Visita de Nossa Senhora mantém viva tradição das capelinhas

De mãos em mãos, o costume atravessa gerações em uma corrente de amor e devoção a Virgem Maria

Diariamente, dezenas de famílias montenegrinas recebem uma vista especial. De modo silencioso, ela entra nas casas pelas mãos de pessoas devotas e voluntárias. Na maioria das vezes, já tem seu lugar reservado na cozinha ou na sala, e a visitação não é rápida — fica 24 horas. Em cada residência, a imagem é regada de flores e doações, no entanto, ela chega para oferecer e não espera nada em troca, a não ser zelo e proteção. Essa visitante ilustre é a capelinha, que abriga a imagem de diferentes representações de Nossa Senhora.

Só na Paróquia São João Batista, – uma das 30 espalhadas pela Diocese de Montenegro – são cerca de 130 capelinhas (também chamadas de oratório).

Elas mantêm viva uma tradição que atravessa gerações. “Apesar do tempo, essa prática ainda está muito presente dentro das comunidades, e muito disso se deve às famílias, dessa forma, se você encontra um pai ou uma mãe que já tinha esse costume, normalmente é passado para os filhos”, explica a zeladora de capelinha Maria Josefa Cardoso Kirchhof.

“Lá na minha cidade natal [Rosário do Sul], em 1954 minha mãe já recebia o oratório de Nossa Senhora e quando mudei para Montenegro logo fui convidada a ter um. Lembro que falei com uma Irmã e ela me orientou a procurar famílias próximas da minha residência e, assim, colocar uma capelinha para que eu pudesse cuidar”, destaca Josefa, moradora do bairro Progresso.

De acordo com os costumes católicos, cada zeladora pode ficar responsável por até 30 casas, possibilitando que a santinha visite as famílias mensalmente. Em cada visita o objetivo é sempre o mesmo: proporcionar um momento de oração e fortalecimento da fé que vive em cada pessoa.

“Às vezes você tem uma vizinha e nem diz ‘bom dia’ e compartilhando o oratório é possível ter uma integração maior, é uma espécie de corrente de amor à Nossa Senhora, já que somos todos filhos dela”, relata a zeladora, destacando que pessoas de outras religiões também se oferecem para receber a capelinha na comunidade onde moram.

Para que as famílias possam receber a visita da santinha, a coordenadora de capelinha da Igreja Matriz, Maria Elisabet Schneider, explica que o oratório é confeccionado e cedido pela própria paróquia, sempre com imagens de diferentes representações de Nossa Senhora, como Nossa Senhora de Lurdes, Nossa Senhora das Graças, entre outras formas conhecidas ao redor do mundo.

“São vários nomes porque depende do local onde ela apareceu, mas trata-se da mesma divindade, ou seja, a mãe de Jesus. Trazendo para nossa realidade, às vezes acontece de uma comunidade ter preferência por uma determinada imagem, então fazemos de tudo para entregar a capelinha conforme a devoção de cada local, mas é a mesma santa”, salienta Elisabet, que dedica sua vida à tradição católica há 30 anos.

Compromisso com o cuidado dos oratórios
Por ter uma estrutura de madeira e por passar pelas mãos de dezenas de pessoas, é recomendado alguns cuidados especiais com as capelinhas, como por exemplo, evitar o uso de velas muito próximas ao oratório. “Por conta do calor, isso pode danificar o material”, enfatiza Maria Josefa Cardoso Kirchhof.
Outro ponto importante destacado pela zeladora é a responsabilidade de cada família com roteiro das capelinhas. “Às vezes ela fica meio perdida porque alguém vai para a praia, por exemplo, e deixa a santinha parada, é nesse momento que entra o papel da zeladora, que deve telefonar para as famílias que recebem o oratório e descobrir onde ele ficou”, completa Josefa.

