Cidade sustentável. Bate-papo no Estúdio Ibiá nessa quarta-feira abordou o tema
Como você imagina o município de Montenegro daqui a 5, 10 ou 20 anos? Com localização privilegiada e uma área consideravelmente extensa, a cidade possui um grande potencial de crescimento econômico, estético e sustentável. Nessa quarta-feira, 10, o programa Estúdio Ibiá debateu como o município está sendo pensado para o futuro.
Celebrado no dia 8 de novembro, ou seja, na última segunda-feira, o Dia Mundial do Urbanismo propõe uma reflexão sobre a promoção e criação de soluções urbanísticas, que podem colaborar para uma saudável integração dos elementos de uma comunidade. O urbanismo consiste nos padrões estabelecidos para o crescimento de uma cidade em vários âmbitos, entre eles o técnico, econômico e administrativo.
Com base nisso, o Estúdio Ibiá recebeu o secretário municipal de Gestão e Planejamento, Fabrício Cotinho, e o professor de urbanismo e arquiteto, Leonardo Müller Garateguy, que levantaram questões importantes sobre o presente e, principalmente, o futuro da Cidade das Artes. Pavimento ecológico, IPTU Verde, energia solar, novos espaços de lazer e preservação do nosso patrimônio. Esses foram alguns temas abordados durante o programa.
Os montenegrinos desejam uma cidade segura e tranquila para viver, com opções de lazer e entretenimento para aproveitar aos finais de semana. As transformações ocorrem aos poucos e muitas vezes não são percebidas pela população, mas o município vem crescendo. “Acho que Montenegro tem um potencial muito grande. As praças da cidade estão sendo reformuladas. Imaginamos a cidade com padrão estético. As pessoas irão olhar com tudo pronto, qualquer foto que aparecer e dizer: ‘ah, é Montenegro!’. Como acontece com Gramado”, ressalta Fabrício Coitinho.
Além das praças existentes, o Parque Centenário e o Cais do Porto das Laranjeiras são prioridades a curto prazo da Administração Municipal. O objetivo é tornar esses lugares cada vez mais atrativos à população. “Com pequenas intervenções, por exemplo, o Parque Centenário e a Estação da Cultura começaram a ser mais atrativos. A intenção é fazer com que a família se aproprie do lugar. Na beira do rio, não há problema até as 20h, porque as famílias estão se apropriando”, frisa o secretário.
“[…] Vemos que não só em Montenegro, como em qualquer lugar, onde a população se apropria, as coisas ficam mais bonitas. Aqui na cidade, um exemplo disso é a praça do Bairro São Paulo, a Praça das Poesias. O bairro toma cuidado e é uma das praças mais bem cuidadas da cidade”, complementa Coitinho, destacando que a próxima intervenção ocorrerá na praça do bairro Santa Rita.
O professor Leonardo Garateguy exaltou os exemplos citados pelo secretário em relação aos espaços públicos de destaque que a cidade possui. Além disso, deu sugestões para a Administração. “Quero chamar atenção a duas coisas que são bem pertinentes. Os pátios de escolas públicas, que poderiam ser abertos à comunidade em finais de semana, e que a maior porção de espaço público que existe na cidade se chama rede de ruas. Acho que temos que dar atenção para as nossas ruas (calçadas)”, pontua.
“Que o poder público faça um chamamento ao cidadão montenegrino, para que ele entenda a importância daquela árvore que está plantada em sua calçada. A importância de manter a sua calçada em condições mínimas de circulação com segurança. Isso é de responsabilidade do morador. É bacana sair no sábado pela manhã caminhando, pela Ramiro Barcelos, porque é um passeio, o comércio está ali”, complementa Garateguy.
Mobilidade urbana e novas ciclovias
A jornada diária de uma pessoa ou o movimento pendular, como é chamado no urbanismo, consiste no trajeto de casa até o trabalho, e do trabalho até a casa, além do trajeto da casa até a instituição de ensino e vice-versa. O período de deslocamento e a segurança das pessoas são preocupações da atual gestão do município.
A instalação de novas ciclovias em Montenegro, por exemplo, é uma das possibilidades. “Está sendo pensado para vários locais da cidade: como viabilizar e os lugares exatos. Temos que entender e estudar o fluxo, para definir exatamente onde será (a ciclovia), para não atrapalhar o trânsito. Na Via II, sabemos que as calçadas daquela largura toda foram projetadas. Metade daquela calçada foi projetada para ser uma ciclovia. Lá é um lugar que sabemos que precisa”, observa Coitinho.
