Cerca de 10 famílias na rua Jaguarão recebem ordem de despejo da Prefeitura
Sem ter onde morar, em torno de 10 famílias que vivem em um terreno no final da rua Jaguarão, no bairro Senai, receberam na última quarta-feira, 23, uma ordem de despejo da Prefeitura Municipal de Montenegro. Agora a pequena comunidade tem somente 15 dias para sair da área, o que segundo eles é impossível de realizar. Essa é, pelo menos, a segunda reintegração de posse que ocorre neste mês. No início de setembro 20 famílias da rua João Corrêa também foram intimadas pela Administração Municipal.
Em pequenos barracos, crianças; adultos e idosos dividem a esperança de uma moradia digna e uma vida de qualidade. Porém, ao invés disso, foram surpreendidos com uma notícia que trouxe mais preocupação ainda. “De quarta pra quinta eu não dormi, aonde eu vou meter a minha família?”, diz Elder Domingues, 31.
Além de propriedade da Prefeitura, a área ainda é considerada de risco, devido ao arroio que passa há cerca de 3 metros atrás. Apesar disso, Elder relata que não tiveram nenhum transtorno no último temporal que até gerou o alagamento de algumas casas no bairro.
Há oito meses no local, ele, a mãe, a esposa, e os dois filhos de 7 e 1 ano de idade, vivem somente com o auxílio do bolsa família e com a ajuda de cestas básicas do município. Segundo Elder, desde que perdeu a visão e foi demitido não conseguiu um novo emprego, e isso acabou acarretando a ida para a área. “Nem se dessem um ano conseguiríamos sair, porque desde março nós não conseguimos emprego. Como que em 15 dias uma firma vai ser obrigada a me contratar? Sendo que eu tenho o meu problema da visão; dependendo do setor que eu vou trabalhar não vão me aceitar”, explica.
Assim como ele, diversas outras famílias também não têm condições de pagar um aluguel. “A gente pagava aluguel antes, só que ai o meu esposo perdeu o emprego com essa pandemia. E no momento eu não posso trabalhar, porque eu cuido da minha mãe que é doente”, diz a montenegrina, Jordana de Almeida, 29, que mora há cerca de 9 meses no terreno. Com famílias há mais de um ano na área, essa foi uma escapatória para não acabar morando na rua.
Um presente desagradável
Fazendo aniversário no mesmo dia que recebeu a ordem de despejo, Jordana conta que a notícia foi um “presente” bem desagradável. “Eu fiquei preocupada, eu não dormi”. Também dependendo de cesta básica do município para a alimentação da família, a jovem conta que está na lista da secretaria de Habitação da Prefeitura para receber um lar desde 2010, mas até o momento não foi contemplada.
Segundo eles, o terreno não tinha nada anteriormente, apenas lixo que foi retirado. “Nós não desmatamos e não fizemos nada, nós só colocamos as casinhas. Cada um foi fazendo a sua, um ajudando o outro”, diz Elder. A luz é dividida entre eles, mas a água é cedida por um vizinho que enche um tonel para o uso das famílias. “A gente veio pra cá porque não tem condições de pagar um aluguel, da onde eu vou tirar?”, questiona Elder.
Inscritos desde 2009 na lista da Habitação, a família de Elder também aguarda por uma residência. “Se nos realocarem em qualquer outro lugar a gente vai faceiro, só que a gente não pode sair daqui pra morar no meio da rua”, declara. O sentimento é dividido também pelos outros moradores.
Área de risco
Já avaliada pela Defesa Civil do município, a área no final da rua Jaguarão é considerada de risco para moradia, apesar de já ter sido planejado um projeto pro local. “Se pensou uma época em fazer uma pracinha, porém com a proximidade do arroio também teria risco para as crianças, então essa área precisa ficar desobstruída e sem construções”, explica a diretora de Fiscalização de Obras e Posturas, Daniela Boss.
De acordo com Daniela, essa foi à terceira notificação dada as famílias, que precisam sair pelo seu próprio bem-estar. “É uma área de risco em função do arroio, porque esse arroio enche e vai inundar. Daqui a pouco eles estão em risco”, fala.
A diretora de fiscalização aponta que há dois problemas com o terreno: a área que pertence ao município e também o espaço que é irregular para construção. Com outras duas notificações realizadas anteriormente, Daniela comenta que essa foi uma medida necessária. “Não é uma coisa agradável de ser feito, mas a lei precisa ser seguida”, diz.
Segundo Dani, as famílias não podem continuar no local, e o que será feito é uma identificação dos moradores, inscrição no cadastro de Habitação para os que precisam, e um acompanhamento. A diretora de Assistência Social, Monica Müller, relatou que a princípio o levantamento será realizado nesta terça-feira, 29, mas que até lá não é possível fazer mais nada.