Personagem ganha diferentes roupagens conforme seu intérprete
A pandemia do novo coronavírus ainda não terminou, mas o avanço da vacinação permitiu um abrandamento das medidas sanitárias de contenção do vírus. Isso significou não apenas uma retomada econômica e de demais atividades, mas também de reuniões familiares e confraternizações. E nessa época de final de ano, uma figura é sempre importante nesses encontros: o Papai Noel.
Se ano passado a figura do Bom Velhinho ficou um tanto distante, aparecendo apenas nas propagandas de TV ou visitando as famílias por meio de vídeochamas, em 2021 ela voltou a fica mais próxima. Há 17 anos personificando o Noel, Cláudio Gonçalves, 75 anos, viu sua agenda para a noite de Natal ficar cheia já no começo de dezembro. Além disso, ele também está fazendo visita em algumas escolas para as quais é convidado. “Ano passado fiz on-line”, recorda Cláudio sobre o momento vivido em 2020. Agora, ele poderá voltar a sentir todo o carinho recebido de crianças e adultos quando ele coloca a característica vestimenta vermelha. Mais do que isso, poderá ajudar a levar alegria para escolas e lares. “A alegria do fim do ano expande. É aquela alegria que, às vezes, está trancada o ano todo na família”, comenta.
Essa alegria extravasada vai além das crianças, que esperam ansiosamente para ter uma foto com o Bom Velhinho e – se foram boazinhas durante o ano – ganharem o seu presente. Ela contagia também os mais velhos. “Adulto tira fotografia com o Papai Noel. Na noite de Natal, senta no colo do Papai Noel. Tem que chegar na casa e fazer a festa de todo mundo”, diz Cláudio.
Mais do que isso, o Papai Noel também tem que estar preparado para ser bombardeado de perguntas. “Eles (as crianças) te perguntam, perguntam, perguntam, daqui a pouquinho tu não sabe mais responder. Não sei de onde eles tiram tanta pergunta. Mas é gostoso, é muito gostoso”, garante Cláudio.
O importante é que independente de barba real ou falsa, vestimenta mais ou menos aprontada e personificada por homem ou mulher, a figura do Papai Noel é sinônimo de alegria e boas memórias garantidas.
Ossos do ofício
Tradicionalmente retratado junto à neve, o Papai Noel no Brasil precisa se adaptar. Com as altas temperaturas de dezembro, Cláudio recorre com frequência à apenas uma camiseta vermelha ao invés do traje completo – que fica para ocasiões especiais. Para a noite de Natal, por exemplo, ele leva consigo mais do que uma jaqueta, já que o suor acaba tomando conta. Ao todo, Cláudio possui seis delas, todas feitas sob medida.
Para personificar o Bom Velhinho, Cláudio cultiva uma vasta barba. Os longos fios brancos dela chamam a atenção das crianças por onde ele passa, até mesmo quando está vestido com suas “roupas de civil”. Mesmo com máscara e escondendo parte da barba dentro da camiseta, ele
acaba sendo reconhecido como Papai Noel e precisa dar uma pouco de atenção para a criança que “descobriu” o Bom Velhinho ali “disfarçado”.
Apesar desses percalços, Cláudio, que começou a fazer as vezes de Bom Velhinho como brincadeira em casa, diz que personificar o Papai Noel é algo que vicia. “Isso é coisa, assim, que tu não larga”, garante. Além disso, é algo que marca a vida das pessoas: segundo Cláudio são diversos os casos onde pais chegam até ele com um criança para pedir uma foto e comentam que quando pequenos também fizeram foto com ele.
Um Papai Noel que traz risadas
A figura do senhor com barba e cabelos brancos vestido com calças, jaqueta e gorro vermelhos traz diferentes significados. Há quem logo pense em presentes, outros o veem como um símbolo comercial e tem, ainda, quem fique com medo da figura. Diferente disso tudo vem a proposta de Cândida Angeli Kerber, a Tuti, de 41 anos. Quando a artista personifica o Bom Velhinho, a diversão é garantida.
“O Noel é uma figura muito carismática dessa época do ano e eu trago junto também uma energia do palhaço. Não é um Noel sério, é um Noel que dança com as pessoas, é um Noel que brinca com as crianças, que, se precisar, joga futebol e carrega alguém no colo”, explica. Essa personificação diferente ocorreu em diversas residências para as quais Tuti foi contratada em 2019 e, após uma pausa em 2020 por conta da pandemia, voltou em 2021 por meio do projeto Kombi Natalina.
Para Tuti, o fato de ela ser mulher não é um impedimento para personificar o Bom Velhinho. “Por que eu? Porque eu faço parte da equipe (da Kombi Natalina), porque eu gosto deste trabalho, porque me deixa feliz e muitas pessoas aqui no interior me conhecem, então elas já dão risadas quando veem que sou eu”, afirma. Ela ressalta que as crianças também ficam encantadas pela sua personificação.
Segundo a artista, a aceitação para com o seu Papai Noel e o projeto da Kombi Natalina foi bastante legal. “As pessoas nos veem e elas têm, às vezes, um pouco de estranhamento misturado com encantamento e daqui a pouco elas se entregam para a brincadeira”, comenta. Tuti destaca o caso de Maratá, por onde a Kombi Natalina passou pelas comunidades do interior dando um foco maior aos idosos. A atriz reforça que o grande objetivo era fazer com que as pessoas se conectassem com as crianças que ainda vivem dentro delas e brincar um pouco com elas.