Essas mulheres são a Lei no futebol de Montenegro

ÁRBITRAS nos clubes se impõem com respeito baseado na competência

No Dia 8 de Março é recorrente destacar o empoderamento das mulheres para romperem as fronteiras dos espaços de predominância masculina. Uma norma que se repetiu no esporte, onde as modalidades femininas conquistaram espaço na base do “jogo de corpo”, formando heroínas que servem de exemplo as novas gerações. Mas não há como controlar a curiosidade ao observar as árbitras que atuam nos campeonatos dos clubes em Montenegro, onde se impõem entre mais de 40 homens que jogam a cada rodada.

O grupo da empresa J.P. Eventos, de Porto Alegre, contratada para apitar os torneios, é formada por Zilmara Ramos Kerber, 39 anos e com 10 na J.P.; Camila de Lima Corrêa, 31 anos e 8 de J.P.; Eduarda Possenatto, “Duda”, 24 anos e 7 de J.P.; e Rozelaine dos Santos, “Rozy”, 35 anos e 5 de J.P.. Quem acompanha os jogos observa-as na mesa de arbitragem, desempenhando o fundamental trabalho de anotadora, sem se curvar para gritos e “cara de mau”. As mulheres da arbitragem são firmes e, acima de tudo, dominam as regras, ferramenta primordial através da qual têm garantia de respeito dos jogadores e técnicos.

“Fui uma das primeiras mulheres e trabalhar com a J.P.”, recorda Zilmara. Mas a trajetória das anotadoras neste universo começou muito mais cedo. “Eu tinha que fugir da minha mãe para ir jogar bola”, recordou Camila. Isso resume a história! Zilmara, Camila, Duda e Rosy jogavam bola nos campinhos de terra e rosetas pelos bairros de Montenegro, correndo atrás de bola e dividindo jogada com os guris.

Ainda hoje, ao menos duas delas vestem a camiseta de algum time, apesar do único campeonato para “elas” ser a copa no Sobrado, iniciada no último sábado. “Deus me livre na hora de voltar para casa”, comentou uma delas, enquanto aos risos recordavam da infância. “Não era coisa de guria”, completou Duda, dando assim ênfase à dificuldade que as mulheres enfrentaram para, simplesmente, praticar um esporte.

Desde menina jogam bola
Dos campos de terra para os de grama sintética, as árbitras viraram referência. Mais do que anotar, são responsáveis pelo pré-jogo, verificação dos grupos e escalações. Durante a partida, controlam as substituições e mantém a disciplina nos bancos e no espaço técnico da arbitragem. Inclusive, são gabaritadas para assumir o apito dentro de campo, sendo que Zilmara e Camila têm o curso de formação de Árbitros da Federação Gaúcha de Futebol Sete.

Árbitras são importantes na elaboração da súmula que conta a história do jogo

A punição prevista em regra está ao seu lado, mas também a qualidade do trabalho idôneo e imparcial. Mas, antes da merecida ascensão, Zilmara lembra que foi muito difícil ser a única mulher neste meio masculino. Ainda que faça questão de recordar das pioneiras Cristiane Guielcer e Márcia Gallas, que, todavia, já não estavam na arbitragem quando chegou. “Sempre acham que não entendemos das regras, e que vamos fraquejar”, menciona.

Todas concordam! A forma de pressão é através do teste de conhecimento, perguntando repetidamente a respeito de algum artigo do regulamento, esperando usar a contradição para condicionar sua arbitragem. A resposta das anotadoras é estarem atualizadas e com normas memorizadas.

Anotadoras formam a equipe de arbitragem e podem assumir o apito em campo
Mesa da Arbitragem é a área onde têm poder

Inspiração e representação
As árbitras afirmam que o respeito aumentou em 10 anos. “Quase sempre no final do jogo vêm e pedem desculpa”, afirma Rosy. As próprias jogam futebol e sabem que no calor da disputa os ânimos se exaltam. São raros os casos de tentiva de agressão física. Na verdade, acreditam que anotadores homens seriam mais suscetíveis a tomar um soco. Além do mais, ameaças, palavrões ou acusações são anotadas na súmula do jogo, levando à punição do atleta.

As “cantadas” são ainda mais raras. O fato é que ao longo do tempo, todos passaram a se conhecer, formaram amizades. Inclusive há esposos e familiares nos times, enquanto nas arquibancadas há esposas e filhos.

E por falar na torcida, Zilmara finaliza afirmando que hoje as anotadoras são inspiração. “A gente representa todas aquelas mulheres que estão ali no campo. Estamos mudando a estatística”, diz. As árbitras nos clubes de Montenegro são força e qualidade, em um mundo que já é delas.

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