fé e devoção Em um dos trechos do Cais, dona Maria mantém um altar dedicado à Santa
Quem passa por um dos trechos do Cais de Montenegro provavelmente já notou uma imagem de Iemanjá em frente a uma pequena residência, na altura do bairro Industrial. Coberta com um manto que lembra o azul do mar, a escultura que parece olhar para o Rio Caí pertence à aposentada Maria Brena, 66. Por trás do monumento, uma história de fé e devoção revela os motivos que fazem a divindade ser apreciada por seus seguidores.
Há cerca de 13 anos, dona Maria conta que a filha e o genro enfrentavam sérios problemas com as drogas e que as várias tentativas de cura sem sucesso mais parecia um pesadelo sem fim. “A situação chegou ao ponto de eu ter que assumir a guarda dos meus netos”, relembra a aposentada. “Um dia fui à praia de Tramandaí e levei as crianças juntos.Quando meu neto viu a imagem dela, se ajoelhou na frente e, com as mãozinhas arrumadas, fez uma oração”, detalhou.
Força do destino, milagre ou uma grande coincidência, cerca de uma semana depois, os pais do garoto decidiram, por iniciativa própria, entrar no processo de reabilitação. É o que relata a devota.“Foi como se alguém tivesse internado eles durante dois anos e devolvido depois: eles pararam do nada”, relembra dona Maria, que ficou ainda mais surpresa com a revelação do neto. “Quando isso aconteceu, meu neto disse ‘vó, eu pedi para aquela santa e ela ajudou’, depois me pediu que trouxesse a santinha milagrosa para nossa casa”, relembra emocionada.
Para ela, a fé do neto foi transformadora e também a fez lembrar de uma antiga promessa. “Uma vez passei aqui na esquina e pensei que se um dia a mulher quisesse vender a casa [onde mora atualmente] e eu pudesse comprar, colocaria a imagem de Iemanjá”, explica a a aposentada, revelando que seis meses depois já residia no local.
Com o pedido especial do neto e a antiga recordação da promessa, a aposentada passou a procurar a imagem de Iemanjá para finalmente cumprir com o juramento, mas a tarefa não foi fácil. Segundo a aposentada, apesar da divindade ser bastante apreciada, ela levou meses até achar a imagem. “Andei a cidade inteira, fui a Porto Alegre e Lajeado, até que um dia meu neto encontrou a santa em uma loja aqui na cidade, era R$400,00, dei 100,00 e fui pagando de pouquinho até quitar tudo e poder trazer ela pra casa”, recorda.
Para alguns, pode ser apenas uma imagem, para dona Maria e sua família, a escultura representa a força de uma divindade que ama, acolhe e protege seus filhos. Diariamente, a aposentada garante a manutenção necessária para que a imagem permaneça embelezando e encantando quem passa pelo local. Entre um cuidado e outro, a montenegrina revela um sentimento bastante presente entre os devotos de Iemanjá, que na religião católica é reverenciada como a Nossa Senhora dos Navegantes: o medo.
“Quando eu trouxe a santa para casa, de dia eu a deixava no lado de fora de casa, mas a noite eu guardava com medo de alguém quebrar, pois tem gente que não gosta e não respeita todas as religiões”, lamenta.
O cantinho das promessas
Fixada em um pedestal de concreto, o altar de Iemanjá de dona Maria passou a ser um local referência para os devotos da santa que passam pelo Cais de Montenegro. Entre uma corrida e outra, a aposentada conta que um motorista de aplicativo de um município vizinho passou em frente a casa e, depois de ver a imagem, pediu pra acender um vela. “Ele me contou que a mãe dele também é devota, e, por isso, ele tinha tanto respeito pela senta”, disse a aposentada, que sente feliz por motivar a fé nas pessoas.
Outra história que a devota guarda com carinho, é de um rapaz que, segundo relatou para a aposentada, foi salvo de um afogamento no Rio Caí por Iemanjá. “Ele caiu de um barranco na água e sentiu uma pessoa empurrando ele de volta para a terra, e quando ele olhou para o rio, avistou santa”, disse dona Maria. “Ele acredita que foi ela, e sempre que pode, ele vem ascender uma vela aqui”, completou.