“Cada um bota um pouquinho” Natal de dificuldades e união na favela

com altas dos preços, famílias se unem para garantir a ceia. Esperança é de um ano melhor

A alta nos preços dos alimentos, provocada pela inflação, impacta de forma mais grave quem vive nas periferias. Kauana Wilbert, 24, moradora do bairro Estação, em Montenegro, é uma das centenas de pessoas na cidade que ainda são sabem o que terão na mesa para a ceia de Natal. “A verdade é que nesse Natal a gente nem sabe o que vai ter na ceia. A gente está esperando muito por doações”, relata.

O pedido por alimentos também foi o tema das cartinhas de Natal da maior parte das crianças da família de Kauana. No momento, o presente mais importante é garantir a comida na mesa. “Os alimentos já estavam bem caros antes do Natal, agora aumentou mais ainda. A gente, vem de uma família mais humilde, trabalha com materiais recicláveis e na bergamota, quando tem colheita, então a gente não tira muito”, destaca Kauana. O tradicional peru, presente na mesa de muitas famílias na ceia de Natal, não será a realidade da maior parte das pessoas que moram nas periferias. “A gente foi até pesquisar, mas um peru de Natal está na base de uns R$ 120, então com esse valor a gente prefere comprar uma cesta básica ou em alimentos. Para nós, comprar uma ceia de Natal vai ser difícil”, aponta Kauana.

Mesmo com a situação difícil, a família não desanima e planeja passar o Natal juntos, como todos os anos. “A gente sempre passa o Natal todo mundo junto, cada um traz um pouquinho. Um traz a salada, outro traz o pão, outro traz o refri, aí fica uma coisa grande. Como a família é bastante gente, cada um bota um pouquinho e então fica uma ceia melhor”, diz Kauana.

“A gente é muito sonhador”
Dona Elziara Wilbert, 47, mãe de Kauana, é o retrato de muitas mulheres que lutam pelo sustento de suas famílias nas periferias de Montenegro. Ela recorda das dificuldades para criar os filhos, e conta que nunca baixou a cabeça e continua até hoje uma pessoa sonhadora. “Trabalhei nove anos em uma fábrica de calçados em São José do Sul. Saía de madrugada com as crianças todas pequenas, levava eles para a escola e ficava o dia inteiro no serviço. Só vinha de noite”, relata.

Dona Elziara com a neta Isis

Atualmente desempregada e sobrevivendo apenas da reciclagem, Dona Elzira ganha, em média, R$ 300 por mês vendendo os materiais. “A reciclagem não está dando muito, porque tem muita gente na rua. Hoje eu saí era quatro [horas] da madrugada pra conseguir tirar alguma coisa”, diz a catadora. Com dois filhos ainda menores de idade, Davi e Milena, ela relata que o que lhe dá força são os jovens, que seguem estudando e cheios de sonhos. “Eu tenho dois estudantes em casa ainda, a minha guria inclusive vai se formar agora esse ano”, afirma dona Elzira, cheia de orgulho. Com a formatura da filha no ensino fundamental, ela diz que o que preocupa no próximo ano é como vai pagar o transporte para a jovem ir até a escola de ensino médio, que fica em outro bairro. Mas mesmo com as dificuldades, Dona Elzira persiste e afirma que, como sempre, a saída é não desistir. “Eu espero que o ano que vem seja melhor, que as crianças passem de ano, que vão em frente e que as coisas melhorem com essa pandemia”, destaca.

Para Kauana, a união da família foi fundamental para superar as dificuldades deste ano. “A gente é muito sonhador e ajuda uns aos outros. Quando faltou alguma coisa para alguém, sempre outro ajudava”, relata. Para ter um Natal mais tranquilo, a família espera também pela solidariedade da comunidade. “Nós estamos esperando muito por doações, assim como foi no ano passado, quando teve muita gente que ajudou o pessoal aqui da comunidade”, afirma. Para 2022, Kauana mantém vivos os sonhos e já planeja adquirir, junto com o esposo, um veículo para ir até Pareci Novo, onde trabalham na colheita da bergamota na época da safra. “A gente tem que fazer o que dá, tem que se virar, se ficar parado, piora. A esperança é que o próximo ano seja melhor”, declara.

Últimas Notícias

Destaques