale do Caí a única que atende aos 19 Municípios da região. Mais de mil procedimentos são instaurados na DEAM por ano.

Mesmo com todos os mecanismos de defesa adotados pela Lei Maria da Penha, muitas mulheres ainda sofrem caladas. Fazer com que essas vítimas rompam o silêncio está entre os desafios da delegada. “A média para sair do ciclo dura 10 anos, dificilmente a mulher registra a primeira violência sofrida. Quando chega a denunciar tem todo um histórico”, explica.

Conforme Cleusa, na maioria dos crimes de feminicídio a vítima não tinha medida protetiva contra o agressor porque não levou as agressões ao conhecimento da polícia. “Temos uma lei avançada, com mecanismos de defesa, mas que não alcançam as mulheres porque elas não denunciam. Elas têm que vencer o medo e buscar proteção. Se nada for feito pode resultar em tragédia”, afirma.

Desde o começo de sua trajetória, Cleusa enfrentou desafios e preconceitos. No entanto, a delegada sempre mostrou firmeza em sua postura, enfatizando que as mulheres têm os mesmos treinamentos e competências que os homens, e que estão ali para realizar o mesmo trabalho. Além disso, ela sempre deixou claro que quem estivesse insatisfeito com sua presença que pedisse para sair. Apesar dos obstáculos, e de muito ainda ter de ser mudado, Cleusa destaca que houve progressos na quebra de estereótipos e preconceitos ao longo dos anos.

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