Citros. Dia a dia no pomar começa cedo, especialmente na safra da Montenegrina
Sabe por que o dia do agricultor começa de madrugada? Porque o trabalho na lavoura é regido pelo ciclo de vida das plantas. São elas que dizem quando o alimento que fornecem está pronto. Então não há como adiar o momento da colheita. Assim como todos os citricultores do Vale do Caí, agora André Luiz Schneider, 46 anos, dedica os dias à retirada da variedade Montenegrina dos pomares, em Santos Reis. Um trabalho manual e guiado por metodologias de precisão, mas respeitando o tempo da fruta, como faziam os “antigos”.
A rotina de Schneider e de seus dois funcionários inicia aos primeiros raios do sol, seguindo assim a regra imprescindível do campo de madrugar. Uma jornada que se estende das 7 da manhã as 5 horas da tarde, para dar atenção aos nove hectares dedicados aos citros, dos quais 1,7 pertencente à esposa, Monique Schneider, 25 anos.
Um exemplo que sintetiza o título “agricultura familiar”, pois as terras dos Schneider germinaram primeiro pelas mãos de seu pai, Silo Schneider. Aos 72 anos de vida, o patriarca não é mais visto com frequência na roça, mas ainda é integrante da propriedade rural, podendo ser visto como o “tronco” da família. Uma jornada semelhante ao das próprias “bergamoteiras”.
“Árvore é como gente”, explicou André, mostrando o tronco envelhecido de uma árvore, encoberto pelos galhos vergados de frutas. Algumas das matrizes no pomar têm 30 anos de vida, enquanto seus galhos têm pouco mais de um ou dois anos. O agricultor segue traçando sua metáfora, apontando a energia que o jovem tem para produzir, enquanto o velho experiente usa suas raízes longas e profundas que buscar alimento em toda sua volta. Uma simbiose oriunda da poda anual, e que garante o vigor da planta.
Precisão para colher fruta boa
Mas André também tem conhecimentos, e faz da colheita uma ciência. Com um paquímetro na mão, caminha pelo pomar avaliando a calibragem da frutas. O mínimo de 60 milímetros ou mais de diâmetro é o ideal para atender mercados de Santa Catarina até São Paulo. “Com o tempo tu pega e já faz no olho”, comenta.
Um único pé rende o mínimo de três caixas de 70 quilos, mas podendo variar frutas de diâmetros diferentes. Para isso, a régua é instrumento de trabalho; e as menores ganham mais tempo para completar seu amadurecimento. “Em uns 20 dias ela também passa dos 60 milímetros e é vendida como (fruta) de primeira”, explica André. Se já estiver na caixa, ainda pode ser jogada no chão para adubar.
O ciclo da Montenegrina é do final de julho ao final de outubro, e agora ela está no auge de amadurecimento, representado pela casca firme. No próximo estágio já começa a maturação máxima, quando a casca solta. “Chega nessa época do ano em diante a gente diz que fica xoxa”, explica, ressaltando, no entanto, que ainda é uma ótima fruta.
Colheita é com carinho e técnica
E quem tem bergamoteira em casa e costuma tirar a fruta puxando ou torcendo, saiba que na produção em larga escala isso está errado. Primeiro, que a legislação do Certificado Fitossanitário de Origem (CFO) não permite cruzar as fronteiras com pedaço de cabo e folhas, possíveis hospedeiros de pragas. “E porque com o cabo, quando joga na caixa, pode furar outras frutas”, explica, lembrando ainda dos processos de beneficiamento e transporte.
Já quando se torcer o cabinho até quebrar – ou corta longe da fruta –, a ponta que fica simplesmente seca, fica improdutiva, e prejudica a planta. A retirada correta dos pés é com tesoura, cortando o cabo rente a fruta.
Se há muito de técnica, tem também muito suor e dedicação, embaixo de sol, chuva e geada. E neste mês de agosto, período no qual 80% dos pomares de André estão com a casca firme, o trabalho não pode parar. “Agora estamos no ciclo. Depois a gente senta na sombra um pouco”, comenta.
Excelência levada à Expointer
Não por acaso André usou a expressão “um pouco na sombra”! Pois, quando o calorão de dezembro estiver levando o desejo do cidadão urbano à praia, no campo, o ciclo da citricultura recomeçou. Primeiro aquele corte dos galhos; depois, limpeza do solo e tratamento preventivo contra doenças com pulverização de fungicida à base de Cobre. Outro processo fundamental é colocar ‘comida’ para as plantas, composta de Nitrogênio; Fósforo e Potássio, em percentuais especificados na Análise de Solo.
O aperfeiçoamento desta operação complexa é um dos benefícios da adesão ao “Juntos para Competir”, programa do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Com apoio do Sebrae-RS na execução, integrantes da Associação de Citricultores do Vale do Caí recebem consultoria de engenheiros agrônomos, através de oficinas e rastreamento das dimensões e capacidade dos pomares.
“Aumentou em 40%, em um ano, minha produção por hectare”, revelou André. Isso significa um salto de 9.900 para 14.100 quilos por hectare no segundo ano do “Juntos para Competir”. E nesta safra – terceiro ano – o produtor já observa uma tendência de novo crescimento, próximo aos 10%. Um sucesso que colocou o montenegrino como “case” no vídeo institucional que o Senar vai exibir em seu pavilhão na Expointer 2022.