FERNANDO GARCIA, o Dé, está no clube da Serra há seis anos
Os bons resultados conquistados pelo Juventude no cenário estadual e nacional, nos últimos anos, não são por acaso. O clube, que neste ano foi finalista do Campeonato Gaúcho, chegou às quartas de finais da Copa do Brasil – eliminando Inter e Fluminense – e faz campanha regular no Brasileirão, está colhendo os frutos de um trabalho sério e realizado a longo prazo, que começa na base. E um dos protagonistas do sucesso jaconero na base é montenegrino.
Há seis anos no clube, o treinador Fernando Garcia, mais conhecido como Dé, conquistou recentemente seu primeiro título à frente da equipe Sub-17, logo em seu primeiro ano comandando a categoria. No final de agosto, o Juventude se sagrou campeão do Campeonato Gaúcho Sub-17 ao superar o Inter na decisão. Antes, nas semifinais, a equipe da Serra eliminou o Grêmio.
O troféu coroou a grande campanha do Ju, que teve apenas uma derrota no estadual – e não foi para a dupla Gre-Nal –, e também o trabalho desenvolvido por Dé e toda comissão técnica, que é composta por outro profissional de Montenegro, o preparador de goleiros Nielsen Réquia. Este foi o 10° título conquistado por Dé no clube, em 15 finais disputadas. “Estou vivendo o melhor momento profissional na minha carreira”, exaltou o treinador, que completou 40 anos de idade no início deste mês de setembro.
O próximo desafio de Dé será a Copa Laghetto Sub-16, que começa neste final de semana, em Gramado. Ele comandará a categoria 2008 do Juventude, que também foi campeã estadual (Sub-15, em 2023) com o montenegrino na casamata. Na primeira fase do torneio a nível nacional, o Ju vai encarar Inter, Flamengo e Atlético-MG.
Em entrevista concedida ao Ibiá, Dé falou sobre a campanha vitoriosa do grupo Sub-17, a ascensão dentro do clube, seu estilo de jogo preferido e a parceria com Nielsen, com quem trabalhou junto no Fera, em Montenegro. Confira abaixo:
Campeão sem perder para a dupla Gre-Nal
“É o meu primeiro ano como treinador do Sub-17 aqui no clube. Vencemos a dupla Gre-Nal. Nas semifinais, jogamos contra o Grêmio, dois jogos bem equilibrados, tanto que isso se traduziu em resultado, foi 0 a 0 aqui em Caxias do Sul. Depois, fora de casa, a gente saiu perdendo, buscou o empate, e classificamos nos pênaltis. O Grêmio com vários atletas convocados para a seleção de base, isso enaltece ainda mais o nosso trabalho. Depois, na final também, dois jogos bem competitivos contra o Inter. O primeiro jogo aqui em Caxias, nos primeiros 15 minutos o Inter foi melhor, depois a gente conseguiu controlar bem o jogo, tivemos bola na trave, as melhores chances de fazer o gol, mas terminou 0 a 0. No jogo da volta, a gente conseguiu ser superior quase que os 90 minutos, o primeiro tempo foi um pouco mais equilibrado, poucas chances de gol para os dois lados, e o segundo tempo a gente foi muito superior. Acabamos vencendo por 1 a 0. (Em toda campanha) perdemos só o último jogo da fase classificatória, para o São Luiz fora de casa, quando a gente acabou usando um time mais misto, eu estava viajando com o grupo Sub-16 no Rio de Janeiro. A gente nunca esquece o processo de formação, os interesses do clube, que é desenvolver os atletas para que eles possam se projetar para as categorias maiores e para o profissional. Esse sempre foi o nosso foco principal, mas conseguir fazer isso vencendo é melhor ainda.”
Estilo de jogo preferido
“É muito característico da nossa formação aqui no clube, atletas que tenham boa técnica, porque a gente gosta de construir o jogo, de ter a posse, de ter a bola… Mas eu não abro mão dos comportamentos de linha, não abro mão dos comportamentos defensivos principalmente, porque a gente sabe que jogando contra a dupla e contra equipes grandes, em determinados momentos, a gente não vai ter a bola. Então, é necessário ter uma compactação defensiva muito bem ajustada, com jogador competitivo, jogador que consegue cumprir a função taticamente, para que o nosso individual apareça, para que o jogador que seja diferenciado tecnicamente, jogador de drible, para que ele consiga desenvolver o jogo dele com naturalidade e com muita liberdade, que é o mais importante na hora de ter a bola. Mas como falei, sem a bola, não abro mão da equipe ser muito compactada defensivamente, a gente usou muito isso contra a dupla Gre-Nal, e ter uma transição forte de velocidade para aproveitar os momentos de vulnerabilidade do adversário. Mas, de novo, sem perder a nossa essência, sem perder o nosso estilo de jogo, que é tentar ter a bola e ser uma equipe com o DNA jaconero, que em toda a base aqui, a gente passa muito para os atletas a questão do comprometimento e da competitividade. A geração de agora é diferente das anteriores, é mais imediatista, que quer muito resultado. Para quem trabalha na formação, não tem como a gente não pensar no longo prazo, tu vai colher lá na frente. Todo meu desenvolvimento do trabalho envolve questões extracampo… O atleta hoje em dia ele precisa gostar de treinar, ele precisa ter disciplina, ele precisa cumprir meta, ele precisa cumprir horário, ele precisa performar. É um trabalho de construção diária, dentro e fora do campo.”
