Jogador montenegrino vem tendo sua primeira experiência no futebol europeu
Depois de passagens rápidas por Londrina-PR e Petrolina-PE no último ano, o meio-campista Giancarlo Gonçalves, o Gian, de 25 anos, chamou a atenção dos dirigentes do Mosta FC, clube da primeira divisão de Malta. No segundo semestre de 2024, o jogador montenegrino arrumou as malas e embarcou rumo à Europa, para sua primeira experiência no futebol do Velho Continente.
As primeiras semanas em Malta foram desafiadoras para o atleta no que diz respeito à adaptação. Logo que chegou ao país situado na região central do Mediterrâneo, em agosto do ano passado, Gian precisou se ambientar ao fuso horário maltês, que tinha 5 horas de diferença para o Brasil (quando o relógio marcava 12h aqui, lá já era 17h) por conta do horário de verão. Agora, são quatro horas de diferença.
“Eu ficava acordado até tarde para poder falar com a minha filha, com meus pais, esperando eles chegarem em casa. Muitas vezes, o treino era pela manhã e eu ia treinar de virada por causa disso. Quando o treino acontecia à noite, eu ia dormir umas 6h da manhã aqui, dormia pouco e ia treinar. O corpo acabou acostumando, mas foi bem complicado”, relata.
Cinco meses após chegar em Malta, o atleta montenegrino afirma ter se adaptado aos horários, principalmente porque os treinos acontecem na parte da noite. “Estou conseguindo falar com eles e ir dormir em um horário bom. Posso ir dormir um pouco mais tarde e acordar mais tarde também, mas quando os treinos são de manhã, algumas vezes não consigo falar com eles ou dormir cedo”, pontua.
Em relação à comunicação, o meio-campista também teve dificuldade com o idioma local em alguns momentos, mas contou com a ajuda de jogadores brasileiros que atuam no Mosta, inclusive de outro jogador montenegrino – que deixou o clube recentemente – para compreender as instruções da comissão técnica.
“Os idiomas ‘oficiais’ daqui são o maltês e o inglês. Quando cheguei não falava muito, só o básico do básico, os outros brasileiros que me ajudavam a me comunicar, traduzindo as frases, principalmente o Cristian Gomes (montenegrino), que era do meu quarto. Andávamos sempre juntos. Fui aprendendo a falar, estudando, fazendo aulas particulares e assistindo a vídeos no YouTube. Comecei a me virar sozinho, não que eu seja fluente agora, mas consigo me virar”, salienta.
Gian enfatiza que a presença de outros jogadores brasileiros no clube (são quatro, além dele) foi fundamental para sua adaptação, tanto dentro, quanto fora de campo. “Facilita muito. Eles me ajudaram muito na adaptação. Ainda na questão da linguagem, o pessoal daqui mistura o idioma deles com o inglês, e complica ainda mais. Já deixei de fazer alguma coisa ou fazer errado nos treinos por conta disso, mas com o tempo fui aprendendo”, acrescenta.
A culinária local não caiu no gosto de Gian. Por conta disso, o atleta de 25 anos e outros companheiros do Brasil vão em restaurantes próximos para realizar as refeições. “É diferente, é uma comida gelada, carne e arroz gelados, não gostei muito, embora eu tenha comido só uma vez. Vamos em restaurantes que tem as comidas tradicionais, aqui tem bastante opções. Tem restaurantes brasileiros, italianos, japoneses, indianos, etc…”, frisa.
Treinos noturnos e marcação individual
As diferenças apontadas pelo meio-campista montenegrino, na comparação do Brasil com Malta, não ficam apenas fora das quatro linhas. Dentro de campo, o atleta também precisou se adaptar. No Brasil, a grande maioria dos clubes faz seus treinamentos durante o dia, pela manhã ou à tarde. No Mosta, as atividades são realizadas no turno da noite.
O motivo é o que mais chama atenção. “O pessoal daqui possui outros empregos, e eles trabalham durante o dia. Por isso, treinamos à noite. Tem um atleta que é corretor de imóveis, outro engenheiro, outro é dono de empresa, e por aí vai”, explica Gian.
Em seus primeiros meses no futebol maltês, o atleta da cidade também nota diferenças no estilo de jogo das equipes que disputam o campeonato local. “Eles gostam muito de fazer marcação individual o jogo todo, igual no futsal. Onde o jogador for, tu vai atrás. No Brasil, geralmente a gente marca assim em jogadas de bola parada (faltas e escanteios), aqui eles têm esse costume de marcar durante toda a partida. Se tu é zagueiro e o centroavante for lá na defesa dele, tu tem que ir atrás também”, ressalta.
Uma das regras do Campeonato Maltês é a obrigação de pelo menos três jogadores nascidos no país estarem em campo. Se um dos três se lesionar ou for expulso, outro maltês tem que entrar em campo (no caso da expulsão, o atleta de Malta tem que entrar no lugar de um estrangeiro.
Apesar das dificuldades na adaptação, Gian vem tendo protagonismo em seus primeiros meses no futebol europeu. Em 17 partidas disputadas pelo Mosta, o montenegrino, que atua com a camisa 10 do time, já marcou três gols e deu uma assistência. A equipe disputa a Premier League (primeira divisão do campeonato nacional) e a FA Trophy (copa nacional).
O meio-campista da cidade destaca os objetivos do Mosta na temporada. “Na Premier League é um time tradicionalmente de meio de tabela, já na FA Trophy a equipe briga para ganhar, porque são apenas cinco jogos, e já entramos na segunda fase da competição por sermos da primeira divisão. É um caminho mais curto para conseguir uma vaga na competição europeia (Conference League)”, finaliza.