O primeiro empreendedor do campo

ABERTURA DA SAFRA. Evento será no pomar de agricultor formado na Suíça

Os convidados à abertura estadual da safra de citros de 2025 em Montenegro conhecerão uma história pessoal que explica muito da pujança da agricultura familiar. A família Kochenborger é a anfitriã do evento, nesta sexta-feira, 23, na comunidade de Lajeadinho, tendo à frente um patriarca, de 83 anos, que através do trabalho e da ousadia, alicerçou a principal produto econômico do Setor Primário do município.

Irineu Derlam Kochenborger recorda a história com facilidade, desde a mudança de casa, com 1 ano de idade. Seu pai, Atalíbio Kochenborger, deixou a comunidade do atual bairro Cinco de Maio, na época uma colônia chamada Saco Triste, para trabalhar na tafona de farinha de mandioca do avô de Irineu, Rodolfo Derlam, filho de Luiz Derlam.

“Ele foi o primeiro dono desta terra toda, e distribuiu entre os filhos depois”, relatou sobre Luiz. Irineu recorda ainda que este bisavô comprou uma gleba dos Cruz, família que já não é mais encontrada nas redondezas. Nesta época, a localidade era chamada de Canudos; a atual estrada de ligação com Campo do Meio era uma trilha de cavalos e tafonas e serrarias movidas com roda d’água (depois a vapor) dominavam Montenegro.

Nesta nova morada, o pequeno Irineu conheceu seu futuro em verde e amarelo, nos 100 pés de citros que o avô Rodolfo tinha plantado perto da casa. Essa era uma produção para consumo próprio, da qual o excedente era vendido na porteira para tropeiros que passavam de carro-de-boi levando mercadorias para revender nas cidades.

Conhecimento trazido da Suíça

Nas mãos do pai Atalíbio, o pomar caseiro se transformou em 1.000 árvores, cultivando na década de 1950 o sustento dos Kochenborger de 2025. Irineu foi o sucessor que alavancou definitivamente o negócio familiar, elevando-o para 6 mil árvores, das quais 3 mil da variedade Montenegrina. “Fui o maior produtor de Montenegrina”, garante, referindo-se aos anos 70. Hoje são os filhos, Maique, 43, e Darvin, 33, com o amigo e funcionário, Sérgio Lerner, que cuidam dos 48 hectares plantados, com produção média anual de 212 toneladas de bergamotas e 37,5 de laranjas.

Um sucesso devido àquele visionário que aos 25 anos deixou a roça para estudar na Europa. Irineu foi beneficiado em programa de intercâmbio do Comitê de Promoção Rural, que convidava jovens por meio das publicações paroquiais Católica e Luterana. Em 1967 embarcou em uma viagem de barco que durou 3 semanas e ficou dois anos na Suíça, em sistema de trabalho e estudo, retornando “profissional de agricultura”. Irineu salienta que nada foi de graça, com escola, estadia e passagens sendo pagos na lavoura.

Maique não dispensa a experiência do pai Irineu. Foto: Arquivo Pessoal

Opção por fruta sem veneno

O conhecimento que Irineu absorveu, até hoje norteia as atividades na propriedade. O filho Maique ressalta o pioneirismo do pai na mecanização do trabalho, reduzindo tempo e desgaste, com aumento de produtividade. Irineu lembra que a primeira sugestão que deu ao pai quando desembarcou foi tirar os bois do arado e comprar um trator John Deere usado. “Lá usam máquina para tudo”, descreveu sobre a agricultura européia.

Ávido por mais conhecimento, em 1970 cursou técnico, em uma escola estadual agrícola de Taquari, onde conheceu novas variedades que agregou à propriedade, como laranja Umbigo Tardia e Valência Clone Novo, além de bergamota Morgot. Nesta época começou a desenvolver em casa suas próprias mudas.

Do ‘além mar’ trouxe ainda o método de adubação com dejeto animal, já revelando uma preocupação ecológica. Desta forma não é surpreendente que em 1994 tenha migrado para o cultivo 100% orgânico (sem adubo químico e agrotóxico), participando inclusive da fundação da cooperativa Ecocitros; e hoje integram a cooperativa CAAF e a rede Ecovida de certificação participativa.

Últimas Notícias

Destaques