água com mau cheiro e gosto afeta bairros por toda a cidade
“Tem gente fervendo a água e ainda assim não consegue tomar. Não dá para ficar parado esperando o poder público fazer algo”. Esse é o desabafo de Silvio Santiago, que esteve na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) para registrar uma ocorrência contra a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) na manhã dessa quinta-feira, 17.
O motivo do descontentamento todos os montenegrinos conhecem. Já faz pelo menos 30 dias que a população passa por uma situação crítica dentro de suas casas: a alteração no gosto e cor da água fornecida pela Companhia. “A Corsan não pode ficar nos dizendo que isso é água potável e pode beber, porque tem muita gente tendo dor de barriga e vômitos. Eu tô indignado”, destaca. O morador do Centro chamou a população para comparecer à DPPA, mas apenas Jolmar Martins, do bairro Germano Henke, o apoiou na causa e compareceu ao registro da ocorrência. “Por isso que as coisas continuam do jeito que estão. Convidei umas 60 pessoas, que disseram que iriam, mas de última hora tiveram contratempos e não foram”, lamenta Silvio. “Eu posso fazer isso nem que seja sozinho, mas tô fazendo minha parte”, complementa.
“Nada mais ameniza o gosto ruim dessa água”. Nas palavras de Jussara Araujo, moradora da rua Eliza Moojen Arpini, a situação só piora. Ela afirma que em seu bairro, Zootecnia, nada teve andamento desde o início do problema. Em sua casa, reside apenas com o marido e destaca que há pelo menos 15 dias os dois têm diarreia, dores de estômago e vômitos frequentemente após ingestão da água, sintomas que os vizinhos também apresentaram. Jussara conta que já teve diversas ideias para tentar reduzir pelo menos o mau gosto da água, sem sucesso. “Além de ferver bem a água antes de tomar e não ter mudado nada, eu resolvi colocar garrafinhas para congelar, pensando que quando descongelasse podia dar uma melhorada. Que nada. Continuou igual”, lamenta.
Segundo ela, a água tem cheiro e gosto de lodo nas torneiras e no chuveiro. “Além de o gosto ser ruim, pouco tempo depois de tomar a gente já fica mal. Os adultos ainda são mais fortes, mas minha sobrinha tem crianças em casa que estão sofrendo mais com isso”, conta. Ela se refere à Cristina da Luz Antônio, que mora na mesma rua com o esposo e os filhos de 4, 15 e dois de 11 anos de idade. “As crianças gostam de brincar, não param quietas e as minhas estão sempre pedindo água. Agora, depois de tomar e ficarem com esses sintomas, não querem mais”, destaca. Jussara afirma que o que está ocorrendo na cidade é um descaso. “A conta continua vindo, aí a gente paga pra receber essa água? Isso é uma falta de consideração. É uma pena, porque água é vida”, conclui.
Joelma Nunes Maciel é moradora do bairro Centenário e afirma que por lá o problema também sequer reduziu desde as últimas semanas. “Temos um purificador de água e mesmo assim fica com um gosto horrível de barro, de terra. Parece que está saindo raízes das torneiras. Desde o final de janeiro vem puro manganês na água”, destaca. Ainda, o mau odor é constante, além do desperdício para tentar se livrar da água suja. “No chuveiro e nas torneiras sai o mesmo cheiro ruim desde o início. Já estragou o meu chuveiro novo com aquela água suja. O talão de água veio R$ 320,00 de tanta água fora que coloquei”, desabafa. Joelma, que mora com o marido e os dois filhos de 13 e 16 anos, afirma que o gosto das refeições, mesmo feitas com água filtrada, não tem melhora. Ela relembra que a caixa de água está constantemente suja, isso quando não estão com falta dela em casa, problema também recorrente.
Talis Ferreira protocolou pedido de providência
Silvio Santiago também foi ao Ministério Público abrir um processo, mas soube que o vereador Talis Ferreira já havia protocolado um pedido de providências na última sexta-feira, 11. Após contato via assessoria de imprensa do vereador, a informação confirmada é de que o número de expediente para acompanhamento ainda está com acesso restrito. Porém, já há um despacho da promotoria solicitando esclarecimentos à Corsan e determinando, ainda, que tome as providências cabíveis. A assessoria do Órgão ainda confirma que já foi feito ofício desse despacho, mas este ainda não chegou até a Companhia.
A assessoria do Ministério Público reforçou que encaminhou o ofício na tarde de quarta-feira, 16, mas que não há confirmação de recebimento por parte da empresa. A partir do recebimento do ofício, a Corsan tem o prazo de 10 dias para pronunciamento.
O que diz a Corsan?
Questionada pelo Ibiá, Lia Drehmer, Agente Administrativa da Corsan, afirmou que o problema sentido pelos montenegrinos se deve à estiagem, com o Rio Caí muito baixo e com floração de algas. “Estamos aplicando carvão ativado e já providenciamos a estrutura necessária para que o carvão passe a ser aplicado na adutora junto à captação”, explica. Ela afirma que, desta forma, haverá mais tempo de contato com a água e maior eficiência do produto.
Além disso, Lia acrescenta que uma série de melhorias já foi aplicada no sistema de dosagem de cloro. “Estamos fazendo todo o possível para melhorar a situação, mas é importante salientar que a água não tem compostos tóxicos e que se trata de uma situação generalizada que estamos enfrentando em todo o Estado”, conclui. Quanto a prazos, nada foi definido pela Companhia.