Organização desenvolve 12 projetos no município
Fundada em Montenegro no dia sete de setembro de 2008, a Cufa Montenegro se consolidou ao longo dos seus 13 anos como uma das organizações mais atuantes no município. A instituição calcula que somente durante o período da pandemia de Covid-19, 83 mil pessoas foram impactadas diretamente com ações e entregas de alimentos.
Foi justamente neste período de grande dificuldade para as famílias mais vulneráveis que a Cufa se mostrou ainda mais relevante perante a comunidade montenegrina. Hoje voluntária da entidade, Kauana Wilbert, moradora do bairro Estação, conta que seu envolvimento com a organização iniciou há dois anos, quando foi buscar por uma cesta básica no Cras e recebeu a indicação de procurar a Cufa. “Eles (Cras) me passaram o contato da Cufa e pediram pra eu conversar com a Carleane (Kaká) e explicar a minha situação. Então eu conversei com ela e no mesmo dia, à tarde, a Cufa já me trouxe uma cesta básica e foi onde eu consegui me manter até o mês seguinte pra pegar o rancho da Habitação”, relata Kauana.
A partir de então o envolvimento com a organização foi se intensificando. Hoje Kauana é representante do bairro Estação, e participa de todas as reuniões e ações da Cufa no bairro. “Comecei como cadastrada no projeto Mães de Favela, agora já estou como voluntária. Do mesmo jeito que a Cufa nos apoiou nos momentos difíceis, agora a gente está apoiando a Cufa. A gente só tenta retribuir um pouquinho do que eles nos ajudaram”, declara Kauana.
Liane Pereira da Silva, moradora do bairro Senai, também é voluntária da Cufa atualmente. Ela conta que descobriu o trabalho da organização através de uma reportagem do Jornal Ibiá, no ano passado. “Na época fiquei desempregada e como tenho seis filhos a situação estava bem difícil. Vi uma matéria onde a Cufa estava doando cesta básica e tinha um número de contato para informações. Liguei e prontamente fui atendida. Eles vieram na minha casa para visitar e ver minha real situação e constataram que eu tinha o perfil para entrar no grupo Mães de Favela, do qual participo como mãe e voluntária”, conta.
Durante esse período, a voluntária afirma que conseguiu perceber que a Cufa é muito mais do que uma organização que distribui alimentos. “Sou muito grata nesse um ano e meio de pandemia, porque mesmo desempregada todos os dias tenho o que colocar na mesa para os meus filhos. Eles nos fortalecem com alimentos, tickets gás, material escolar, chip com Internet, mantas, cobertas, agasalhos, brinquedos, livros e muito mais. Até uma palavra amiga que às vezes precisamos”, destaca Liane.
Através da Cufa, Liane conta que também teve a oportunidade de se qualificar profissionalmente fazendo um curso de corte e costura. Em conjunto com a Prefeitura, a organização encaminhou diversas pessoas para realizarem cursos gratuitos no Senai. “De lá saímos com o certificado e realizadas como profissionais, onde fizemos coisas que jamais achei que poderíamos fazer. Agora pretendo arrumar um emprego, pois costureira é uma profissão que paga muito bem”, relata Liane cheia de esperança.
Transformar as favelas pelos próprios talentos
De acordo com Rogério Santos, coordenador da Cufa Montenegro, a Central Única das Favelas surgiu a partir das reuniões entre os jovens de várias favelas do Rio de Janeiro, que buscavam espaço na cidade para expressar suas atitudes e questionamentos. “Como resultado dos primeiros encontros, eles descobriram que juntos poderiam se organizar em torno de um ideal: transformar as favelas por meio dos próprios talentos e potenciais diante de uma sociedade em que a discriminação por causa de cor, classe social e origem ainda não foram superadas”, afirma Santos.
Foi em 1998 que a organização saiu do papel e foi oficialmente fundada. Rogério Santos explica que inicialmente a Cufa teve como manifestação cultural o hip hop, porém tem buscado ampliar e atingir outras formas de expressões, conscientizando e elevando a autoestima das camadas não privilegiadas por meio de uma linguagem própria.
Hoje a organização está localizada nos 26 estados e no Distrito Federal, totalizando cerca de 50 bases de trabalho nas periferias do Brasil. No Rio Grande do Sul, a Central Única das Favelas foi fundada em novembro de 2005.
Em Montenegro, a Cufa iniciou os seus trabalhos em 7 de setembro de 2008, com a missão de contribuir para o desenvolvimento social, econômico e cultural das periferias. Santos afirma que os projetos buscam valorizar talentos e aptidões individuais e coletivas destinadas prioritariamente para crianças, jovens e mulheres de comunidades periféricas. “Este público apresenta alto grau de vulnerabilidade psicossocial, principalmente por seu envolvimento ou proximidade com a violência gerada pelo tráfico de drogas”, aponta o coordenador da Cufa Montenegro.
A organização também se tornou atuante nos órgãos consultivos e deliberativos do municípios. Hoje a Cufa faz parte do Conselho de Cultura, no Conselho da Mulher, no Conselho de Drogas, do Comitê de Combate de Exploração e Assédio Sexual Infantil, além de participar como facilitadores na justiça restaurativa do poder judiciário.
Empoderamento, empreendedorismo, acolhimento e trocas
Atualmente a Cufa Montenegro desenvolve 12 projetos em diversas áreas no município. São ações que englobam as áreas da cultura, educação, audiovisual, entre outros. O primeiro projeto desenvolvido no município pela organização foi o Núcleo Maria Maria, que serve como espaço de empoderamento, empreendedorismo, acolhimento, troca e encaminhamentos de mulheres da periferia.
Coordenado por Carliane Pinheiro, a Kaká, o núcleo Maria Maria trabalha questões de saúde da mulher, autoestima e atividades de auto sustentabilidade. O projeto conta atualmente com 175 mulheres de vários locais vulneráveis do município.
Desde de 2015 na Cufa Montenegro, a voluntária Danielle Araújo iniciou a sua caminhada no Núcleo Maria Maria para ajudar em rodas de conversa e hoje é coordenadora da juventude da entidade. “A gente tem esse trabalho de prevenção, escuta e empoderamento. Quando eu comecei a conversar com elas (integrantes) foi bem no meu período de transição, de me reconhecer como mulher. Eu entrei como uma Dani e naquele período eu mudei. Elas me acompanharam e foi muito importante isso”, relata.
A voluntária se diz grata pelo crescimento pessoal após seis anos na organização. “A Cufa engrandece muito Montenegro. Eu fico muito feliz e digo para o coordenador Rogério, que sou muito privilegiada por poder participar”, destaca.