Ascensão para a categoria Sub-17
“O título do ano passado (campeão gaúcho da categoria Sub-15) certamente foi importante para a minha subida. A gente sabe que existem os interesses do clube. O foco sempre no desenvolvimento individual dos atletas. Mas vencer é sempre importante. A nossa campanha ano passado chamou atenção, foram sete jogos com sete vitórias na primeira fase. Na semifinal, nós vencemos os dois jogos contra o Inter, vencemos fora e vencemos em casa. Na final, encaramos o Grêmio, a geração 2008 do Grêmio é uma das melhores do país, eles tinham cinco atletas titulares da seleção brasileira. E a gente venceu lá na casa deles por 1 a 0, e depois empatamos em casa em 1 a 1. Realmente, isso chamou muita atenção. Fomos a primeira equipe na história a ganhar um Gauchão de maneira invicta e vencendo a dupla Gre-Nal. Isso nunca tinha acontecido, em nenhuma categoria. A gente sabia que o desafio este ano seria gigante, e muito difícil repetir. Até porque tivemos uma transição muito grande no início do ano, muitos atletas saíram durante o ano, alguns retornaram de empréstimo. Demoramos até encorpar o trabalho, porque a Sub-17 abrange as duas categorias, a 16 e a 17. E tu precisa ter um olhar pra todo mundo.”
Planos para o futuro
“Tive duas propostas de clubes da Série A, e optei por ficar, porque acredito que o clube pode contribuir mais ainda, comigo, na minha formação… Talvez uma subida para a categoria Sub-20, mais ali na frente, já que hoje o Sub-20 está muito bem comandado pelo Filipe (Dias), que também é um cara aqui da casa, mas penso mais para frente em poder continuar o processo. E acredito que foi importante ter ficado aqui, acho que o clube ainda pode contribuir para mim, e acho que eu tenho a contribuir ainda na formação aqui dentro do clube. Mas, enfim, acredito que para o ano que vem a gente tenha uma expectativa grande, porque a gente se classificou para a Copa do Brasil Sub-17, e a gente também tem uma expectativa de aguardar a reta final do profissional, pois existe uma grande possibilidade de a gente estar entre os 20 melhores no ranking e jogar o Campeonato Brasileiro Sub-17 e o Sub-20 no ano que vem. Isso aumenta bastante o nosso calendário, e em termos de visibilidade, melhora muito para nós e para o clube, para os atletas, para todo mundo.”
Parceria com Nielsen
“Além de um parceiro profissional, o Nielsen é um amigo que eu tenho. Inclusive, ele foi meu aluno no Fera, nós trabalhamos um período juntos no Fera, que foi um período de muito aprendizado, trabalhei quase 10 anos no Fera, e ele também pôde se desenvolver, foi treinador e preparador de goleiro lá. E quando eu indiquei ele para cá, há dois anos, eu disse que estava indicando um cara que poderia trabalhar tanto no Sub-10 quanto no Sub-20. E ele foi uma peça fundamental no processo, porque é um baita profissional, inclusive ele subiu para o Sub-20 agora, já está de preparador de goleiros do Sub-20, devido ao trabalho que é feito. O Nielsen já está sendo um dos responsáveis por coordenar toda a parte individual dos goleiros do Sub-15 em diante, e fico muito feliz, porque ele é um cara que compra o trabalho, é um cara bom de dia a dia. Ele está colhendo os frutos do trabalho dele, e fico feliz, uma indicação que foi minha e que veio do Fera também, juntos já deixamos o nome na história do clube, pelo menos na base, e a gente espera continuar colhendo esses frutos, frutos de um trabalho feito com amor, com dedicação no dia a dia, mas nunca esquecendo da nossa origem, que foi em Montenegro. Sou muito grato ao Fábio e ao Da Páscoa que me oportunizaram, lá atrás, o meu primeiro trabalho, meu primeiro emprego com 18 anos.”