O professor Leonardo Garateguy avalia que a cidade de Montenegro tem uma mobilidade complicada. “Temos fabulosos acidentes geográficos bem ao centro da mancha urbana. Refiro-me ao Morro São João, ao Morro dos Fagundes e o banhado junto ao Rio Caí. São lindos, mas ao mesmo tempo, separam a mancha urbana em duas frações: cidade leste, que é a cidade histórica, e a cidade oeste. Muitos montenegrinos precisam transpor estas barreiras geográficas para realizar suas rotinas”, declara.
Uma das preocupações de Garateguy em relação à mobilidade é o espaço físico, de como as ruas estão distribuídas no casco urbano. “Não digo que o prefeito Zanatta tenha que encarar isso, mas os futuros gestores terão que começar a pensar em micro cirurgias na malha. Inevitavelmente, isso irá envolver algumas desapropriações para poder fazer a conexão, mas os ganhos são significativos”, salienta.
Leonardo afirma que essas ‘micro cirurgias na malha’ queimariam menos combustível fóssil e economizariam tempo no deslocamento dos montenegrinos, mas indica: “essa é uma ideia de planejamento a médio e longo prazo, não é para uma gestão”.
O potencial do município
Um sistema urbano é caracterizado por seu estado de mudança, de transformação, como citou o professor Leonardo Garateguy durante o programa. Montenegro possui um potencial de crescimento enorme, mas é preciso pensar e projetar bem cada detalhe. A cidade fica próxima de grandes centros e conta com uma logística privilegiada, que possibilita o deslocamento para todos os lados de maneira fácil e rápida. Isso se torna atrativo para as indústrias, além da população em geral.
O plano diretor vem sendo revisto pela Administração Municipal, mas uma coisa é certa: o patrimônio será preservado e valorizado. “A gente vem trabalhando o plano diretor, ele prevê que não seja permitido que se suba demais a altura dos prédios, justamente para preservar a vista para o Morro São João. Gosto muito de trazer a imagem que se tem, quando senta no banco da praça central, de frente para a Ramiro. Tu enxerga, alinhado, três patrimônios da cidade, o prédio da Prefeitura, a Catedral e o morro ao fundo. Essa é uma visão que precisamos preservar”, declara o secretário.
Garateguy entende que pensar a cidade é fundamental, mas frisa que o município é um campo de disputas e a sociedade não é toda igual, pois tem interesses diversos e distintos muitas vezes. “Não tem como agradar todo mundo, o papel dos governos é tentar achar um meio de conciliação, que contemple o maior número de cidadãos. Acho que Montenegro pode ser potencializada, temos que cuidar bem da cidade, das calçadas, um plano de arborização, saneamento básico, um trânsito que seja planejado, no sentido de preservar a vida”, reitera.
O secretário Fabrício Coitinho relata que a cidade possui vocação rural e isso precisa ser respeitado. “Temos zonas rurais muito grandes, conseguimos fazer uma zona destinada à indústria. Temos áreas específicas onde essas indústrias possam se instalar. Comparo cidades, às vezes. Canoas, por exemplo, tem uma área que é pouco mais de ¼ da área de Montenegro, e eles têm quatro vezes mais população, numa área muito menor”, explica.
IPTU Verde, energia solar e pavimento ecológico
Uma forma de incentivo à população, para que ela adote soluções mais sustentáveis em suas casas, como energia solar, reutilização da água e recuperação da água, o IPTU Verde é um projeto que a Administração pretende colocar em prática em Montenegro. No momento, o Município está realizando um levantamento de impacto financeiro – já que esse incentivo prevê a redução do imposto para quem utilizar –, para depois apresentar à Câmara de Vereadores.
Há vários recursos ligados ao pavimento ecológico. As pavimentações se referem à drenagem, ao melhor encaminhamento das águas das chuvas, confecção desses pavimentos com materiais que sejam oriundos de processos de reciclagem, tanto da construção civil, como de outros processos produtivos. Fabrício Coitinho frisa que essa questão está em fase de estudo e planejamento em Montenegro.
Já a energia solar é uma realidade no município. “As pessoas estão procurando, e o preço da energia colabora com essa procura. Vemos muitas casas com a solução do reuso de água, o que é bem legal. Temos trabalhado para trazer a energia solar para os prédios públicos. Nesse caminho, também estamos trabalhando para reduzir esse consumo com energia, com lâmpadas de LED na cidade, começar a fazer essa substituição. É uma preocupação da Administração, do prefeito”, atesta o secretário.
Nos últimos cinco anos, a procura por energia solar aumentou bastante. Coitinho vê um crescimento exponencial dessa busca por energia solar nos últimos dois anos. “Vejo uma demanda latente, porque vamos precisar de outras formas para economizar. Percebo a indústria evoluindo mais nesse aspecto, é onde gera mais retorno financeiro também. Proteger o meio ambiente gera lucro. Energia solar, reuso de água e soluções ambientais acabam gerando economia e incentivando que se invista em questões ambientais”, completa.