Falta de rede trifásica no interior impede investimentos de agricultores

Custo da troca para o sistema trifásico é principal entrave

Moradora da localidade de Lajeadinho, no interior de Montenegro, a agricultora Elisa Cristiane Kettermann, 47, há 25 anos busca pela colocação da rede trifásica para atender sua propriedade. Assim como ela, outros produtores da região estão desassistidos pelo sistema trifásico no interior. “Isso é uma coisa que há anos o pessoal vem buscando. Já fizemos abaixo-assinado, reuniões e não foi para frente”, afirma Elisa.

Os moradores da localidade dispõem atualmente de uma rede monofásica que, conforme Elisa, é bastante instável. “Se tu colocar um motor mais forte, ele já tende a sofrer. A gente percebe que o motor não consegue trabalhar como deveria”, aponta. A falta de rede trifásica também impossibilita que os agricultores promovam melhorias nas propriedades, a principal delas é a colação de câmaras frias para estocar a produção de citros. “Nós e outros produtores queríamos colocar câmara fria, mas só com a rede monofásica não funciona. Se tivéssemos a câmara, iria melhorar muito o nosso trabalho, porque poderíamos colher a fruta e estocar pra trabalhar em dias que não conseguimos colher”, conta a agricultora. Sem a possibilidade da colocação de uma câmara fria, Elisa e a família conseguem colher a fruta somente quando já foi negociada, o que traz prejuízos. “Hoje, mesmo que tenha frutas pra colher, só conseguimos tirar aquilo que já está tratado pra venda, porque não temos onde armazenar”, aponta.

Morador da localidade de Santos Reis, o agricultor André Schneider, 46, também convive com as limitações impostas pela falta da rede trifásica. Conforme Schneider, existe uma grande demanda pelo serviço no interior, e os poucos agricultores que conseguiram a rede tiveram que arcar com um alto custo para colocação do sistema. “Tem muitos produtores que precisariam, por exemplo, pra colocar aviário e ordenha de leite. Também tem gente que está querendo botar câmara fria para o citros, e não tem a rede trifásica. Outras pessoas precisam usar ferramentas que precisa ser motor trifásico pra tocar, e aí não tem. É uma demanda bem grande”, aponta o agricultor. Schneider diz que, com a rede trifásica, muitos agricultores poderiam melhorar a renda e também a qualidade de vida. “A energia elétrica é o progresso também, porque todas as inovações e tecnologias dependem de energia. Então, para nós, a rede trifásica iria melhorar muito a nossa qualidade de vida”, conclui.

Custo da troca para o sistema trifásico é entrave
O valor da troca para o sistema trifásico é o principal entrave para os produtores. A agricultura Elisa Cristiane Kettermann aponta que também falta clareza da RGE sobre os custos do serviço. Ela conta que um grupo de cerca de 15 citricultores de Lajeadinho se juntou para solicitar a troca da rede, mas desistiram quando a empresa informou que o custo total do serviço seria informado somente ao final da instalação. “A RGE não nos informou o custo e ainda disse que o pagamento seria feito através de um boleto que viria no nome de um único morador. Então, como as pessoas vão pedir o serviço se não sabem o quanto vão pagar? Questiona Elisa.

A visão dos produtores é que a Prefeitura poderia ajudar a custear a instalação da rede. Conforme Elisa, o Município tem um retorno grande dos produtores, que colaboram com a arrecadação emitindo notas das vendas de citros. “Acredito que a Prefeitura poderia ajudar, porque isso tudo isso tem um retorno pra eles, porque tudo que a gente produz tira nota”, aponta. Elisa diz que a troca para o sistema trifásico também traria benefícios para a RGE, já que os agricultores aumentariam o consumo de energia com os investimentos nas propriedades. “Esses investimentos que poderíamos fazer nas nossas propriedades com a rede trifásica daria retorno também para a RGE, porque teríamos mais consumo de energia. Então acho que também a empresa poderia ajudar, já que todos seriam beneficiados”, diz a citricultora.

O que dizem as distribuidoras de energia
De acordo com a RGE, os pedidos de solicitações de troca para o sistema trifásico devem partir do consumidor. Após receber o pedido, a empresa faz uma análise, levando em consideração a legislação da Agência Nacional de Energia Elétrica, que exige que o local tenha uma demanda de mais de 25.000 watts ou que tenha um motor trifásico em uso na propriedade.

A RGE explica que, após a análise da documentação inicial, uma equipe vai a campo analisar as informações e a estrutura da região. Posteriormente, a empresa encaminha um documento informando ao solicitante qual o montante do investimento para que a instalação possa ser concretizada, valor que varia de acordo com cada realidade. Entre 2020 e 2021, a empresa afirma que foram feitas obras de troca para o sistema trifásico nas localidades de Serra Velha e Bom Jardim. Já em 2022, estão sendo executadas obras na rede que atende os bairros Germano Henke e Aeroclube, além de outros pontos da área urbana da cidade.

A cooperativa Certaja, que fornece energia para algumas localidades de Montenegro, informou que as regras são muito parecidas com as da RGE. Entretanto, há um programa chamado “Energia forte no campo”, que prevê subsídios para as ampliações de rede necessárias, a partir da adesão dos municípios ao programa. Consultada sobre o programa mencionado pela Certaja, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural disse que tem conhecimento do programa, mas não teve demanda de agricultores atendidos pela distribuidora para solicitar adesão.

Prefeitura diz que tem debatido o tema com moradores
Em resposta aos questionamentos da reportagem sobre a rede trifásica no interior, o secretário de Desenvolvimento Rural do Município, Ernesto Kasper, explicou que a pasta vem discutindo o tema com os moradores das localidades de Lajeadinho e Linha Catarina desde outubro de 2021. Na ocasião, aconteceu uma reunião com mais de 20 moradores locais para debater a necessidade de melhorias na rede, com a participação de um representante da RGE.

Conforme Kasper, no encontro, os moradores relataram os problemas à RGE, que explicou que seria pertinente cada propriedade preencher um formulário para poder ser feito um projeto. “A Prefeitura, através da SMDR com auxílio do Eng elétrico Pablo, se disponibilizou a ir nas casas para realizar o levantamento. Esse trabalho foi realizado em Lajeadinho e na Estrada dos Kettermann”, destaca o secretário.

Após a realização do levantamento, Kasper afirma que relatórios foram repassados aos coordenadores escolhidos na reunião para serem encaminhados para a RGE. No entanto, a o tema não evoluiu em virtude da falta de consenso sobre procedimentos entre os moradores. O secretário afirma que o tema voltou a ser debatido posteriormente com alguns agricultores de Lajeadinho, buscando dar continuidade, mas até o momento não houve nenhum avanço.

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