150 anos da imigração italiana no RS são lembrados com marcha

PORTO DAS LARANJEIRAS é ponto de partida para reencontro com a história

Nesse domingo, dia 6, Montenegro recebeu a 3ª edição da Marcha da História, que nesta edição teve como tema os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul. A iniciativa foi promovida pelo historiador Eduardo Kauer e partiu do Cais do Porto das Laranjeiras, local por onde chegaram os primeiros imigrantes italianos que se estabeleceram na região serrana do Estado.

De acordo com o historiador, o local tem papel estratégico no processo migratório. “Antes de chegarem a localidades como Nova Milano, em Farroupilha, os imigrantes desembarcavam aqui, no Porto das Laranjeiras, que era o ponto mais acessível da rota fluvial. Eles ficavam provisoriamente alojados onde hoje está localizada a Câmara de Vereadores, aguardando o transporte que os levaria de carreta até a Serra.”

A marcha percorreu cinco pontos da cidade ligados à presença dos italianos, incluindo locais onde há registros de hospedagem, passagem e permanência dos primeiros grupos que chegaram ao município. Entre os destinos, estiveram a praça em frente à Catedral São João Batista (Praça Ivo Bühler) e outras áreas do centro histórico onde há vestígios da presença italiana.

Esta foi a 3ª edição da Marcha da História em Montenegro. A primeira homenageou a Revolução de 1923 e a segunda, em 2023, lembrou a imigração alemã no Vale do Caí. Segundo Eduardo Kauer, a proposta da marcha é promover a vivência dos lugares históricos. “Ver o local onde os fatos aconteceram difere de apenas ler ou ver fotos. O ambiente ainda preserva aspectos da época e permite outra compreensão da história.”

Familiares destacam histórias e desafios dos imigrantes italianos

Lisa Borchardt foi convidada à lançar flores ao rio, em homenagem aos imigantes

As famílias participantes da Marcha em Homenagem aos Imigrantes Italianos foram convidadas a inscrever, de forma voluntária, os nomes de seus antepassados ligados à imigração. O formato colaborativo é uma das características do evento, que busca fortalecer a construção coletiva da memória local.

Entre os participantes esteve Leodimar Aldo Mantovani, que prestou homenagem a seu trisavô Attílio Mantovani. Ele compartilhou informações e reflexões sobre a trajetória dos imigrantes italianos no Brasil. Segundo Aldo, muitos foram atraídos com promessas que não se confirmaram. “No Brasil, vocês podem ter seu castelo. O governo dá terras e ferramentas para todos”, diziam os cartazes da época, segundo ele. No entanto, ao chegarem, deparavam-se com condições de trabalho precárias e, em muitos casos, em sistema de escravidão.

Aldo relatou que seu trisavô desembarcou no Brasil em 1880. Instalou-se inicialmente no interior de Montenegro, em Dona Isabel, atual Bento Gonçalves, na localidade de Faria Lemos. Casou-se com Lúcia, também imigrante italiana, e permaneceu ali até seu falecimento. Para Aldo, a lembrança desses antepassados é fundamental para compreender o presente. “Eles contribuíram com o trabalho, o empenho e o conhecimento. Deixaram um legado que ajudou a construir Montenegro”, afirmou. Ele destacou a importância de conhecer o passado, preservar o que foi positivo e reconhecer os erros.

Lisa Borchardt também compartilhou memórias familiares. Ela lembrou dos sobrenomes Guzatte e Chesini, presentes nas histórias de seus avós. Disse ter crescido em deslocamentos entre Montenegro e Garibaldi, sem saber da origem do território e sua ligação com Montenegro. “Eu só lamento não ter aprendido mais com meu avô”, contou. Lisa Lembrou dos relatos do avô sobre as viagens até o cais para buscar alimentos e da importância do trem como meio de transporte. Também mencionou a hospedaria que abrigava viajantes da serra e seus animais durante as passagens pela cidade, e que, anos depois viria a se tornar o Hotel Niro.

O Porto das Laranjeiras, por onde chegaram os imigrantes, também foi o ponto de partida da marcha histórica

Marco histórico da imigração é lembrado durante Marcha

Durante a Marcha em homenagem aos imigrantes italianos, Leodimar Aldo Mantovani destacou a importância da criação de um monumento que reconheça a trajetória daqueles que deixaram suas origens para se estabelecer na região. Segundo ele, iniciativas como essa contribuem para preservar a memória de quem participou do processo de povoamento local.

O diretor de Turismo de Montenegro, Jaime Büttenbender, informou que estão em andamento as providências para instalar, junto ao Porto das Laranjeiras, uma estrutura permanente em homenagem a todas as etnias de imigrantes que chegaram à cidade por aquele ponto. A proposta é reconhecer simbolicamente o local como porta de entrada de muitas famílias no século XIX.

Eduardo Kauer relembrou que, na esquina das ruas Osvaldo Aranha e Buarque de Macedo, existiu um obelisco construído em 1925. A estrutura trazia uma placa que indicava o início da imigração italiana no Rio Grande do Sul. Segundo relatos de moradores mais antigos, como Ernesto Louer, o monumento permaneceu no local até a década de 1970, quando teria sido removido durante obras de reestruturação viária.

A Rua Buarque de Macedo, conforme explicou o historiador, foi aberta originalmente para facilitar o deslocamento dos imigrantes rumo ao interior do Estado, até a região de Vacaria. O desaparecimento do obelisco, que poderia estar completando cem anos, foi citado como uma perda significativa para a memória da imigração italiana no município.

Na esquina das ruas Osvaldo Aranha e Buarque de Macedo existiu um obelisco construído em 1925, por onde passavam os imigrantes

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