De Montenegro ao Uruguai em um Ka a GNVerde

Aventura ecológica. Carro percorreu mais de 850 quilômetros com combustível produzido na usina de biogás

Proprietários de carros sabem que abastecer no posto de gasolina com R$ 100,00 não dura muitos dias. Mas os pesquisadores Fabrizzio Cedraz Gaspar e Alexandre Pereira Wentz são capazes de ir até a capital do Uruguai com esse valor. E ainda sobra troco. Eles abasteceram de graça, é verdade, mas se tivessem de comprar GNV a um preço médio de R$ 2,65, a viagem de 853,8 quilômetros custaria meros R$ 95,40.

Os DOIS cilindros, com capacidade de 34m³, foram resfriados artificialmente a 10º C para ampliar a capacidade e, com isso, coube mais 2m³
Foto: Renan Costantin/Divulgação

Foi o que relevou o “Desafio Montenegro-Montevidéu”, uma iniciativa do Instituto Surear em parceria com a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), ambos de Salvador, Bahia, com patrocínio da Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás). A aventura teve como marco inicial a usina de biogás do Consórcio Verde Brasil (parceria entre a Ecocitrus e a Naturovos), na localidade de Passo da Serra, em Montenegro. Lá, no último dia 30, o Ford Ka utilizado pelos pesquisadores Fabrizzio Cedraz Gaspar, presidente do Surear, e Alexandre Pereira Wentz, do Programa de Mestrado Profissional em Bionergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) foi abastecido com biometano, o chamado “GNVerde”.

A capacidade oficial dos cilindros de gás adaptados ao Ka é de 34m³, mas para garantir que o veículo não precisasse ser reabastecido até a capital uruguaia os pesquisadores resfriaram artificialmente com gelo os recipientes a 10ºC. “Com isso foi possível aumentar para 36 m³ o volume de gás armazenado”, destaca Fabrizzio.

Segundo ele, o veículo fez uma média de 23,7 quilômetros por metro cúbico de biometano. “É a maior viagem feita sem reabastecimento e a primeira desse tipo com biometano, o que evidencia que veículos movidos a biometano podem alcançar maior autonomia e rendimento do mundo”, ressalta. Em relação à gasolina, diz o pesquisador, o rendimento do gás produzido em Montenegro foi 30% maior. Se você tem um carro a gasolina cujo consumo é de 13 km/litro, o gasto na viagem seria de R$ 262,00, ou seja, quase três vezes mais que o GNVerde.

O vice-presidente da Ecocitrus, Ernesto Kasper, conta que o Consórcio Verde Brasil apoiou a ideia. “Esta é mais uma iniciativa para o reconhecimento do produto e a valorização dos empreendimentos com potencial inovador para energias sustentáveis”, avalia.

Na volta, como não há GNV no Uruguai, a dupla optou pelo etanol, cuja matéria-prima é de fonte renovável e polui menos. O reingresso em território brasileiro foi no último dia 4 e a viagem seguiu até a Bahia com GNV nos cilindros sempre que possível.

Nosso biometano será referência para projeto no Uruguai
Durante a “trip” pelo Uruguai, os pesquisadores foram recebidos por autoridades e imprensa. Em nota publicada em seu site, o Ministério de Indústria, Energia e Mineração afirma que o projeto brasileiro servirá para aprofundar os estudos de biogás realizados pelo governo. “O biometano para mobilidade pode resultar numa alternativa atrativa ao combustível tradicional em determinados setores agroindustriais nacionais, com altos consumos em máquinas agrícolas”, diz o órgão.

Uruguaios, que têm projeto para produzir biogás com material orgânico, conheceram a iniciativa brasileira
Foto: Sulgás/Divulgação

Fabrizzio e Alexandre também visitaram a cidade de San José, onde foram recebidos para uma coletiva de imprensa. De acordo com a diretora de Desenvolvimento da prefeitura, Mercedes Antía, o Departamento de San José irá iniciar a execução, nos próximos meses, de um projeto de produção de biogás em Colonia Alemana para aproveitamento dos resíduos orgânicos gerados pela atividade agrícola. Outros projetos também estão em vista.

“Saber que existem pesquisadores e que existem fornecedores dispostos a transformar dejetos em combustível é algo fantástico. A partir de agora, teremos um vínculo que vai nos permitir fortalecer o nosso conhecimento. Para nós, este intercâmbio de experiências é realmente uma oportunidade importante para San José”, disse a diretora.

Conforme a Sulgás, além de aproximar o Brasil a outros países latino-americanos, o projeto montenegrino também estimula a demanda pelo uso do metano, que pode estar associado a outras fontes de energia renováveis, como forma de gerar desenvolvimento econômico sustentável para a América do Sul e alcançar maior aproximação entre as nações latinas a partir de uma iniciativa regional.

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— O biometano é um gás produzido a partir da purificação do biogás gerado pela decomposição de resíduos orgânicos. O Consórcio Verde Brasil usa principalmente dejetos gerados pela avicultura como matéria-prima, entre outros substratos orgânicos. A usina em Montenegro é a primeira no País a gerar biometano para aplicação em veículos.

— Idealizador do Desafio Montenegro-Montevideo, Fabrizzio diz que essa é a terceira viagem com o Ka, que é adaptado com kit GNV quinta geração Omegas da Landirenzo. Entre 2015 e 2016, o projeto divulgou o GNVerde numa travessia bioceânica, do Atlântico ao Pacífico, que partiu do Brasil e passou por Bolívia, Peru e Chile.

— O pesquisador diz, ainda, que no Brasil ainda há um lobby muito grande para a utilização do combustível tradicional. Para ele, porém, a cada dia fica mais evidente a necessidade de substituir as atuais fontes energéticas. “Estou convencido que o gás natural é a melhor alternativa energética [e de combustível] para a América Latina.”

— O Instituto Surear desenvolve pesquisas que objetivam desenvolver veículos mais racionais em relação aos recursos energéticos, podendo ser produzidos na linha de montagem ou por meio de centros de conversões independentes.

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