Sábado, Dia de Nossa Senhora
Segundo a tradição, a Igreja dedicou o Sábado a Nossa Senhora pelo fato de ter sido no primeiro Sábado Santo que ela viveu sem ter Jesus vivo. Assim, esse dia foi considerado um marco da solidão, do deserto, da morte e do luto. Para viver esta experiência de fé da Virgem Maria, a Igreja, desde cedo passou a consagrar o sábado à sua devoção.

Amor e devoção
Quando os devotos não chegam à igreja, a igreja vai aos devotos. É o que explica Maria Elisabet Schneider, que trabalha voluntariamente buscando pessoas interessadas a compartilhar as capelinhas dentro do seu bairro. “Nós buscamos de porta em porta, e quando alguém aceita, essa pessoa passa a ser a zeladora da capelinha e se responsabiliza pelo rodízio da santinha dentro da comunidade”, explicou Elisabet.

Maria Josefa Cardoso Kerchhof e Maria Elisabet Schneider demonstram devoção à Nossa Senhora

“Para o controle, a Paróquia possui o nome, bairro e número onde a capelinha está locada, além disso, a pessoa recebe um devocionário com orações para chegada e saída da Nossa Senhora”, completa a zeladora.

Na estrutura de cada capela há um local onde são depositadas doações espontâneas. Todo valor arrecado é destinado ao seminário para formação de candidatos ao Ministério, os chamados seminaristas.

“É compromisso da Igreja marcar presença em todas as realidades”
Na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, está acontecendo a Visita Pastoral do Bispo diocesano Dom Carlos Romulo que, por tempo determinado, realiza visitas às

Além do Padre Ricardo Nienov, a presença do Bispo Dom Carlos Romulo chamou atenção da comunidade

comunidades, às famílias, grupos, movimentos, setores paroquiais e instituições públicas. De acordo com o Pe. Ricardo Nienov, essa vista é uma forma de o sacerdote conhecer a realidade paroquial e, além disso, confirmar o trabalho que está sendo realizado nesta comunidade.

Entre os bairros visitados, o Estação ganhou uma atenção especial por ter uma realidade bastante desafiadora no território da paróquia. “Esse bairro cresceu muito, há muitos moradores e também há bastante dificuldade”, explica o Padre. “É compromisso da Igreja marcar presença em todas as realidades, sobretudo, as mais frágeis. Neste bairro a Igreja tem a presença da pastoral da criança que faz um belíssimo trabalho com as crianças de 0 a 6 anos em famílias carentes”.

Realizada na casa de uma moradora no bairro Estação, a missa com a presença do
bispo contou com a presença de mais de 20 pessoas

Com objetivo de aproximar a Igreja do povo, na 4ª quinta-feira de cada mês é realizada uma missa na casa de uma família, a da autônoma Roberta Martins Pires. Na última, ocorrida no dia 26 de março, a celebração foi ainda mais especial. “Essa é a terceira vez que acontece, mas foi a primeira com a presença de um Bispo, todo mundo gostou muito e veio bastante gente”, comemora Roberta. “O ser humano está distante um do outro, e trazendo a religiosidade para dentro da comunidade isso pode ajudar, por isso, minha casa estará sempre aberta para eles.”

Saiba Mais
O Movimento das Capelinhas começou em 1888, no Equador, na cidade de Guayaquil. Quem iniciou o Movimento foi o Cônego José Maria Santistevan, da Congregação dos padres Claretianos que vendo, as dificuldades das famílias, o materialismo, a falta de fé entre os jovens, chegou à conclusão que a presença constante da Mãe de Jesus poderia ser uma solução. Começavam a nascer os principais objetivos do Movimento das Capelinhas: oração em família, diálogo e comunhão.

Não demorou muito e o movimento rapidamente espalhou-se pelo mundo, chegando ao Brasil na época da Primeira Guerra Mundial, em 1914, na cidade de Belo Horizonte, MG. Em Montenegro, foi a partir da iniciativa da Irmã Maria Enilda Dambroz que a tradição chegou no município.

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