Farmácia Solidária: Projeto aproveita sobras de remédios

MEDICAMENTOS não aproveitados numa casa podem ser repassados para famílias em dificuldades

É relativamente comum as pessoas ficarem doentes, adquirirem a medicação necessária ao tratamento e, uma vez recuperadas, constatarem que nem tudo chegou a ser usado. Ao mesmo tempo, há centenas de famílias carentes que nem sempre têm condições de adquirir xaropes, antitérmicos e outros fármacos para enfrentar suas enfermidades. O ideal seria transferir estas sobras a quem pode fazer uso delas, mas existem obstáculos de ordem prática e legal. A solução do problema pode ser a criação de uma “farmácia solidária”.

O assunto foi discutido esta semana, na Câmara, a partir de um requerimento do vereador Cristiano Braatz (MDB). Ele soube da existência de uma iniciativa bem sucedida em Farroupilha e convidou algumas pessoas para conhecer o projeto a partir do depoimento de sua idealizadora, a deputada estadual Fran Somensi, do Republicanos (antigo PRB). O encontro também colocou em torno da mesa técnicos do Hospital Montenegro, do Hospital Unimed e representantes da Prefeitura.

Cristiano pretendia, inicialmente, apresentar um Projeto de Lei sobre o tema. No entanto, por envolver despesas, a iniciativa precisa partir do prefeito. Neste sentido, ele vem buscando alternativas para incentivar a implantação do serviço. “Muitas vezes, as pessoas acabam colocando no lixo ou em locais impróprios medicamentos que poderiam, plenamente, ser utilizados”, lamenta.

Fran Somensi é farmacêutica por formação e, antes de ocupar o cargo de deputada estadual, era a primeira-dama de Farroupilha. Decidida a não ser apenas a esposa do prefeito, acompanhando-o em eventos sociais, resolveu apresentar o Projeto Solidare. Com a experiência prática de proprietária de várias farmácias, relatou que o problema da sobra de remédios sempre a deixava incomodada. Precisava fazer algo, ao menos para que, na cidade onde vive, a realidade fosse transformada. “Somos o primeiro case de sucesso do Brasil nesta modalidade de recebimento e redistribuição de medicamentos”, contou.

O projeto começou pequeno e foi se ampliando, graças ao engajamento da sociedade. O programa recebe os medicamentos não mais utilizados pelas famílias, mas ainda com prazo de validade, e os redistribui a pessoas que não têm condições de adquiri-los. Para isso, existe todo um trabalho técnico, com a participação de profissional farmacêutico. “Em Farroupilha, começamos com um trabalho voluntário, sendo que, como Farmacêutica, eu mesma coloquei a mão na massa”, disse, emocionada. Hoje, já existe um contratado, que também é servidor do Executivo. A outra ponta do projeto é o descarte correto dos itens que não podem ser distribuídos. Em três anos, duas toneladas de remédios vencidos tiveram destino adequado, evitando o impacto ambiental.

A deputada elogiou a iniciativa do vereador Cristiano Braatz, de trazer o projeto, cuja finalidade é alcançar pessoas de baixa renda. Fran explicou que, em Farroupilha, existe toda uma preocupação técnica. Por exemplo, medicamentos recebidos que são sensíveis à variação de temperatura acabam sendo descartados.

Implantação é viável
A secretária municipal da Saúde de Montenegro, Loreni Cristina Reinheimer, é simpática ao projeto e revela que já foi dado início a este trabalho, timidamente, na própria Secretaria. Quem também participou e se mostrou interessada foi a chefe da Vigilância Sanitária, Silvana Schons, que fez alguns questionamentos quanto ao funcionamento em Farroupilha.

Dirigindo-se aos representantes dos hospitais, a deputada Fran Somensi reforçou a importância dessas instituições como pontos de coleta. A farmacêutica do Hospital Montenegro, Sheila Lima dos Santos, contou que o HM recebe algumas doações de medicamentos que, se estiverem dentro da padronização, são devidamente aproveitados.

Voltando à parte técnica do funcionamento da Solidare, Fran explicou que existe um controle de recebimentos e doações. No final de sua explanação, revelou os números do projeto: em quatro anos de existência, foram mais de R$ 1,8 milhão em remédios distribuídos à população, tudo oriundo da colaboração e participação da comunidade.

Cristiano já está agendando visita a Farroupilha, para que um grupo possa conhecer o projeto de perto. “É importante que seja visto o funcionamento na prática, como forma de motivação”, finaliza.

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