Coronavírus: Comunidade está relaxando nos cuidados mais básicos

AUTORIDADES atrelam o aumento nas restrições à falta de responsabilidade de alguns

O Município passou esta semana na bandeira vermelha, o segundo pior indicador do controle da disseminação do novo coronavírus. Precisou, com isso, fechar o comércio não essencial e restringir uma série de atividades. Consequência não só da ocupação hospitalar a nível regional, mas também do contágio, que vem crescendo consideravelmente. Da semana em que estava na bandeira laranja para a que entrou na vermelha, Montenegro confirmou 26 pacientes a mais com a Covid-19. O crescimento, concordam as autoridades, está ligado diretamente ao relaxamento até dos protocolos mais simples de controle por parte da comunidade.

“O distanciamento social, a cada dia, diminui. As pessoas se aglomeram mais, fazem festas, se juntam, tomam chimarrão”, lamentou a secretária municipal de Saúde, Cristina Reinheimer, em apelo feito nas redes sociais. A impressão é que, após um “susto” inicial, parte dos montenegrinos deixou de tomar os devidos cuidados. A diretoria de Fiscalização da Prefeitura já recebeu mais de 800 denúncias de irregularidades. São das mais variadas: gente se reunindo em praças e na beira do Rio Caí, comemorações de aniversários e até rodeios sendo organizados no interior. Há registro, inclusive, de paciente que deveria estar no isolamento domiciliar por ter testado positivo para o coronavírus, e que saiu para a rua.

“Tem uma minoria que ainda está indisciplinada, que ainda não acredita que existe algo que não conhecemos, que se diz corajosa e valente”, colocou o prefeito Kadu Müller, também através de uma rede social. Kadu tem feito transmissões ao vivo, quase diárias, para tentar sensibilizar estes que não tem entendido a seriedade da situação. “Estamos pagando um preço muito alto, tudo com um prejuízo enorme (de quem tem que fechar empresas), porque não se teve essa conscientização.”

Os reflexos disso também foram sentidos no Hospital Montenegro. “Se a sociedade não fizer a sua parte, a gente não vai conseguir prestar assistência de qualidade e aí os óbitos vão começar a aparecer”, alertou o diretor técnico da instituição, Jean Ernandorena, em coletiva de imprensa convocada nesta semana. Com a demanda pelo atendimento hospitalar, em geral, crescendo com a chegada do Inverno, a direção ficou alerta quanto aos que puderem chegar a mais, com a nova doença. Tinham sido 63 atendimentos de pacientes Covid em maio; e, até a última terça-feira, os números de junho já tinham chegado aos 70. Foi preciso até chamar funcionários de folga, no sábado passado, para auxiliar na unidade de internação clínica separada para pessoas com o coronavírus.

CONSEQUÊNCIAS LAMENTÁVEIS
Com a doença se espalhando rápido, quem não seguir as orientações mais básicas, do uso de máscaras e da proibição às aglomerações, pode até responder criminalmente pela atitude. “Nós vivemos um momento de exceção e, nesse tipo de situação, para proteger um bem maior, que é a vida das pessoas que vivem na comunidade, as autoridades têm o poder de restringir alguns direitos, como é o caso do ir e vir”, explica a juíza Priscila Gomes Palmeiro, da 1ª Vara Criminal de Montenegro. “No descumprimento dessas normas, que são decretos, a pessoa está incidindo num crime”.

A juíza cita o artigo 268, do Código Penal, que prevê até detenção à pessoa que “infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”. E há outros em que o descumprimento também pode ser enquadrado: o 132, de expor a vida de outra pessoa a perigo eminente; e o 330, que trata da desobediência de ordem emanada da autoridade pública. A pessoa que sair sem máscara – algo tão simples – pode, sim, ir parar na delegacia.

Reconhecendo a demanda de atendimentos da Brigada Militar, a Administração Municipal centralizou as denuncias em si, colocando a Guarda Municipal na linha de frente do fazer cumprir dos decretos. Segundo o secretário municipal de Obras e Posturas, Marcus Vinicius Sousa Dutra, a central de denúncias é atendida pelos servidores da Guarda que, acompanhados pelos fiscais da Prefeitura, fazem as devidas averiguações e, quando necessário, acionam os brigadianos. Tem sido um trabalho pedagógico, de orientar a comunidade a cumprir orientações que vem sendo divulgadas já desde o mês de março. “Hoje, nós temos que tentar reduzir o contágio e o que pega muito é a concentração de pessoas”, conta Dutra. “Nós temos locais que, embora ao ar livre, há o acúmulo de pessoas e não há o distanciamento.”

O próprio prefeito já adiantou que não desconsidera, se os casos continuem se multiplicando, vir a fechar o acesso a orla do Rio Caí, ao Morro São João e às praças da cidade. O Parque Centenário já está fechado com essa finalidade. “Da denúncia, nós vamos, sim, buscar os responsáveis. Mas é um trabalho desnecessário, quando nós podemos usar do bom senso, da responsabilidade e da conscientização”, salientou Kadu.

Uma barreira a ser transposta
As imagens que ilustram a matéria foram postadas em redes sociais – algumas são da própria Fiscalização – e mostram práticas que, apesar de todas as orientações, vão contra aos protocolos de saúde. E não é preciso ir longe para encontrá-las. Enquanto esta reportagem era produzida, com uma entrevista em frente ao Palácio Rio Branco, da Prefeitura, passavam pessoas que, mesmo que usassem máscaras, estavam com elas baixadas até o queixo. “É uma questão de cultura”, definiu o secretário Dutra, diante da situação. “Mas o coletivo tem que imperar.”

Dos casos confirmados de coronavírus em Montenegro, a maioria dos pacientes era assintomática e só soube que tinha o vírus porque foi testada. E como a testagem não alcançou nem 1% da população de Montenegro, a preocupação das autoridades é que, com os poucos cuidados e a rapidez da disseminação, a doença acabe chegando naqueles com maior tendência a terem complicações em decorrência da enfermidade: idosos, pessoas com doenças crônicas, pacientes oncológicos, diabéticos, hipertensos, dentre outros.

Uma das barreiras a transpor, segundo a secretária de saúde, é entre os jovens – os que mais têm se recusado a cumprir as determinações. “E eles são os vetores que levam o vírus para dentro de casa e acabam transmitindo para os demais”, explicou Cristina. Montenegro acumulava até esta quarta-feira, 24 de junho, 126 contaminados.

A central de denúncias
– 153 (Guarda Municipal – 24 horas)
– (51) 996.702.289 (Guarda Municipal – 24 horas)
– (51) 3632-1391 (Guarda Municipal – horário comercial)
– (51) 3649-8234 (Setor de Fiscalização – horário comercial)

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