Há quase 50 anos no local, Rosana Feiten hoje preside associação comunitária
Quando desembarcou na antiga Estação Ferroviária de Montenegro pela primeira vez, aos 10 anos, para visitar a família que morava na cidade, Rosana Madalena Feiten, hoje com 57, percebeu que ali era o lugar que gostaria de morar pelo resto da vida. Na época, Rosana residia com a família em Maratá e vinha visitar os parentes em Montenegro com a mãe e os seis irmãos. A viagem, que era feita de trem, era a diversão de Rosana e dos irmãos, que moravam em uma chácara do interior.
Não demorou muito para que Rosana se mudasse para o bairro Ferroviário. A família veio em busca de oportunidade, após terem que deixar a casa onde moravam de favor, em Maratá. Rosana conta que a família sempre foi muito humilde, e a mudança para o bairro Ferroviário fez com que se abrissem oportunidades. “A gente morava de favor em uma chácara e, por conta de problemas de alcoolismo do meu pai, tivemos que nos mudar de lá. Nós éramos muito pobres e vivíamos com doações e do trabalho da minha mãe, que era uma guerreira, e trabalhava de faxineira”, diz Rosana.
Quando veio morar no bairro Ferroviário, Rosana conta que o local tinha ares de interior, com ruas ainda sem pavimentação. “Viemos morar na rua Menino Deus. Quando chegamos aqui era um bairro bem menor, a gente brincava na rua até tarde da noite e todos se conheciam”, relata. Morar em um bairro próximo do Centro trouxe oportunidades para Rosana, que aos 15 anos começou a trabalhar em um importante escritório de contabilidade da cidade, o que foi a realização de um sonho. “Foi no escritório de contabilidade que comecei a aprender a parte administrativa, o que era o meu sonho. Essa experiência que tive me possibilitou, em 1985, começar como bancária”, destaca.
Dentre as tantas história vividas ao longo de quase cinco décadas no bairro Ferroviário, Rosana destaca o desafio de morar em uma área de enchentes. “Desde que a gente está aqui existem essas enchentes. Por isso, sempre tivemos barco. Meu pai era carpinteiro, então ele fez um barco que a gente sempre usou”, conta. A moradora relata que a maior enchente enfrentada foi em 2007, quando a água chegou a invadir o banheiro de sua casa. Na época, ela trabalhava em uma agência bancária, no Polo Petroquímico de Triunfo, e viveu uma aventura para voltar para casa.
“Eu precisava chegar em casa, porque tinha meu filho pequeno para amamentar, mas tinha muita água e não tinha como passar. Então eu peguei o telefone, liguei pra uma loja, e comprei um barco pra poder ir até em casa”, conta Rosana. Mas os desafios não pararam por aí. Quando o barco chegou, Rosana percebeu que não tinha remo. Foi então que uma vizinha surgiu com uma vassoura de palha, que foi usado pela moradora para remar até a sua casa. “Esse barco ficou na marcado na minha vida, tanto que temos ele até hoje e nos serviu pra outras enchentes também”, afirma.
Comandar associação é atual desafio
Há quase 50 anos no bairro Ferroviário, Rosana diz que não tem planos de se mudar. Segundo ela, o bairro permanece com a mesma essência que tinha quando visitou pela primeira vez. “Eu continuo vendo esse bairro como um bairro feliz. A gente sempre brincou na rua até tarde da noite e eu criei meus filhos brincando na rua, no mesmo contexto. Todo mundo se conhece, se ajuda e se cuida. Tem aquele ar de interior, apesar de ser tão próximo do Centro, isso é que enriquece o bairro Ferroviário”, aponta Rosana.
Desde que se aposentou, a moradora tem se dedicado às causas sociais e na associação comunitária do bairro, sendo a atual presidente da entidade. “Me aposentei em 2011 e, a partir daí, comecei a prestar mais atenção ao bairro. Tive mais tempo para conversar com os vinhos, pra viver o bairro. Isso me abriu um olhar pra parte social e passei a ter uma visão de comunidade”, destaca. Mesmo sem um cargo na diretoria inicialmente, Rosana passou a se envolver de forma voluntária nas ações da associação comunitária, o que levou a ser convidada para presidir a chapa única da eleição da nova diretoria, que assumiu no início deste ano. “Montamos uma lista de demandas do bairro, sempre dando voz aos moradores. O desafio tem sido trazer as pessoas para participar das reuniões da associação comunitária e engajar a comunidade”, expõe.
Outro desafio à frente da entidade, citado pela moradora, é conseguir uma sede própria. A ideia é buscar, junto à Prefeitura, a cedencia de um espaço na Estação da Cultura para atender a comunidade e desenvolver projetos sociais. Rosana diz que agora tem a missão de ajudar a construir um bairro cada vez melhor, mas sem perder a essência daquele lugar que pisou pela primeira vez, aos dez anos de idade, desembarcado de um trem. “Eu penso que todos os lugares podem evoluir. Por isso, eu, como presidente da associação comunitária, vou buscar melhorias para o bairro. Mas o que faz esse lugar único são as pessoas que vivem aqui, que precisam ser mais valorizadas em todas as áreas, seja na educação na cultura ou em melhorias de infra-estrutura”, conclui Rosana.