Partidos sem dinheiro: Campanha gera poucos empregos

MENOS DE 40 pessoas foram contratadas para agitar bandeiras e distribuir panfletos

Até agora, a corrida pelos votos abriu apenas 38 vagas de empregos temporários em Montenegro. Os cabos eleitorais contratados por três das cinco candidaturas a prefeito estão há cerca de duas semanas nas esquinas, agitando bandeiras e distribuindo “santinhos”. Trabalham em troca de valores que giram em torno de R$ 70,00 por dia (geralmente sete horas) ou R$ 50,00 para “meio turno” (cinco horas). O número ainda pode crescer um pouco na “reta final” da disputa, mas será muito menor do que os 317 autorizados pela legislação para cada chapa majoritária.

Se a quantidade de pessoas ganhando um “extra” com as eleições é pequeno, a culpa é da falta de dinheiro. A Justiça Eleitoral definiu o teto de gastos em R$ 548 mil, mas a coligação que conquistou mais recursos até agora, a de Kadu Müller, soma menos de 20% desse montante: R$ 100.140,00. A menor arrecadação declarada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) é a de Percival de Oliveira, com apenas R$ 6 mil.

No ranking das contratações, por outro lado, a ordem é exatamente inversa. Percival está na dianteira, com 15 cabos eleitorais pagos, e Kadu ocupa a terceira posição, com nove. Entre os dois, Gustavo Zanatta tem 14, “colado” no líder. O tucano Márcio Menezes não tem “funcionários” para pedir votos, assim como o petista Ricardo Kraemer, que aposta na força da militância para divulgar as suas propostas.

Desde que a legislação eleitoral proibiu as doações por empresas, os políticos enfrentam sérias dificuldades para alcançar o eleitor. Neste pleito, a situação ficou ainda mais difícil em virtude da pandemia, que impede as aglomerações típicas das caminhadas e dos comícios. A alternativa tem sido as redes sociais, mas ninguém sabe dizer, com convicção, até que ponto ferramentas como Facebook, Instagran e Whats app são eficazes no garimpo de votos.

Marcelo Silva, coordenador da campanha de Percival de Oliveira, afirma que teria mais pessoas nas ruas se houvesse recursos. “Estamos aguardando repasses do partido e, se chegarem, talvez a gente amplie a equipe ainda”, explica. O mesmo afirmam Fabiano Zanette, um dos líderes do time de Kadu Müller; e Sílvio Kael, responsável pelo marketing de Gustavo Zanatta. Já o candidato Márcio Menezes acha que dificilmente haverá recursos para contratar. “Talvez, nos últimos dez dias”, comenta. Já Cláudio Tenório, do PT, discorda desta forma de fazer política. “Nós nunca tivemos cabos eleitorais pagos e não teremos agora”, garante.

Dinheiro ajuda muito

Angela Maria Mendes, 38, achou no serviço de cabo eleitoral uma saída para seguir colocando o pão na mesa da família. Ela conta que conseguir emprego está difícil e não é de hoje. “Eu estou à procura de alguma coisa desde bem antes das eleições e até da pandemia”, pontua. Angela acredita que o fato de ser negra influencia no tratamento na hora da busca por emprego, já que tem alguns cursos concluídos. “O pessoal daqui é muito racista, trata a gente que nem bicho”, afirma a panfleteadora.

Solteira e com duas filhas para criar, uma de 7 anos e outra de 16, Angela comenta que apenas o trabalho informal, os chamados “bicos”, não eram o suficientes para manter sua família. A saída foi recorrer ao comitê de um dos candidatos a prefeito de Montenegro neste ano. “Fui até lá, expliquei toda a minha situação e consegui a vaga. Está sendo muito bom para mim, é um alívio”, finaliza.

Já Valquíria Regina Pinheiro, 55, está acostumada com o trabalho temporário em época de campanha e o encara como uma espécie de hobbie. “Eu faço isso todos os anos de eleição. Gosto de lidar e de falar com o público e também gosto de política. Sem contar que também gosto de trabalhos temporários, que não me prendam muito”, salienta.
Por outro lado, Valquíria é pragmática: o dinheiro também importa. “Nesse momento, qualquer dinheirinho é bem vindo. Eu gosto, mas de graça não faria”, assegura.

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