JOVEM CIENTISTA Fernanda estuda o medo de se ficar afastado das redes sociais
Em novembro do ano passado uma reportagem do Ibiá se referia à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Maria Josepha Alves de Oliveira como “polo de pesquisas”, devido aos mais de 30 projetos científicos realizados nas turmas da Educação Infantil ao 9º Ano. Essa verdade é confirmada pelo interesse do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que premiou com uma bolsa de estudo a pesquisa “Uso Excessivo do Celular”, desenvolvido pelas alunas do 8º Ano Fernanda Krug Schubert, Brenda Nogueira de Paula e Milena da Silva Machado.
O financiamento pelo CNPq tinha apenas uma vaga por instituição de ensino, que foi alcançada à estudante Fernanda, de 13 anos, para desenvolver a Fase 2 do estudo com apoio de mentores. Assim como os outros desenvolvidos na instituição no Porto dos Pereira, este participou de inúmeras feiras científicas, tendo sido selecionado na Moscling 2023 (III Mostra Científica do Litoral Norte Gaúcho), em agosto. Deste inclusive saiu sua primeira publicação científica, integrado ao livro oficial da mostra promovida pela Ufrgs (Universidade Federal).
O que chamou atenção do Comitê CNPq foi a abordagem da síndrome chamada Nomofobia, que é o medo de ficar muito tempo longe das redes sociais ou sem acessar o celular. Ele está de acordo com o problema sugerido na pesquisa das alunas “quais são as consequências” da imersão abusiva no mundo virtual, ainda que tenha sido abordado de forma superficial entre os outros sintomas do uso abusivo do mundo virtual. O interesse do CNPq é que Fernanda amplie este tema.
“Pesquisamos o tempo adequado para crianças e adultos ficarem conectados”, explica a estudante. Concluíram como ideal 1 hora por dia intercalada com pausas; e no caso das crianças, que fosse supervisionado por adulto. A pesquisa em campo revelou que os jovens têm ficado até 3 horas sem intervalo, e na maioria das vezes sozinhos.
A metodologia foi desenvolvida apenas com alunos da Maria Josepha, o que limitou a faixa etária entre 12 e 18 anos. Em relação as consequências gerais do uso excessivo do celular, o estudo aponta problemas físicos, como de visão e até neurológicos; e psicológicos, como depressão e ansiedade ante o mundo virtual.
Experiência entre universitários
Fernanda recebe bolsa de R$ 300,00 por mês, tendo como obrigação participar de reunião mensal online com outros 12 estudantes-pesquisadores, de diversos níveis do conhecimento. Seu desenvolvimento é orientado por quatro mentores do CNPq. Neste grupo são trocadas experiências, mas apenas a jovem montenegrina estuda o tema da Nomofobia.
Ela tem valorizado a oportunidade de vivenciar este mundo acadêmico científico. Com exceção dela e de outro menino, os demais são maiores de idade, e alguns universitários. “Eles usam outras falas, tem um jeito diferente de apresentar”, observa Fernanda, ao definir que a sensação é muito boa.
Professor valoriza o desenvolvimento da aluna
A qualidade de pesquisa dos alunos da Maria Josepha surpreende, como revela o professor de História Lucimar Alberti, que precisou se familiarizar com os aspectos da Nomofobia para melhor orientar as alunas. Responsável pela Iniciação Científica no educandário, ele avalia o benefício macro da bolsa alcança à Fernanda. “Isso vai validar o trabalho da escola, o trabalho dos professores”, aponta.
O docente valoriza muito a expertise em pesquisa e o conhecimento que a jovem estudante irá acumular ao longo desta bolsa, sendo que já está na programação da Moscling deste ano, onde irá apresentar o resultado da Fase 2. “Estou muito curioso para ver a conclusão da pesquisa. Mas o resultado não se vê na premiação”.
Alberti não se refere apenas as conclusões a cerca da síndrome, mas a toda evolução intelectual da aluna, carga que depois levará para o Ensino Médio, especialmente com mais autonomia de trabalho. Ele observa que o Brasil vive uma carência de cientistas, fator que deve ser enfrentado com estímulo prematuro nos bancos escolares.
O que é o CNPq
O CNPq foi criado em 1951, e chamava-se, à época, Conselho Nacional de Pesquisas. Em 1974, por conta de algumas mudanças no seu regime jurídico, instituiu-se outro órgão em seu lugar, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. No entanto, suas funções e sigla permaneceram as mesmas desde a sua criação. Seu objetivo é fomentar a pesquisa e o desenvolvimento científico no país, sendo uma fundação pública, possuindo personalidade jurídica de direito privado, mas voltado à realização de funções públicas. Embora ele tenha autonomia para gerir suas atividades, a maioria dos seus recursos tem origem nos cofres da União. Por isso, em última instância, o CNPq está atrelado ao Poder Público.
Fonte: politize.com.br