Grupos conservadores criticam a Campanha Ecumênica de 2021
União e tolerância. Esses são os desejos de grande parte da população para este período de pandemia e polarização política, porém não é o que está ocorrendo na Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. Lançada oficialmente nesta quarta-feira de cinzas, 17, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Campanha tem sido alvo de críticas e boicotes de católicos conservadores, que apontam deturpação dos valores cristãos e defesa de pautas chamadas “marxistas”.
A Campanha da Fraternidade inicia junto com a Quaresma, parte da programação da Igreja Católica para um período de 40 dias (que inicia na Quarta-feira de Cinzas e termina na Páscoa, daí a origem do nome quaresma) e existe desde 1964, tendo sido criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB. Segundo o Bispo da Diocese de Montenegro, Dom Carlos Romulo, esses 40 dias é um tempo simbólico, próprio de oração, de jejum e de caridade.
Em linhas gerais, a Campanha da Fraternidade tem como objetivo conduzir o povo católico a refletir sobre algum problema concreto brasileiro nos âmbitos da saúde, meio ambiente, família, dentre outros. “Nós sabemos que a nossa sociedade – não só o ambiente cristão – mas também o ambiente social, as pessoas estão com bastante dificuldade de diálogo. […] O diálogo significa não eu concordar com o outro, mas conseguir ouvir o outro e expressar a minha opinião”, diz Dom Carlos.
É preciso dialogar
Com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”, esta será a 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica, ou seja, tem apoio e engajamento de várias outras igrejas. Neste ano, oito movimentos cristãos brasileiros participaram da concepção: Igreja Católica Apostólica Romana, por meio da CNBB; Aliança de Batistas no Brasil; Igreja Episcopal Anglicana; Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; Presbiteriana Unida; Sirian Ortodoxa de Antioquia; Igreja Betesda; e o organismo ecumênico Ceseep. Assim, é endossada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC.
Segundo Dom Carlos, por se tratar de uma Campanha ecumênica há uma grande necessidade de diálogo entre os cristãos e também com a sociedade. “Sem esse diálogo a gente acaba impondo muitas vezes até violência sobre as pessoas, como a gente tem percebido na sociedade. Quando a gente ama, é capaz de dialogar”, comenta.
Entretanto, através das redes sociais, alguns grupos católicos têm se manifestado contra a realização da Campanha, sem o interesse de dialogar sobre o assunto. No texto-base do evento, há críticas à “negação da ciência” durante a pandemia da Covid-19; à “cultura de violência” contra mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTIQ+, e a igrejas que não respeitaram o distanciamento social, por exemplo. Um dos grupos críticos, o Templário de Maria, afirma que a CNBB usou o período quaresmal para tratar de assuntos contrários à fé católica.
Em nota, a presidência da CNBB, afirmou que a publicação seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do CONIC. Já o CONIC declarou que a redação “foi resultado de um processo coletivo de construção, que iniciou no final de 2019” e que “teve participação direta de pessoas de diferentes áreas do conhecimento, em especial, sociologia, ciência política e teologia”.
Polêmicas da Campanha
Sobre as polêmicas envolvendo a Campanha da Fraternidade de 2021 o Bispo Dom Carlos Romulo relata que há alguns grupos organizados que propagam idéias contrárias há alguns anos. “Nós fazemos a Campanha há 57 anos; o nosso povo está todo acostumado a tomar o material e trabalhar, e o trabalho que nós fazemos da Campanha da Fraternidade é um trabalho de oração. Então é importante dizer para o nosso povo que não precisa se preocupar com tanta gritaria, porque quando a pessoa pega o material ela vai se dar por conta que é um encontro de oração, é uma via sacra que se faz na comunidade, e é isso que nós vamos trabalhar, sobre o diálogo e a paz”, declara.
De acordo com o religioso, a crítica existente nas redes sociais é contra o texto-base da Campanha, mas garante que não há nada de estranho quanto a ele. “As críticas também fazem parte do processo. Os cristãos também têm direito a criticar e se posicionar, isso não tem problema, o que não se deve fazer é faltar com a caridade uns com os outros”, completa.
Momento de renovação
Para Dom Carlos Romulo este é um momento para se renovar a vida cristã e repensar as atitudes. “O meu desejo é que esses 40 dias de Quaresma sejam um tempo de diálogo e de paz. Que todos possam tomar o material, fazer os seus gestos de caridade, fazer uma avaliação de como está vivendo a sua vida cristã, familiar, comunitária, e que seja um tempo de benção. […] E que possamos celebrar a Páscoa com alegria, renovando a nossa vida cristã”, fala.
O Bispo deixa o convite para quem mora em Montenegro participar das celebrações desta quarta-feira de cinzas na Paróquia Catedral São João Batista às 20h e também na Paróquia Sagrado Coração de Jesus às 19h. Também ocorrerão missas nas demais paróquias da Diocese.