JORNADA de fé e caridade. Mãe Nazinha aceitou o chamado para ajudar ao próximo
Há 50 anos Narzí Pereira aceitou a missão de tornar-se a médium pela manifestação da espiritualidade de Mãe Sereia 7 Ondas como sua principal condutora espiritual. Mãe Nazinha transmite boas energias e conhecimento a todos que buscam por sua orientação e auxílio. É assim que ela demonstra gratidão por estar viva.
Foi em 19 de maio de 1973 que Mãe Sereia 7 Ondas foi consagrada pelo Cacique Arranca Toco das Matas, de Mãe Eloí Peltz (in memoriam), recebendo todos os fundamentos das Sete Linhas de Umbanda para dar início ao seu trabalho em Montenegro, através da aptidão espiritual de Narzí. Mas, antes disso, muita coisa aconteceu. “Estou cansada de contar essa história”, brinca Nazinha, no auge dos seus 79 anos.
Os sinais de mediunidade surgiram na vida da espiritualista desde muito cedo, ainda quando criança. A forte intuição e sensibilidade eram percebidas por quem convivia perto dela, inclusive sua mãe. Mas foi na vida adulta, quando enfrentava graves problemas de saúde, que recebeu um intransferível chamado para aceitar seu dom. “O médico disse que infelizmente não tinha mais o que fazer, fui desenganada”, recorda Narzí, sobre o dia em que soube que lhe restava pouco tempo de vida. Um termo usado nas religiões afro-umbandistas para explicar o ingresso de uma pessoa, é que se dá “pela dor ou pelo amor”. No caso de Nazinha, a escolha foi impulsionada pela dor.
Naquele mesmo dia, Narzí preparava o café para sua família – Wilson, com quem era casada na época, e os filhos Everton e Denise -, quando algo estranho aconteceu. “Senti como se uma mão tivesse me empurrado na testa e não vi mais nada”, lembra. Com o barulho, o esposo foi à cozinha ver o que estava acontecendo. Logo que olhou para acompanheira, ele, que tinha conhecimento sobre a Umbanda, percebeu que se tratava da presença de uma entidade e questionou o que ela queria. Ela respondeu “Sou Sereia das 7 Ondas e vim pra tomar conta desta matéria”, conta a médium.
No dia seguinte, Mãe Sereia retornou da mesma forma inesperada e deu um aviso para Narzí. Ela disse: “se em sete dias eu não estiver dentro de um terreiro para começar o desenvolvimento mediúnico desta matéria, ela vai desencarnar”, conta. Ao saber da situação, a sogra de Narzí a levou ao Centro de Umbanda Cacique Arranca Toco das Matas, de mãe Eloí, onde começou a desenvolver seu potencial e trabalhou durante sete anos até sua formação com todos os fundamentos religiosos. “Ganhei minha vida de volta. É Mãe Sereia que me traz viva”, acredita Nazinha.
Promessa feita e cumprida
Passadas cinco décadas, a médium relata que nunca foi sua intenção abrir um centro religioso, mas a vida a direcionou para isso. Demorou 25 anos até Mãe Sereia ter seu próprio local para atender aos fiéis. Após sua formação umbandista na casa onde começou seus atendimentos, Narzí passou a receber algumas pessoas em sua própria residência, no bairro Municipal numa sala improvisada, o que restringia atendimento aos amigos e pessoas mais próximas da família.
Ao final dos anos 1990, Narzí e seus filhos se mobilizaram para comprar um imóvel na rua 14 de Julho, no bairro Santo Antônio. Conforme a matriarca, a negociação estava cheia de entraves, mas Mãe Sereia “deu uma forcinha” para que não perdessem a oportunidade. “Tínhamos só três dias para a transação de compra. Prometi para Mãe Sereia que se ela ajeitasse as coisas, eu daria o espaço que ela queria. Tudo se resolveu em três dias”, confirma. Um ano após, em 7 de março de 1998, Mãe Sereia teve a abertura de seu terreiro para atendimentos públicos. “Se tu fazes uma promessa para uma Entidade ou Santo tens que pagar, seja ele da religião que for. Como tinha prometido, paguei”, acrescenta.
No Templo de Umbanda Sereia 7 Ondas, hoje situado na rua Capitão Porfírio, 688, a Corrente de Mãe Sereia tem desempenhado um trabalho acolhedor, auxiliando aqueles que buscam conforto espiritual e respostas para suas questões mais profundas. Seu compromisso com a ética, o respeito e a caridade tem sido exemplo para os membros da comunidade umbandista e para aqueles que se aproximam da religião. “Eu sinto ela como uma mãe, que acolhe e mostra o caminho”, diz Nazinha, que não realiza axé de corte (sacrifício animal) em seus trabalhos.
“As pessoas vêm em busca de luz. Vejo muita briga, muitas frases feias ditas dentro dos lares. As pessoas acabam atraindo energias ruins e ai precisam procurar ajuda”, conta a médium. “Algumas pessoas chegam aqui caindo, mas não é físico, é doença espiritual”, explica.
Corrente Mãe Sereia
Everton Santos, filho de Narzí, explica que o termo “Corrente de Mãe Sereia” se refere à corrente mediúnica formada pelos integrantes do Templo – também chamados de Filhos de Corrente. “A Corrente significa o elo entre estes irmãos de fé que juntos impulsionam fluxos vibratórios de energia, no caso do Templo de Mãe Sereia, a vibração é fundamentada na energia do fundo do mar”, relata. “Esta vibração é densa pela própria característica do mar, com suas correntes marítimas em constante movimento e com a potencial força de suas ondas”, acrescenta Everton.“O nosso fundamento vibratório é a energia do fundo do mar. Mas, dependendo do ritual, trabalhamos com as bases de energia da mata, do rio, dos lagos, da montanha,conforme a especificidade de cada sessão”, completa.