Dono do apito. Jerônimo Porto exerce a função há quase três décadas e mostra pulso firme dentro das quatro linhas
“Dependendo da ofensa, retruco à altura. Minha carreira toda é marcada por essa postura. Nunca fui de levar desaforo para casa”, relata o árbitro de futebol Jerônimo César Porto, 52 anos. Nascido em Bagé, ele reside atualmente em Gravataí e vem para Montenegro com frequência para apitar jogos de futebol sete, no Cantegril e também no Grêmio Gaúcho.
Formado em arbitragem, Jerônimo exerce a função há 29 anos e hoje trabalha em uma empresa de árbitros. Em quase três décadas atuando na área, já viajou por quase todo o Estado e presenciou inúmeras situações dentro das quatro linhas. Para ele, a maior dificuldade em apitar futebol sete é a sintonia com o outro juiz, já que na modalidade são dois árbitros e nenhum assistente. “O mais difícil sempre é dividir responsabilidades, critérios e a questão disciplinar, já que os dois precisam estar em sintonia”, enfatiza.
O início de sua trajetória como árbitro se deu por acaso, relembra. “Nunca me passou pela cabeça ser árbitro de futebol, foi por acaso. Eu tinha o que chamamos de ‘dom’. Apitava amistosos, sem qualquer pretensão, até que descobri essa vocação, que já dura 29 anos”, ressalta.
Vida de árbitro não é fácil, pelo menos em seu ambiente de trabalho. Além de lidar com a pressão dos jogadores no campo, o juiz é alvo de xingamentos dos torcedores durante praticamente todo o jogo. No caso de Jerônimo, as ofensas não são levadas para casa. “Os xingamentos não devem atingir um árbitro de futebol. Ele tem que estar acima disso, não pode se envolver com essas manifestações. Porém, eu nem sempre consigo. Luto contra isso sempre, mas, na maioria das vezes em que sou ofendido, é inevitável para mim, que tenho temperamento forte. Como possuo outras responsabilidades, preciso me conter”, frisa.
Experiente na área, Jerônimo garante que o árbitro é quem deve impor limites em campo, mas isso nem sempre acontece. “É difícil colocar limites em todas as modalidades, nem sempre acertamos. Muitas vezes, somos mal interpretados. Mas apitar futebol é um arte, pelo menos eu considero assim”, destaca.
O árbitro de 52 anos já passou por diversas situações inusitadas em sua carreira. Entretanto, um caso ocorrido no Grêmio Gaúcho não sai de sua memória. “Sempre fui um árbitro disciplinador e nunca deixei de resolver as coisas dentro de campo. Depois que expulsei um treinador que hoje é meu amigo, o mesmo continuou a questionar todas as nossas marcações e a nos xingar em volta do campo. Então, tive uma atitude nunca vista. Saí da quadra, peguei uma mangueira que estava perto e limitei a aproximação dele. Amarrei ela em dois lugares e falei que daquela área ele não passaria. Foi o show da tarde”, completa.