Carolina Gralha fala da importância da justiça especializada para a nação
Presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da IV Região (Amatra IV), a juíza Carolina Gralha esteve visitando a sede da Justiça do Trabalho de Montenegro nesta semana. Ela atuou na cidade por três anos, entre 2010 e 2013.
Carolina concedeu entrevista exclusiva ao Ibiá, falando sobre questões pertinentes ao trabalho da Amatra e se posicionando em relação às declarações e intenções do presidente da República, Jair Bolsonaro, quanto à extinção da Justiça do Trabalho. Aos 38 anos, a juíza também atuou em Frederico Westphalen. Em fevereiro, ela assume o cargo em Soledade.
De acordo com a magistrada, a visita faz parte de um projeto da Associação. “A presidente vai até as unidades e conheça os colegas dentro das suas realidades. Quando eu vou ao local de trabalho deles, eu ouço as dúvidas, críticas e sugestões e posso esclarecer algumas informações, o que torna o trabalho mais fácil e com mais aproximação”, afirma.
Com relação à extinção do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Carolina explica que o órgão do Poder Executivo é diferente da Justiça do Trabalho, que é um ramo especializado do Poder Judiciário. “O MTE tinha uma eficiente função de fiscalização dos ambientes de trabalho em termos de insegurança, informalidade, trabalho infantil e trabalho escravo”, destaca. Ela define a distribuição de tarefas do Ministério para outros como um fatiamento.
Para a juíza, ainda é precoce avaliar como ficarão estas atividades repartidas. “Num primeiro momento, na minha leitura, é ruim não ter tudo isso num único Ministério, que existia há décadas e cumpria com suas funções. Se existiam problemas, conforme apontado por esta gestão, acho que se resolve isso e não se extingue o serviço”, aponta.
Entidades lançam mobilização em fevereiro
A juíza Carolina Gralha recebeu com preocupação as declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, que cogitou extinguir a Justiça do Trabalho. “Ele (presidente) traz informações que não são corretas, porque afirma expressamente que a Justiça do Trabalho existe apenas no Brasil. Não é verdade. Inclusive a gente tem feito campanhas de esclarecimento à população, explicando que existe estrutura parecida em países como Alemanha, Noruega, Espanha e outros que a gente chama de primeiro mundo”, aponta.
Carolina destaca que não tem como aceitar este tipo de declaração, inclusive sobre o Brasil concentrar mais ações trabalhistas que o restante do mundo. “Isso não é verdadeiro. Países menores que o nosso possuem um número de ações, por habitantes, muito maior que o Brasil”, revela. Além disso, a juíza define a ideia como inoportuna, em um momento em que os brasileiros enfrentam uma grande crise econômica e, inclusive, de postos de trabalho.
A magistrada traduz a justiça trabalhista como uma instituição que preserva as relações de trabalho. “O conflito do trabalho vai sempre existir, pois isso é algo natural do capitalismo. Sempre que um conflito for gerado, será preciso uma justiça especializada para enfrentar. Não é à toa que a Justiça do Trabalho tem os melhores índices de conciliação, celeridade dos julgamentos e eficiência de suas decisões”, acrescenta.
Conforme Carolina Gralha, as pessoas precisam deixar de ver o judiciário trabalhista como a favor do trabalhador. Para ela, a justiça está a favor do trabalhador que teve os seus direitos negados, porque o juiz aplica a lei e para favorecer o empresário que cumpre a legislação. “A justiça comum estadual e federal está assoberbada de processos e a demora nas decisões só beneficia quem está sonegando”, enfatiza.
Para a juíza, não tem lógica extinguir um ramo do judiciário que tanto se empenhou nesses últimos anos para combater a corrupção e a sonegação. A magistrada antecipa, ainda, que no dia 7 de fevereiro acontecerá o lançamento do Fórum Institucional de Defesa da Justiça do Trabalho (Fidejust). “Dezenas de entidades, de diversas áreas, estarão unidas para defender a Justiça do Trabalho. Temos um grande movimento para mostrar porque estamos aqui e a nossa importância na sociedade”, finaliza.