Na Coluna de Eleições de hoje, relembramos mais alguns episódios emblemáticos dos chamados “votos de protesto”. Antes da introdução da urna eletrônica em 1996, as cédulas de papel eram frequentemente utilizadas pelos eleitores para expressar sua insatisfação com o cenário político. Embora esses votos não tenham trazido mudanças práticas significativas para a vida pública brasileira, alguns episódios se tornaram históricos.
O primeiro registro de um voto de protesto notável ocorreu em 1959, na cidade de São Paulo. Naquela ocasião, o rinoceronte Cacareco, uma fêmea emprestada pelo Rio de Janeiro para a inauguração do zoológico paulistano, foi lançado como candidato por brincadeira. A ideia partiu do jornalista Itaboraí Martins, do jornal O Estado de São Paulo. Segundo reportagem do portal iG, “milhares de cédulas eleitorais foram impressas em gráficas com o nome do bicho como parte da intervenção”. O resultado foi surpreendente: Cacareco conquistou quase 100 mil votos nas eleições, tornando-se um símbolo de protesto contra a classe política.
Outro episódio de grande repercussão ocorreu em 1988, com a candidatura do chimpanzé Tião, a maior atração do zoológico do Rio de Janeiro, para prefeito da cidade. A iniciativa foi dos humoristas do jornal “O Planeta Diário” e da revista “Casseta Popular”. Em um período de transição da ditadura para a democracia, os humoristas argumentaram que o objetivo era libertar “o último preso político”, concorrendo pelo fictício Partido Bananista Brasileiro. Estima-se que Tião tenha recebido cerca de 400 mil votos, alcançando o terceiro lugar no pleito. Tião, que faleceu em 1996 aos 34 anos devido a complicações de diabetes, tornou-se um ícone da descrença na política partidária.